quarta-feira, 13 de maio de 2009

SEM TÍTULO...


As auto-estradas passam a dezenas de quilómetros. O TGV é para Badajoz-Elvas. Nós estamos no buraco negro, do qual o Governo nem quer ouvir falar. De que valem os 40000 votos do distrito de Portalegre, comparados com Municípios como Barreiro, Seixal, Oeiras ou até juntas de freguesia como Benfica? De nada. Para sobreviver, não podemos contar com eles, teremos que olhar para nós próprios e valorizar aquilo que temos: O Património.

A maioria ou até a totalidade dos intervenientes deste blog, uns mais outros menos, são defensores da preservação do Património marvanense. Sem ofensa de V. Exas., considero-me um dos mais acérrimos neste apartado, e garanto que posso estar horas a fio, de boca aberta, a ouvir falar quem sabe sobre isto, como por exemplo, o Dr. Caldeira Martins ou o Professor Jorge Oliveira, duas das pessoas a que, só por esse facto, tenho uma admiração e um carinho muito especiais.

Deve haver aproximadamente duas décadas alguém resolveu construir uma estrada que fazia muita falta. Santo António - Relva – Monte Baixo – Galegos. De aplaudir, atendendo ao serviço que prestou e presta às populações. O que não posso compreender é porque é que este traçado teve que destruir as passadeiras da Mãe Velha. Alguns anos mais tarde, por força de um pontão, desapareceram as passadeiras do Ribeiro de Chouriço.

Há cerca de um mês, aquando de um passeio organizado por esta casa, passei no Monte Baixo. Fiquei pior que fulo, quando dei conta que, sem passar cartucho à Junta de Freguesia e muito menos à Câmara, a EDP, para colocar um poste que passará a sua vida a dar luz para ninguém, pura e simplesmente arrancou as passadeiras existentes no local e amontoou aquelas pedras repletas da nossa história, à beira do ribeiro dos Galegos. Não há palavras para descrever isto. Apetece ir à luta armada.

Aqui eram as passadeiras, as pedras foram removidas para colocar aquele postezito



Por aquelas pedras passaram mouros e romanos. Por aquelas pedras passou, possivelmente D. Manuel I, quando foi a Valência de Alcântara desposar a filha dos Reis Católicos. Por ali terão passado centenas ou milhares de judeus quando foram expulsos de Castela e se refugiaram no nosso país. Por ali passaram milhares de cargas dos nossos contrabandistas, quando a força das cheias não permitia cruzar o rio de outra forma. Por ali passaram os nossos bisavós, avós e pais quando iam à Fontanheira buscar uma migana, um quilo de bacalhau ou umas botas cegarra.

E agora, com uma simples pazada de retroescavadora, fundem-nos parte da nossa história.

Não me conformo, Faça-se justiça. Reponham-se as passadeiras no seu lugar.


(Desculpem as mudanças de letra, mas já não há paciência ...)

4 comentários:

Bonito disse...

Assino por baixo!

Não podemos perder o que é genuíno, o que nos distingue… porque isso é que fará a diferença num país em que um centro comercial é visitado por 500.000 pessoas (meio milhão!; um em cada vinte portugueses!) em meia dúzia de dias após a inauguração!!!

zira disse...

Dá vontade de enviar para "o Nós por cá".Como é possivel ter tanta insensibilidade perante o que são "as raízes" dos habitantes? Tenho estranhado a sua ausência pela acutilância e observação dos seus posts.Pensei que a filhota
tivesse usurpada o PC.BEM VINDO.

Alzira Sobreiro

Garraio disse...

Muito obrigado pelo seu comentário, D. Alzira.

Sabe, às vezes, tenho que deixar passar algum tempo antes de escrever sobre coisas que me revoltam, para não correr o risco do lápis estar demasiado "aguçado".

Ele até há ocasiões em que a escrita mordaz e brincalhona também é mal interpretada. Vá-se lá perceber este mundo...

mais1 disse...

São sinais dos tempos de hoje.O património, a história e os valores culturais deram lugar à estupidez funcional. É o chamado SIMPLEX. (Três em um.)