sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Ainda o fecho de Extensões de Saúde e alterações de Horários

Opinião

“No caso concreto de Marvão, o fecho das 3 Extensões nem adianta nem atrasa (elas já estavam quase sempre fechadas); e o horário do Centro de Saúde!!!”

A Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo (CIMMA), Associação que reúne os 15 Municípios do Distrito de Portalegre, reuniu em Marvão no passado dia 8/11, o seu Conselho Executivo, onde aprovaram 2 Moções: uma sobre o novo Plano Estratégico de Transportes para o Alto Alentejo; e outra, sobre as alterações de Horários para as Unidades de Saúde, decididas pela Unidade Local de Saúde do Norte Alentejo (ULSNA).

Aqui, analisarei apenas a Moção sobre Saúde, e que pode ser lida aqui para quem tenha alguma paciência.

Em primeiro lugar, quero desde já, fazer uma declaração de intenções: nada me move favoravelmente em relação ao actual Conselho de Administração da ULSNA. Aliás, por não concordar com muitas das suas tomadas de posição, decidi acerca de dois anos pedir a minha Aposentação antecipada, com alguns prejuízos pessoais e profissionais, mas ficando livre de uma série de “medidas” com as quais não concordava e, que penso, em nada têm contribuído para a melhoria de Resultados dos cuidados de saúde no distrito de Portalegre, nem tão pouco reduzir custos.

No entanto, estou de acordo com as medidas agora tomadas pela ULSNA, quer no que toca ao encerramento de algumas Extensões de Saúde (a maioria não chegam a ter 100 utentes); quer no que toca a alguma uniformização de Horários de Centros de Saúde, cujos horários alargados, apenas serviam para pagar horas extraordinárias aos profissionais médicos, que ao trabalharem aos fins-de-semana acabavam por folgar aos dias de semana, e não faziam o que deviam, que era o atendimento de utentes em horário normal. Claro que com grandes vantagens económicas: o de já terem recebido em horas extra no fim-de-semana!


"Viver não custa! O que custa é saber viver", como diz o outro.

Em contrapartida, estou em desacordo com os Senhores Autarcas, que vêm agora reagir, à posteriori, sobre as medidas tomadas, quando deveriam há muito, exigir que se acabasse com estes “arranjinhos”, e preocuparem-se com a Política de Cuidados de Saúde aos seus munícipes, pois esta é uma das suas atribuições enquanto seus principais representantes

Não ignoro no entanto, porque trabalhei 30 anos com essas pessoas, que a maioria dos utentes dessas Extensões, são pessoas com mais de 80 anos, com grandes dificuldades de mobilidade, e que têm os mesmos direitos que outros à proximidade dos cuidados de saúde, e sempre por isso me bati.

Também bem sei, que na voz do povo existe o chavão “de que a saúde não tem preço”, mas convém que todos saibamos que “tem custos”; e muitas vezes exorbitantes em relação àquilo que se produz e, incomportáveis para um país como o nosso.

Em relação ao encerramento das Extensões de Saúde, se tivermos em conta que para prestar cuidados de saúde em algumas destas Extensões (que como disse acima, não têm 100 utentes), se envolviam 1 médico, 1 enfermeiro, e 1 assistente administrativo, em pelo menos 3 horas semanais (mesmo só 1 período/semana), vezes 52 semanas, concluiremos com facilidade que num ano gastaríamos cerca de 150 horas para estes 100 utentes.

Se cada médico, ou equipa de saúde, tem cerca de 1 500 utentes, está bem de ver, com os escassos recursos que temos, cada equipa de saúde teria que trabalhar mais de 60 horas semanais, para responder às necessidades restantes. Ora senhores autarcas, está bem de ver que tal é impraticável.

Como se poderia e deveria então resolver esta situação? Em minha opinião com 2 medidas muito simples, e com ganhos em saúde:

- Por parte dos Serviços de Saúde com a prestação de Cuidados Domiciliários aos utentes de grande dependência (estes 100 e os restantes da lista de cada equipa de saúde), e rentabilização das competências dos profissionais de enfermagem enquanto licenciado (para a maior parte de tarefas em cuidados de saúde primários os médicos são perfeitamente dispensáveis);

- Por parte das autarquias a disponibilização de transportes aos utentes para as Unidades de Saúde mais próximas (devendo o Governo Central comparticipar como faz para a Educação); ou então, fazerem menos Rotundas e "Obras de Fachada”. Gastem o dinheiro com as “pessoas” e deixem-se de betão armado e “alcatrão armadilhado”.

Quanto à uniformização dos Horários dos Centros Saúde, esta medida só peca por tardia e há mais de 20 anos que deveria ter sido tomada. A não ser que alguém me explique, o que se vê no Quadro 1.

Porque é que populações idênticas têm Centros de Saúde com 84 horas de abertura semanal e outros têm apenas 58 horas por semana?


A explicação para mim é muito simples: o “poder político” dominante de determinados dirigentes locais em relação a outros; o exagerado poder da classe médica nos cuidados de saúde, e, a submissão, e pouco poder reivindicativo dos utentes face a estes dois poderes. Responsabilidade? Dos políticos, e neste caso concreto dos autarcas que agora protestam...

Claro que quase todos gostaríamos de andar com um médico ao lado 24 horas por dia, mas todos sabemos que tal não é possível, nem tão pouco desejável. Digo eu...

Os grandes problemas de saúde do distrito não são estes (com Extensões ou sem elas), mas explicar isso? Seria preciso um “Tratado”, e não um simples Post.


Estas estratégias de Moções e manifestações, não passam de “fedi veres”, que em nada irão beneficiar os utentes do Serviço Nacional de Saúde do distrito de Portalegre. Penso até que são outros os valores se “alevantam!” Falta é coragem, para tomar decisões nos sítios certos.

Mas fica sempre bem protestar, para parecer que estamos preocupados com os problemas das populações, ganhar alguns votos dos incautos, e, sobretudo quando não se teve a clarividência da estratégia da antecipação.

Portugal é mesmo assim: “depois da casa roubada, trancas de ferro, ou manifestações e moções....”

TA: Já agora duas perguntas ingénuas: Porque estarão esses dirigentes autárquicos a não renovar contratos de pessoal que antes consideravam indispensável, e, porque não substituem os que se reformam? Será que também para eles os recursos são finitos?


O emprego também contribui para um bom estado de saúde do indivíduo, família ou comunidade! E muito...

Um comentário:

A.Oliveira disse...

100% de acordo! "Depois de casa roubada...", parece ser o lema que se aplica neste caso à intervenção das Autarquias; as quais dedicaram sempre uma atenção muito limitada e residual às questões da Saúde, quando poderiam (deveriam!) intervir e actuar de forma proactiva e articulada (com as entidades da administração central que tutelam o sector). Como não é (nunca foi!) o caso, agora "chora-se sobre o leite derramado", mas sem se apresentar ideias, sugestões, alternativas... É verdade que também o CA da ULSNA não deu, neste caso do fecho de extensões e da redução de horários de centros de saúde, o melhor exemplo de diálogo e de concertação. Mas eu, pessoalmente, para além de declarações e moções (que têm o seu "espaço" e o seu papel) gostaria sobretudo de ouvir as ideias dos nossos Autarcas sobre a saúde no Distrito e nos seus Municípios. Caso não as apresentem, ficamos a pensar que não têm, de facto, qualquer ideia sobre o assunto!