quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

PORTUGAL dos pequeninos…

OPINIÃO

Ao iniciar este Post, bem sei que, irão muitos dos nossos visitantes pensar, ou mesmo desabafar: “Quem nos dera a nós…, pois ainda estamos pior!”

Quero também desde já dizer, que nada tenho contra as outras “classes”, aqui citadas como estando em melhores situações de carreira profissional, e que tenho todo o respeito por aqueles que ainda estão em pior situação.

A temática que hoje aqui me trás nesta reflexão, são os Enfermeiros, a Carreira de Enfermagem e a situação de desigualdade e injustiça a que tem estado sujeita nos últimos anos, face a outras profissões congéneres, mas bem mais mediáticas, reivindicativas e, certamente, mais reconhecidas socialmente.

Convém também afirmar, que os Enfermeiros (profissão de grande desgaste) são, em todos os inquéritos, reconhecidos pela população portuguesa, como profissionais de maior confiança, habitualmente só superados pelos Pilotos de Aviação, Bombeiros e Farmacêuticos “ (o estudo «Marcas de Confiança 2005», desenvolvido a nível europeu para avaliar os níveis de confiança relativamente às instituições, profissões e marcas, revela os pilotos de aviação (92,4 por cento) são a profissão em que os portugueses mais confiam seguido dos bombeiros (92 por cento), farmacêuticos (88 por cento), enfermeiros (86 por cento) e médicos (80 por cento)”.

Convém ainda, dar a conhecer que desde 1991 os Enfermeiros começaram a adquirir as suas Licenciaturas. Primeiro através de habilitações próprias à medida que iam fazendo os seus Cursos de Especialização, depois, através de Cursos de Complemento (como os Professores) e que, actualmente, cerca de 95% dos Enfermeiros possuem o Grau de Licenciados.

Durante estes 20 anos em que foram adquirindo a Licenciatura, nunca os Enfermeiros tiveram qualquer retribuição salarial por isso. Por exemplo os Professores, que fizeram um percurso académico idêntico, assim que iam adquirindo a Licenciatura, consecutivamente, passavam a ser remunerados como tal.


Posta esta pequena introdução, cabe então questionar, porque têm agendado os Enfermeiros 3 dias de Greve, para os dias 27, 28 e 29 de Janeiro? E porque razão não falam os “meios de informação” em tal coisa, preferindo bombardear-nos, até à exaustão, com problemas de outras profissões, que já conseguiram há mais de 10 anos aquilo que os Enfermeiros agora reivindicam?

Poderá ser por várias razões: porque somos poucos (cerca de 30 000), porque somos conhecidos como “licenciados de segunda”, porque não nos pomos em bicos de pés como outros, porque somos submissos, porque não ofendemos a ministra com “slogans” vergonhosos, porque mesmo em situações de greve mantemos os serviços básicos a funcionar, porque temos “representantes dóceis” e não andam nas cúpulas dos partidos políticos, etc., etc.

O facto é que a Carreira dos nossos parceiros Médicos, que começaram a sua negociação algum tempo depois de nós, está aprovada, sem luta e com todo o reconhecimento; os Professores, poupem-me a mais tempo de antena; e os Enfermeiros têm que usar a última alternativa, a GREVE (em que aqueles que menos culpa têm, serão os vitimados - os utentes), para conseguirem o quê?

Ser apenas e só reconhecidos e remunerados como Técnicos Superiores, como o são todos os outros Licenciados.

Todos os Licenciados iniciam a sua Carreira na Administração Pública, com um salário superior a 1 200 Euros, pois a Sra. Ministra, quer que os Enfermeiros iniciem com 945 Euros…, sendo este valor inferior ao de início da actual Carreira Técnica.

Dá como desculpa a Sra. Ministra, apesar de reconhecer que os Enfermeiros têm razão, o facto do Sr. Ministro das Finanças dizer que não tem dinheiro, porque vai ter que o transferir para o Ministério da Educação, por causa do novo acordo da outra Sra. Ministra da respectiva pasta.

E então, os Enfermeiros que se aguentem, porque já o vêm fazendo há 15 anos… Ou como diriam os “anarquistas” nos anos 70: “Os ricos (enfermeiros) que paguem a crise”!

Mas não me parece que esta contribuição (injustiça), sirva para tapar algum “buraco”, nem mesmo que ele fosse muito pequenino.

TA: Nada tenho contra a situação dos Professores. Se aqui os cito, é apenas por terem feito uma Carreira paralela à de Enfermagem, e que nesta situação, foram justamente, reconhecidos, e ainda bem. É exactamente essa a reivindicação dos Enfermeiros, haja bom senso.

8 comentários:

manel disse...

Eu diria assim:
As empresas deste País não podem nem pagar um cêntimo a mais, e já pagam tanto que não podem pagar aos seus licenciados nem sequer 750euros limpos, quanto mais 945 em início de carreira.
O probelma não é ganhar-se muito ou pouco, mas sim de onde é que vem o dinheiro e, que eu saiba, vem fundamentalmente das empresas que pagam impostos e que não aguentam mais.
Por isso o País está de tanga, e só os funcionários públicos parecem não o entender.
Desculpem-me a frontalidade mas há gente a ganhar demais e por isso há outros a ganhar de menos.
E não, não quero as pessoas a ganhar menos, pelo contrário, quero é que ganhem mais, mas para isso é preciso pôr pelo menos metade dos funcionários públicos a produzir em empresas privadas e assim há menos gasto com o estado e mais gente a prduzir fora do estado e só nesse dia poderá haver justiça social, ganhando um operário especializado o mesmo que ganha um sargento ou que ganha um professor.
... e quero lá eu saber se são ou não lic, quero é que sejam competentes e qwualificados e neste País estou farto de lic que nada sabem, são analfabetos e ignorantes, mais que muito operários.
Cada um tem de receber pelo que produz, não pq é lic ou pq tem uma profissão mais prestigiada que outro, pq um juiz não é mais importante que um professor, como um médico não é mais importante que enfermeiro; têm funções diferentes e graus de responsabilidade diferentes, a que também devem corresponder diferentes escalões remunerat+orios, mas não com o leque salarial aberrante deste País em que uns ganham 10 vezes mais que outros, e, é preciso diz~e-lo, os profissionais de saúde saõ demasiado bem remunrados no contexto do País, onde tratamentos como a hemodiálise cista muito mais que noutros países pq a máfia está montada.
desculpe-me o amigo Bugalhão, percebo o seu ponto de vista mas vejo-o como profundamente sectário, desfasado da realidade e nada solidário num momento de tão grave crise que só quem não paga salários ao fim do mês parece não entender.

João, disse...

Meu caro Manel, por norma, não costumo responder a quem pensa diferente de mim. Mas pela simpatia que tenho para consigo, e pelo apreço que tenho pelo trabalho que desenvolve, vou ter que lhe responder e contraditar.

Sabe que em parte, em algumas coisas que afirma, estou de acordo consigo, nomeadamente, no que toca a diminuição de despesas na Administração Pública, aumento da produtividade e qualidade de desempenho. E sei também, que o meu amigo diria o mesmo, se o aqui fosse tratado, fosse em relação a outros profissionais.

Mas o que chamo a sua atenção, é para o que já ouvi da boca de alguns representantes dos enfermeiros sobre esta situação (porque como sabe, não escrevi este artigo a pensar em mim. A mim essa injustiça já não me abrange…), que estão dispostos a contribuir para a resolução da crise, mas não isolados. Se há que cortar, que seja para todos.

Uma pergunta que lhe faço, é que dê exemplos, de quem são os profissionais da A. Pública, com formação idêntica aos enfermeiros, que tenham um regime remuneratório inferior.

Depois tenho que lhe dizer, que os enfermeiros não trabalham só na A. Publica, e os que aí trabalham, com um ordenado ilíquido de 945 euros, também não levam para casa 750. E que para ganharem 10 vezes mais que alguém, só se esse alguém ganhar apenas 95 euros/mês. Pode fazer contas.

Uma outra questão que lhe ponho, é se com esses seus sentimento de justiça distributiva, se está de acordo, que os outros profissionais, com formação idêntica, ganhem, em média, mais 300 euros que os enfermeiros.

E por fim, no que toca a produtividade, basta que o meu amigo, como jornalista, se meta um dia numa dessas “carrinhas” de visitação domiciliária ou num serviço de medicina, e observe o “trabalho” dos enfermeiros, e talvez venha a mudar de opinião.

Aliás, daria uma boa peça jornalística. Mas pois, os enfermeiros e a enfermagem não vendem jornais.

Um abraço: jbuga

manel disse...

Caro Bugalhão
por acaso até tenho debatido este caso com uma jovem enfermeira, acabadinha de formar e excelente aluna, para além de excelente pessoas, que é a minha querida afilhada, a pessoa que mais adora a seguir aos meus filhos.
E que eu acho que ganha bem demais, não em termos absolutos mas em termos relativos.
e que faz umas pernitas cá fora numas consultas e - até ela acha - que ganha dinheiro demais.
E o mesmo se passa com o namorado dela, acabadinho de sair da escola e a ganhar o que muitos outros licenciados não ganham anos depois de andar a dar o corpinho ao manifesto.
E também outra colega deles, namorada-noiva de um jornalista já quase senior (e meu colaborador tb), que trabalha num ocs de enorme tiragem mas que nem está ainda no "quadro" e ganha a recibo verde 750 aéreos.
Mas a miúda, pq é enfermeira, ganha o triplo dele mas não trabalha mais que ele. E é tão lic quanto ele.
O que lhe digo, Bugalhão, é que o problema deste país em que há portugueses de pelo menos duas categorias de trabalhadores - os que trabalham na iniciativa privada e os funcionários públicos -, para as mesmas funções e para as mesmas habilitações, há uns que ganham o dobro dos outros.
E porquê?
Pq os privados não conseguem - além dos monopolistas EDP e quejando, ou dos BCP's que todos pagamos - arranjar dinheiro para pagar melhor aos seus colaboradores, uma vez que o estado os suga para poder pagar aos seus próprios funcionários.
Velria a pena, isso sim, publicar umas brincadeiras sobre os que os funcionários públicos, eles próprios dizem de si e do que produzem nas suas instituições.
Claro que todos sabemos que nem tudo é igual em todo o lado, e reconhecemos que a saúde, como a educação, a justiça e fisco não se comparam com outras realidades... mas não deixam de ser realidades.
Todos conhecemos os médicos que, somado o horário, dava 25 horas diárias.
E todos conhecemos muito mais do que isso.
Para concluir, o meu problemo, enquanto português, é que o meu País esta já à beira do abismo, porque não há volta a dar-lhe, e em vez de estimularmos a iniciativa privada para que se crie postos de trabalho e riqueza, e assim se paguem mais impostos que possam resultar numa melhor qualidade de vida colectiva, se faça precisamente o contrário. Afoga-se as empresas para tentar satisfazer as contas públicas e com isso impede-se a criação de riqueza.

manel disse...

Sabe, eu fui funcionário público duas vezes e dirigente numa empresa pública. de todas saí, não porque me mandassem embora mas porque o meu feitio não dá com esse tipo de organização.
Mas para os meus filhos, se calhar prefiro que sejam funcionários públicos, porque é melhor para eles.
É triste pensar assim, mas a realidade a isso nos obriga.
Quanto a fazer reportagens com enfermeiros, pelos quais tenho enorme respeito e consideração, peço-lhe que me faça a justiça de não pensar nem dizer que na nossa região os ocs são sensacionalistas e fazem o vende, porque isso é tremendamente injusto.
Pela minha parte lembro-me de um trabalho sobre o menino Zé do Hospital e mais recentemente sobre a menina Aurora (é verdade que não são de Marvão, mas foram de Alter), e ao longo de anos no FN (para não dar exemplo do AA), outros e eu sempre fizemos e escrevemos o mais possível sobre profissionais de saúde dedicados, entre eles enfermiros. E ainda esta semana já escrevi sobre uma auxiliar de enfermagem.
O que eu não acho normal é que um professor primário - profissão pela qual tenho o maior respeito do mundo - ganhe mais que um presidente de Câmara.
Isto não faz sentido, como não faz sentido que no distrito de portalegre em situação de pré-guerra civil a GNR tivesse um capitão, tr~es ou quatro sargente, uma dúzia de cabos e talvez uns 200 homens e hoje tenha não sei quantos tenentes-coronéis, majores que não sei quantos, sacos de capitães, contentores de sargentos e mais 600 guardas.
Desculpe, mas isto é um sorvedouro disparatado de dinheiro, e por isso o dinheiro não pode chegar porque só vem dum sítio - da iniciativa privada, que tem de alimentar tudo.
Ora se você afoga a receita e aumenta a despesa, explique-me comoé possível arranjar mais dinheiro?
eu não conheço o segredo, mas se mo ensinar fico grato.
Abraço. E vou visitar o seu blogue.

Isabel I disse...

E quem é pequenino é que se põe em bicos dos pés.

Garraio disse...

Conclusão: só temos fartura daquilo que não nos faz falta nenhuma, já que a guerra civil, essa, parece não estar ao virar da esquina.

Salvador disse...

Coitadinhos do enfermeiros! Coitadinhos dos professores! Enfim... Se tivessem que dar ao litro a sério no privado talvez talvez dessem mais valor ao que têm e se deixassem de lamentar pelo que não têm...

Garraio disse...

Não sei quem é o Salvador, mas também não é por isso que vou deixar de lhe dar alguma razão.


Ele há choradeiras, que no contexto actual, não ficam lá muito bem, não...