terça-feira, 22 de julho de 2008

CACIQUES (1ª Parte)

Este Post é da autoria de António Garraio, que por dificuldades informáticas do seu PC, pediu a colaboração do Administrador Fórum Marvão para a sua publicação.

Intervenção cirúrgica ou vacina?

Os escassos pensantes que ainda poisam pelas ladeiras de Marvão, bem como os que de longe permanecem atentos às nossas graças e desgraças, convergem na evidência de que, por estas bandas, ou se tomam medidas profundas que alterem substancialmente o rumo da nossa vida, ou estamos condenados a um desaparecimento acelerado, quer populacional, quer institucional.

Amiúde ouvimos as mais variadas dissertações e modelos de desenvolvimento, que passam pela quase totalidade dos sectores económicos: uns defendem a agricultura biológica, outros requerem espaços para localização de novas indústrias, outros ainda, protestam contra a falta de incentivos e de divulgação mediática de que o turismo e a hotelaria carecem.

É possível que, com a concretização de algumas dessas ideias se alcance algo positivo, mas a verdadeira “doença” do concelho de Marvão é bastante mais profunda e mais grave. Esses pequenos projectos, normalmente até pouco ambiciosos, seriam uma espécie de “mercurocromo” que serve para sarar arranhões ou esfoladelas. E o nosso problema é bastante mais profundo, É por isso que necessitamos uma grande intervenção cirúrgica, ou então uma vacina.

Os canais que unem os diversos sectores do poder são como veias obstruídas por várias espécies de vírus que encontraram aqui o seu habitat, seja por carambola, seja por influência expressa de outros vírus mais antigos.

Quando há lugar a críticas, o mais fácil é fazer com que estas recaiam sobre a face visível do poder. O que se ignora, quase sempre, é que o incumprimento dos objectivos não se deve directamente aos criticados. Eles até tiveram as melhores intenções do mundo, intenções essas, que ficaram presas nas teias desses “vírus” que, sorrateiramente, se deslocam pelos seus corredores, e que, pela calada, acabam por tudo gerir e tudo manipular a seu bel-prazer. Só que, quem subiu ao patíbulo estava, de todo, inocente.
E isso não é justo...

Há uns anitos atrás, não me apetece lembrar quantos, Marvão fez uma transfusão. Na altura, sangue novo a jorrar na guelra, era ver os vírus, cobardes eles, a tremelicar detrás da cortina, como que, com o corpo já à espera da pancada, mais que merecida por certo.

Não foi a primeira vez que a montanha pariu um rato, e na verdade, também não foi desta que se fez justiça.

Mas quem disse que o mundo haveria de ser justo??? Todos sabemos que o mundo é dos oportunistas, dos manipuladores, dos graxistas e outras espécies nojentas que não ameaçam extinção.

Compete-nos aos “outros” não deixar viver essa canalha em paz.

Qual o remédio?

Mais que outra transfusão, propunha que, desta vez se aplicasse uma vacina.

Uma “vacina anti-caciques”. O que não sei calcular é a totalidade do preparado químico a aplicar, ainda que, se deva incluir qualquer coisita contra tráfico de influências, favorecimento pessoal, intercâmbio de favores e outros tipos de ligações perigosas que não é preciso escavar muito para trazer à luz do dia.

Aquilo que hoje é obtuso, pode ser, que amanhã… seja claro e evidente.

António Garraio, 22/7/2008

3 comentários:

João, disse...

Cirurgia ou Vacinação?

Amigo Garraio, como sabes, esta é uma “área” em que penso ter alguns conhecimentos. Poucos, comparando com outros “sabichões (nas)”, que por aí proliferam. No entanto, também tenho alguma opinião (e experiência), sobre a temática que aqui trouxeste a debate.

Em relação à “vacinação anti-caciques”, área em que me sinto mais à vontade (por ser um profissional da prevenção), sempre te digo que, alguns dos “preparados químicos” a que te referes, esses estão nas nossas mãos aqui no Fórum, aliás, é uma das suas finalidades nobres. Assim nós estejamos à altura do que uma “empresa” desta natureza exige.
Esperando que não apareça por aí nenhum daqueles “Laboratórios” poderosos, que apresente alguma “providência cautelar”, contra nós, como foi o caso, que aconteceu recentemente, com a vacina contra o cancro do colo do útero.

Só que meu amigo, nestas coisas da Prevenção Primária, os resultados são muito morosos. Às vezes o investimento demora anos, e não sei se Marvão poderá esperar tanto tempo.

Sendo assim, penso que o tratamento a essa praga terá de ser “cirúrgico” e de choque, nomeadamente, com as mesmas armas, que “eles” utilizam. Proponho um bom “cacete de castanho”, para utilizarmos materiais locais.

Penso ainda, que deveríamos realizar alguns estudos (fica sempre bem), quer de carácter qualitativo, quer quantitativo e bastante abrangentes, pois, tais “vírus”, proliferam com facilidade em todos os “meios”, revelam uma conduta oportunista e de fácil adaptação. O difícil é identificá-los e proceder ao se isolamento. Quando isolados, comportam-se como qualquer cobarde… metem o rabo entre as pernas e fogem o mais rápido possível.

No entanto, há provas do passado sobre a sua fácil “mutação”, pelo que, a criação de um”bom laboratório de estudo” é medida essencial.

Todo este Projecto deve ser envolvido em alguma filosofia.
Proponho o seguinte princípio para estas coisas, que encontrei numa quadra popular do Zeca Afonso, que diz:
“Oh i oh ai, disse-me um dia um careca/Oh i oh ai, quando uma cobra tem sede/Oh i oh ai, corta-lhe logo a cabeça/e encosta-a bem à parede…”

jbuga

Bonito disse...

Acredito que este post seja muito mais importante do que, há primeira vista, possa parecer. Mas, está tão encriptado que não é nada fácil de “desmontar”, sem se ter algumas passwords.

Estou, há algum tempo, para aqui a ler nas entrelinhas que até já me dói a cabeça!

Contudo, arrisco atirar uma “laracha”:

A vacina… é uma equipa de gestão forte e coesa, constituída por gente tecnicamente capaz e leal entre si. E que saiba montar uma hierarquia, com chefias intermédias, a quem possa responsabilizar. E depois é só trabalhar na formação, motivação e recompensa do mérito!

Simples, não? Dito assim, aqui no aconchego do sofá, até parece fácil!



Se calhar uns falamos em alhos e outros em bugalhos. É a vida…


Grade Abraço
Bonito Dias

victor disse...

Garraio , cirurgia , sem duvida e tomo a liberdade de falar sobre a Saúde no Concelho :
Se fala e escreve muito sobre os cuidados e à saúde em Portugal e no mundo nos últimos tempos. Além da literatura especializada sobre o tema, prácticamente todos os días deparamo-nos com matérias em jornais, revistas, rádio, televisão e mesmo em conversas informais, sobre casos de pessoas que não foram atendidas, pessoas que morreram, tiveram sequelas pela falta de atendimento médico ou mesmo pessoas que foram mal atendidas e até as que foram atendidas e não tiveram seus problemas resolvidos, mas é bem verdade que nem sempre se fala só do caos do sistema de saúde e dos absurdos que ocorrem em função dele.
Vários utentes do Concelho, acometidos de doenças inesperadas e indeterminadas, tem-se dirigido ao S.A.P de Castelo de Vide não só pela urgência que os casos implicavam, mas também porque o seu Médico de Família não estava na altura, no Centro, e o médico que estava ao serviço em Castelo de Vide pura e simplesmente se recusou a observá-los, e sugeriu que procurasse o seu Médico de Família, explicando que o problema declarado não constituía caso de urgência, logo não os atendia, como não os atendeu, e não obstante a saber que o colega indicado como Médico de Família não se encontrava no Centro, terminantemente manteve a recusa, com indicação á administrativa que não façam inscrição os utentes do Concelho de Marvão e que como alternativa se dirijam a o Hospital de Portalegre, e só reclamarem duas pessoas , porqué?
Isto não deixa de ser um quadro paradoxal: grandes e incontestáveis avanços tecnológicos em benefício do ser humano, por um lado, e, por outro, uma sensação de crise permanente, com atendimento inadequado, insuficiente e, pior, oferecido sem equidade (como é no meu caso) ,em condições péssimas , com instalações degradadas e material obsoleto ( basta visitar a extensão de Galegos , que bem conheces ), com uma falta total de investimento, quer nos recursos materiais , quer a nível dos utentes, sem transportes apropriados, com impedimentos físicos e com falta de acessibilidade ( na extensão de Galegos há pessoas que andam até 5 quilómetros para ser consultados ), mas como se resolve isto ? encerrando os postos médicos sem condições ? , sim mais oferecendo outras alternativas aos nossos velhotes , como transportes apropriados e fornecidos pela Câmara de forma gratuita , e se não for possível adequando as instalações ao século XXI . Porque depois, quando vêm as eleições autárquicas, aí vão os mesmos, por vilas e aldeias dirigindo loas ao Poder Local, prometendo tudo a todos. O Poder Local não é Lisboa como alguns julgam e defendem. O Poder Local, os cidadãos Portugueses, os habitantes do Concelho são muito mais do que aqueles que se julgam "iluminados”, vocês que podem, MUDEM ISTO.
As reflexões aqui contidas nada mais são do que uma tentativa de repensar nossa postura como profissionais e como gente agradecida ao pessoal do Concelho . Fazendo isso, inevitavelmente estaremos, mesmo que de forma indirecta, questionando uma série de outros assuntos bem actuais: o sistema formal de saúde, o trabalho médico, a cidadania, a democratização dos serviços de saúde para todos os utentes, e a forma de interacção desses com os seus usuários e vice-versa.

As palavras de Gregório Marañón ( extraordinário médico e pensador ) parecem as mais adequadas para colocar o ponto final. "Sentiria muito que alguém concluísse que sou desrespeitoso para com a Medicina em Portugal , e que sou pessimista sobre o seu presente ou seu futuro. Eu respeito a Medicina, porque a amo; e o amor é a fonte suprema do culto, no humano e no divino. Mas o amor é também, e deve ser, crítica. Somente quando esmiuçamos o objecto amado, retirando o que tem de deletério, acertamos a encontrar, lá no fundo, o que tem de imperecedouro. Aquele que fala valentemente dos defeitos da sua pátria é o melhor patriota, e quem vai polindo com censuras justas sua profissão, esse é quem a serve com toda plenitude”