quinta-feira, 24 de julho de 2008

PRIMEIRA PÁGINA


A exemplo do Comentário do José Boto, há umas semanas atrás, e tal como fez na altura o Bonito, não resisto a por em “Em Primeira Página”, o Comentário feito pelo Victor, ao Post do Garraio sobre “Cirurgia ou Vacina”, para combater algum Caciquismo existente.

Penso que tal se justifica, pois para além da temática sensível a que se refere, “Política de Saúde no Concelho”, que me parece ser de muita coragem, sobre um assunto quase sempre ignorado, mas, que há muito tempo deveria, em minha opinião, ser assunto de PRIMEIRA PÁGINA.
Fica pois, para vossa reflexão o Comentário do Victor:
"Garraio, cirurgia, sem duvida e tomo a liberdade de falar sobre a Saúde no Concelho:
Se fala e escreve muito sobre os cuidados à saúde em Portugal e no mundo nos últimos tempos.
Além da literatura especializada sobre o tema, praticamente todos os dias, deparamo-nos com matérias em jornais, revistas, rádio, televisão e mesmo em conversas informais, sobre casos de pessoas que não foram atendidas, pessoas que morreram, tiveram sequelas pela falta de atendimento médico ou mesmo pessoas que foram mal atendidas, e, até as que foram atendidas e não tiveram os seus problemas resolvidos, mas é bem verdade que nem sempre se fala só do caos do sistema de saúde e dos absurdos que ocorrem em função dele.
Vários utentes do Concelho, acometidos de doenças inesperadas e indeterminadas, têm-se dirigido ao S.A.P de Castelo de Vide, não só pela urgência que os casos implicavam, mas também porque o seu Médico de Família não estava na altura no Centro de Marvão.
O médico que estava de serviço em Castelo de Vide pura e simplesmente se recusou a observá-los, e sugeriu que procurasse o seu Médico de Família, explicando que o problema declarado não constituía caso de urgência, logo não os atendia, como não os atendeu, não obstante saber, que o colega indicado como Médico de Família, não se encontrava no Centro de Marvão, terminantemente manteve a recusa, com indicação à administrativa, que não fizesse a inscrição aos utentes do Concelho de Marvão, e que como alternativa se dirigissem ao Hospital de Portalegre.
Reclamaram só duas pessoas, porquê?
Isto não deixa de ser um quadro paradoxal: grandes e incontestáveis avanços tecnológicos em benefício do ser humano, por um lado, e, por outro, uma sensação de crise permanente, com atendimento inadequado, insuficiente e, pior, oferecido sem equidade (como é no meu caso), em condições péssimas, com instalações degradadas e material obsoleto (basta visitar a Extensão de Galegos, que bem conheces)! Com uma falta total de investimento, quer nos recursos materiais, quer a nível dos utentes, sem transportes apropriados, com impedimentos físicos e com falta de acessibilidade (na extensão de Galegos há pessoas que andam até 5 quilómetros para ser consultados)!
Mas como se resolve isto? Encerrando as Extensões sem condições?

Sim, mas oferecendo outras alternativas aos nossos velhotes, como transportes apropriados, fornecidos pela Câmara de forma gratuita, e se não for possível adequando as instalações ao século XXI …
Porque depois, quando vêm as eleições autárquicas, aí vão os ditos, por vilas e aldeias dirigindo loas ao Poder Local, prometendo tudo a todos.

O Poder Local não é Lisboa como alguns julgam e defendem. O Poder Local, os cidadãos portugueses, os habitantes do concelho são muito mais do que aqueles que se julgam "iluminados”!
Vocês que podem, MUDEM ISTO.
As reflexões aqui contidas nada mais são do que uma tentativa de repensar a nossa postura como profissionais, como gente agradecida ao pessoal do Concelho.
Fazendo isso, inevitavelmente estaremos, mesmo que de forma indirecta, questionando uma série de outros assuntos bem actuais: o Sistema Nacional de Saúde, o trabalho médico, a cidadania, a democratização dos serviços de saúde para todos os utentes, e a forma de interacção desses com os seus usuários e vice-versa.
As palavras de Gregório Marañón (extraordinário médico e pensador) parecem as mais adequadas para colocar o ponto final: "Sentiria muito que alguém concluísse que sou desrespeitoso para com a Medicina em Portugal, e que sou pessimista sobre o seu presente ou seu futuro. Eu respeito a Medicina, porque a amo; e o amor é a fonte suprema do culto, no humano e no divino. Mas o amor é também, e deve ser, crítica. Somente quando esmiuçamos o objecto amado, retirando o que tem de deletério, acertamos a encontrar, lá no fundo, o que tem de imperecedouro. Aquele que fala valentemente dos defeitos da sua Pátria é o melhor patriota, e quem vai polindo com censuras justas sua profissão, esse é, quem a serve com toda plenitude”
24 de Julho de 2008 18:08"

6 comentários:

Garraio disse...

Cirurgia ou vacina? Deixei a questão no ar, mas estou completamente de acordo contigo, Víctor. E só tinha que estar. Se há pessoas com aval para falar deste assunto, uma delas és tu.

E como costumamos dizer os que, como nós os dois, andamos permanentemente aos saltos de um lado para o outro da raia, cirurgia bem feita “ es cortar por lo sano”.

Acabas de tocar um tema delicadíssimo, de uma importância tão grande, tão grande, que duvido que, presentemente, aqui possamos discutir outro que o seja mais. Várias vezes tive para o trazer à baila, mas ainda bem que não o fiz, já que quem sabe disto és tu.

Já me aconteceu várias vezes ir ao Centro de Saúde de Castelo de Vide. Por acaso, nunca se recusaram a atender-me, a mim ou a alguém doente que eu tenha levado. Porque se o fizessem, algum médico estaria de baixa uma temporada, garanto-te. E se calhar, eu ,“à sombra”. ;)

O cenário que descreves só pode existir no terceiro mundo. Mas é a nossa realidade. E as pessoas calam-se, e as pessoas consentem.

Costumamos culpar os políticos de tudo, mas, às vezes, não temos razão. São as pessoas que se têm que revoltar contra isto, e com esse protesto, legitimar o poder político na procura de soluções.

Lembro-me de uma manhã que passei a correr atrás de ti, para tratar de um assunto que agora não interessa e pude constatar as péssimas condições do consultório da Escusa, já para não falar no de Galegos, como referiste.

(Para quem não saiba, eu cá acho que quando grande parte dos médicos portugueses sai da cama, já o Victor fez quase meio dia de trabalho...)

Como é que isto pode mudar? Pacificamente não me parece possível.

AVARROES disse...

Excelente el post de Víctor.

Cuando llegue por primera vez a Portugal,nunca pude entender que pudieran existir tantas diferencias en las formas y modos de relaciones humanas, cruzando una linea imaginaria, con una distancia de apenas un km, habiendo intensos y frecuentes intercambios comerciales y sociales, que a lo largo de siglos de forma abierta o por las veredas se han establecido.

Un buen inicio de cambio seria derogar la Ley "O Senhor Doctor", y comenzar por "Miré Victor, desde hace dos días me viene sucediendo........".

Nunca conseguí que los Administrativos del C.S. de Marvao, abandonaran esa norma y me llamaran simplemente por mi nombre, un fracaso más en mi vida, de todas formas de todos/as tengo un gran recuerdo y mucho cariño !Un beso para ellas, y un gran abrazo para ellos!.

De los Responsables de la Sanidad en Portalegre, mejor no expresar opinión,de muy pocos conozco que se les recuerde por su labor, más bien son conocidos por otras cualidades, y eso que van a mejorar lo de su antecesor, !Díme de que presumes y te diré de que careces! Les preocupo más las peticiones de algún amigo médico con nombre de apóstol y apellido de abolengo portugués, que la salud de sus conciudadanos.

Me fue imposible entender que no existiese un punto de atención sanitaria las veinticuatro horas del día todos los días del año en ese C.S de Castelo de Vide, para toda la zona ,lugar que favorece la accesibilidad, teniendo en cuenta las características sociales, económicas y demográficas (grupos de edad avanzada) de la zona.

Garraio, conoces muy bien tu lugar natural de nacimiento (ya sabes somos ciudadanos del mundo, con patria donde nos quieren, cuidan y nos sentimos felices), pero son los políticos y sus gestores, los responsables iniciales y últimos de cuanto nos acontece, porque el comportamiento de las personas en muchas ocasiones, desgraciadamente la mayoría, está condicionada por el lenguaje subliminal del político, y difícilmente nos resulta revolvernos contra esos lenguajes.
El político con aspiración al ascenso carece de
empatía!, pero el político con empatía sufre, se angustia, y su primer pensamiento es abandono, y que les den.... !craso error, nunca recuerda las celebres frases de Bertol Brel1: Vinieron a por los judíos, pero como yo no era judío....!.

Espero que el Conçelho de Marvao, tenga todo lo que se merece, desarrollo económico, social, demográfico, !no en exceso por qué
es tan bonito, que el desarrollo sin control lo empobrece todo!.

Saludos a quienes conozco, y mi agradecimientos a los que me ayudaron ( ellos lo saben). Tengo a Marvao en mi corazón, y lo más bonito, en mis recuerdos.

Luis Tello.

João, disse...

Em minha opinião, muito boas estas 3 opiniões sobre política de saúde.
Infelizmente, parece que o tema, ao contrário do que seria de esperar, está ser pouco comentado, talvez estejamos a escrever sobre algo com pouco interesse na vida dos marvanenses…

Será?

Certamente todos saberão, que serei certamente, o profissional de saúde, vivo, que mais anos prestou cuidados por essas terras e, com certeza, algo de muito profundo teria para dizer acerca da temática, mas acho que ainda não chegou o tempo, e, por isso, me vou ficar apenas por uma análise mais superficial, mas séria.

Em primeiro lugar cumprimentar o Luís Tello, pela sua visita e pelo seu contributo para a causa.
Mais importante ainda, por ser alguém do outro lado da tal “linha imaginária”, que nos fala em castelhano (ena já somos lidos no estrangeiro), mas que origina atitudes e comportamentos pessoais, quase impossíveis de transpor.

Pois Luís, como já deve ter dado pelo facto, aqui no Fórum, objectivamente, já quase todos nós abolimos esse tratamento por “Dotôr”. Não por qualquer falta de consideração para com os visados, mas porque até agora, nunca se falou por aqui em ninguém que possa ostentar esse título (A não ser o Jorge Oliveira, mas esse agradece que a “gente” o trate assim). E essa “instituição” de tratar por esse título os Licenciados e Bacharéis, não cabe nos princípios cá da casa.
Não sei é se conseguimos influenciar o suficiente… estamos a tentar!

Quanto ao que fala sobre “saúde”, o meu amigo sabe o que penso sobre isso, mas para os outros, digo, que assino “quase por baixo”, o referido pelo Luís. Aliás, nunca percebi se era bom ou mau médico (trabalhámos pouco directamente), mas que era um profissional sério, lá isso era. Em minha opinião mais uma perda para o concelho de Marvão.

Ao Victor, mas o não menos importante, vou responder com uma “metráfora” (como diria o outro), e que deixo para reflexão de vós todos:

(PÁGINA 10, DE UM PROGRAMA ELEITORAL AUTÁRQUICO EM 2005)

“A saúde é um bem fundamental. Com a finalidade de contribuirmos para a melhoria da prestação de cuidados, propomo-nos participar activamente em colaboração com as entidades responsáveis do sector, nomeadamente:

- Dinamizar a Comissão Concelhia de Saúde em colaboração com todas as instituições de saúde e de acordo com a legislação em vigor. Este órgão consultivo terá como finalidade promover um espaço de diálogo entre os diversos prestadores de cuidados de saúde do concelho, com vista a promover uma efectiva política de saúde para Marvão.

- Criar incentivos para a fixação de técnicos de saúde, nomeadamente, médicos e enfermeiros.

- Colaborar na melhoria das instalações de atendimento em articulação com a entidade distrital de saúde, nomeadamente, a construção de uma nova Extensão de Saúde na freguesia de S. Salvador da Aramenha.

- Promover e negociar um horário de atendimento alargado, a exemplo de todos os concelhos do distrito de Portalegre, para dar resposta às necessidades da população do concelho de Marvão, nomeadamente, aos fins-de-semana e feriados.”

Quanto ao Garraio, deixo uma pergunta: Depois desta exposição, porque é que vais a Castelo de Vide e havias de querer bater naquela gente? Para bater, será preciso uma deslocação tão grande?
Olha que a gasolina está cara…

TA: Alvíssaras a quem adivinhar de que Partido era este Programa Eleitoral!

Um abraço

jbuga

victor disse...

Gracias Luís por tus comentários y refexiones , en las que demuestras que , al igual que yo , dejastes una parte de tu corazon en estas tierras abandonadas por todos los que por ellas algo pueden hacer, aunque te informo que dejastes “saudades” en buena parte de sus gentes.
Pero como dices , es dificil mudar algo en esta tierra, tan cerca y a la vez tan lejos de la nuestra y que han vivido de espaldas durante generaciones, comenzando como dices desde la costumbre de anteponer el titulo al nombre de cada uno (senhor doctor, senhora enfermeira ….), contra lo cual ya tuve mis luchas, y sin éxito ninguno , ya que es costoso mudar habitos de anos .
Necesitamos jente joven en el Concelho y dispuesta a trabajar, ya que tenemos casi 3.600 utentes inscritos en el Concelho , distribuidos en ocho extensiones ( la mayoria sin condiciones ) y con una edad muy avanzada, lo que significa un alto consumo de consultas medicas y tener que garantizar un acceso rapido a los cuidados de salud, garantizando ese acceso a los de menores recursos, principalmente a los que no tienen recurso algun , y tambien por asentar los cuidados primarios en su papel de atendimeinto inmediato o casi de la población.
Pero, no puede ser, al lado tenemos Castelo de Vide , con tres medicos, una población semejante , y con Servicio de Atendimiento Permanente durante 12 horas, y todavía , nosotros, los medicos de Marvao debemos ir a dar consultas al S.A.P, tirando horas que podian ser trabajadas en Marvão, y todavía , para que vayan nuestros pacientes y sean mal atendidos ,y a veces, ni atendidos.
Porque os nossos atentes se deslocam a Castelo de Vide e não ao contrario? .
Porque não se constrói o mencionado posto medico de São Salvador da Aramenha, que fica no ponto médio dos dois concelhos e e se centraliza o S.A.P para os concelhos de Castelo de Vide e Marvão? ( De C.Vide a São Salvador temos 7 kilometros , de Castelo de Vide a Marvão 13 km.)
Em quanto ao João Bugalhão , em primeiro lugar ,obrigado, e referir que em Portugal pelo que estou a perceber, os programas electorais estão para se imcumpridos , não só a nível nacional , mas também a nível local , como podemos verificar na promessa do programa eleitoral que mencionas-te
Os nossos doentes , não tem direito a transportes pagos para se deslocarem aos tratamentos em Portalegre,nem para realizar exames, nem para Fisioterapia , nem ….muitas coisas. Mas, sabem , o mesmo povo submisso não se queixa , não reclama porque tem medo das consequências, não seja que a próxima vez não seja bem atendido , os doentes, muitas vezes, são impedidos de ler o seu processo clínico. Mas porquê? e as vezes ,sem transportes, sem rede no telemóvel ( ou com a rede espanhola alterando a marcação ) fica em casa para morrer devagar.
È importante lembrar a Carta dos Direitos do Doente.
Vou apenas salientar alguns pontos dessa carta:
- O doente tem direito à prestação de cuidados continuados.
- O doente tem direito de acesso aos dados registados no seu processo clínico.
- O doente tem direito de, por si, ou por quem o represente, apresentar
reclamações/sugestões
Quando se fala de reformas, lembro-me sempre do episódio protagonizado, no início do século passado, por um professor muito conceituado, a quem perguntaram, publicamente, como deveria começar uma reforma da Saúde em España .(Já nesse tempo se falava em reforma da Saúde …)
“Exportando os profissionais todos”, respondeu, de imediato. E, depois duma breve pausa, preenchida pelo pesado silêncio dos seus ouvintes, acrescentou: Já agora, talvez não fosse má ideia, exportavam-se também …os doentes , será ?.......

Bonito disse...

Os médicos constituem, talvez, o maior movimento corporativo em Portugal. E, por isso, atendem, normalmente, os doentes com sobranceria, arrogância e altivez e “abusam”, constantemente, desse corporativismo não permitindo os avanços necessários no sector…

Neste cenário, o que estamos aqui a presenciar, agora, no Fórum parece irrealista. Não o é porque o(s) médico(s) que aqui fala(m) não é(são) Português(es).

E, assim, foram aqui ditas verdades que nos devem incomodar. Uma das que mais incomoda é a tranquilidade com que os utentes, sendo mal atendidos, não reclamam.

Há algumas semanas fui à urgência do hospital de Portalegre com a minha pequena. Em vez de sobranceria, arrogância e altivez encontrei amabilidade, atenção e simpatia no médico que a consultou.

Por coincidência (ou talvez não) era espanhol esse médico!


Grande Abraço
Bonito Dias

Garraio disse...

No país dos meus sonhos os médicos e as enfermeiras são espanholas.