segunda-feira, 8 de setembro de 2008

INFORMAÇÃO FÓRUM

Feira Permanente de Produtos Tradicionais - Marvão não mostra interesse Portalegre pondera

(Notícia do Jornal Fonte Nova, por nos parecer de interesse para o concelho de Marvão, aqui fica para vossa analise)


O problema é que os produtores não têm um sítio onde possam vender os seus produtos. Foi com essa preocupação que a associação lançou o projecto "Feira Permanente de Produtos Tradicionais".Há alguns anos, um pequeno grupo de pessoas decidiu sair do Litoral e escolheu a região do Alentejo para passar o resto da sua vida. Instalados, a grande maioria, em Marvão, constataram que havia na região uma série de limitações importantes, relacionadas com falta de formação e de informação, e cuja solução passa, no seu entender, pela agricultura, fertilização dos solos, sistemas de energia solar, biogás, entre outros.

"Há muitas pequenas coisas hoje em dia que se fazem no mundo inteiro e que aqui, pura e simplesmente, se desconhecem. Então montámos uma associação no sentido de ajudar-mos as pessoas de cá a perceberem que existem outras tecnologias, já bem conhecidas, e que podem ser muito úteis", explica Van Krieken.


Jornalista de profissão, e sem o mínimo de conhecimento prático sobre o mundo rural, Jorge Van Krieken confessa que, a cada dia que passa, se sente "mais envolvido, surpreendido e deslumbrado" com este mundo. Defendendo que na base de toda a dinâmica rural "está o comércio e não a produção", mostra-se impressionado com a quantidade de saberes que as pessoas do campo têm, no sentido da sua sustentabilidade, comercializando grande parte dos produtos que cultivam. No entanto, nos últimos anos "surgiu uma casta de burocratas que, de alguma forma, dificultou todo esse bulício comercial rural, como a ASAE e, imediatamente, vieram os hipermercados ocupar o espaço", lamenta Van Krieken.


Tal situação fez com que olhasse com mais atenção para as pessoas que fabricavam nas suas casas, com todo o seu saber, os produtos tradicionais, como licores, compotas, queijos e enchidos, chegando à conclusão que das 290 mil explorações agrícolas do País, 90 por cento fazem isto.


"Há um potencial enorme de produção que vai directamente para a sustentabilidade das pessoas, é uma espécie de um comércio justo mas, ultimamente, devido a toda a pressão que houve por parte dos media contra esta repressão da ASAE começou a haver uma certa abertura relativamente aos produtos tradicionais", conta o presidente da Caminho Dinâmico. Um desses exemplos foi a última circular emitida pelo Ministério da Agricultura (5/2008) que permite, novamente, que as pessoas possam produzir nas suas cozinhas caseiras até cerca de 1500 litros de licores por ano. "Estamos a falar de um potencial bastante interessante. Agora o problema que se coloca é onde que esta gente vende isto e o que se pode fazer para que as pessoas voltem a produzir".

Para Van Krieken a receita é simples: "é preciso informar as pessoas daquilo que podem fazer e depois fazer um pouco de pressão junto das câmaras municipais, por exemplo, que têm um papel fundamental nisto, para que elas encontrem espaços onde estes pequenos produtores possam expor, permanentemente, os seus produtos". Foi com este fim que a Caminho Dinâmico lançou, à Câmara Municipal de Marvão, a sua proposta. O presidente revela que lançaram esta oferta devido à abertura do concurso para os programas de Políticas de Cidades - Parcerias para a Regeneração Urbana, talhado à medida de alguns pequenos centros urbanos do Alentejo. De 45 concorrentes, só cerca de 12 irão ganhar. Assim, e relativamente a Marvão, "a nossa proposta é que em vez de estarem a fazer obras que não servem para nada, poderiam fazer uma feira permanente de produtos tradicionais que irá encher de gente".
Sonho adiado
No final do mês de Julho, a Caminho Dinâmico reuniu com o executivo camarário de Marvão, na qual "o presidente acabou por nos dizer que não valia muito a pena" apostar nesta proposta, uma vez que "não havia gente empreendedora em Marvão para fazer isto". Jorge Van Krieken conta que "o presidente da Câmara Municipal de Marvão não respondeu nem manifestou qualquer interesse nesta proposta da associação Caminho Dinâmico, para a criação de um grande espaço na vila dedicado aos produtos tradicionais, onde os pequenos produtores do concelho pudessem expor os seus produtos permanentemente".
Tal posição, por parte da autarquia, deixa o presidente da associação triste, pois defende que os produtores "têm de ser ajudados" e este é "um projecto muito simples, onde não é preciso dinheiro nenhum". Nesse sentido, declara que "a nossa aposta relativamente a Marvão está perdida, porque não houve nenhum tipo de acolhimento por parte da autarquia". Apesar desta primeira "nega", a associação Caminho Dinâmico está aberta a colaborar com qualquer município português para a criação e organização de uma feira permanente de produtos tradicionais. "Gostaríamos muito que este nosso know-how pudesse beneficiar o Alentejo, se possível", frisa Jorge Van Krieken, defendendo que para avançar com esta iniciativa "é preciso ter escala, no sentido de poder ter dois ou três mil produtos, em simultâneo, a serem mostrados". Desejando que apareça alguém capaz de avançar com a criação da feira permanente, o presidente garante que "quem pegar numa coisa destas, de uma forma inteligente, e investir nela coerentemente, vai ter um enorme sucesso", até porque "aqui não há nada que capte a atenção dos turistas". Segundo manifesta, a criação de pontos de grande animação com os produtos tradicionais, irá atrair muita gente à nossa região, até porque a ideia já foi posta em prática em outros pontos do Mundo e o sucesso foi garantido.
No entanto, nem tudo está perdido, dado que a autarquia de Portalegre já manifestou algum interesse em avançar com o projecto. Apesar de ainda estarem a decorrer conversações, Van Krieken acredita que o melhor sítio para fazer esta feira "é, sem dúvida, Portalegre", e acrescenta que, para tal, "é preciso ter gente com dinâmica e por o que conheço do presidente Mata Cáceres, ele tem toda esta dinâmica". Assim, "espero que Portalegre pegue nisto e o possa fazer no Mercado Municipal e nós oferecemos todo o nosso empenho e colaboração para que a Câmara o possa fazer".
Jorge Van Krieken recorda que trabalhou muitos anos em animação para perceber como se montam este tipo de espaços e, por isso, "estou absolutamente seguro que no espaço de poucos meses se consegue criar um grande pólo de vendas e divulgação dos produtos tradicionais, captando centenas de produtores locais, regionais e nacionais. E atrair milhares de clientes".
Especialista manifesta-se a favor
Ana Soeiro, especialista em Produtos Tradicionais, emitiu uma opinião sobre o projecto da associação Caminho Dinâmico, na qual refere, entre muitos outros pontos, que a existência de espaços multifuncionais ao nível local "facilitará não só a vida dos produtores, mas também a dos consumidores, permitindo aos primeiros economias de escala e de localização e aos segundos garantias de genuinidade e tipicidade".A especialista escreve ainda que "a possibilidade de conhecimento e de reconhecimento entre quem compra e quem vende e a integração em cadeias de valor de maior dimensão (rotas turísticas, roteiros partilhados, etc.) ficarão facilitados com a existência de estruturas fixas de apoio e de interface cultural e económica". Ana Soeiro termina o seu parecer considerando que o projecto da Caminho Dinâmico se insere "muito bem" no âmbito do PROVERE, recentemente apresentado e aprovado.
O parecer dos autarcas
O nosso jornal entrou em contacto com Vítor Frutuoso, presidente da Câmara Municipal de Marvão que explicou que o projecto apresentado à autarquia pela associação Caminho Dinâmico "faz todo o sentido, mas não no programa de Políticas de Cidades - Parcerias para a Regeneração Urbana que, para mim, tem objectivos diferentes". O edil entende que a feira permanente de produtos tradicionais "insere-se noutras medidas" e, por isso, "temos de esperar por outros momentos". Vítor Frutuoso adianta que irão desenvolver-se outros programas operacionais "onde situações dessa natureza podem ser abrangidas", até porque "é um projecto interessante e importante de se desenvolver", mas "agora faz-se a reabilitação e depois vamos aos produtos tradicionais, dos quais sempre fui defensor acérrimo".
Falámos também com Mata Cáceres, presidente da autarquia portalegrense, que apenas adiantou que "há condições" para avançar com o projecto, realçando que a ideia de Van Krieken "há muito tempo que a ando a defender aqui, que é criar uma casa de produtos tradicionais".
Textos: Catarina Lopes

3 comentários:

Felizardo Cartoon disse...

Eu uma vez escrevi, num boletim de campanha, para as eleições autárquicas, que os marvanenses eram portadores de saberes, no que concerne à produção de produtos tradicionais, mas que em breve corriam o risco de cair no esquecimento ( os saberes ), pelo simples facto de praticamente não haver incentivos a este tipo de produção .


Gostaria de estabelecer aqui um paralelo entre duas vilas que parecem gémeas : Marvão e Óbidos . Ambas têm um castelo altaneiro; as casas pintadas de branco imaculado ; as ruelas estreitas e tão tipicas .

Em Óbidos há nitidamente um mercantilismo exagerado : vende-se de tudo, o que é tradicional e o que não o é .

Em Óbidos não há a minima preocupação com a dissonância estética entre o património arquitectónico e o mostruário mercantilista com o qual nos deparamos ao percorrer as principais artérias desta bela Vila .

Em Marvão não se vende quase nada e não raras vezes, os turistas questionam-se se esta terra terá alguma coisa para oferecer em termos de produtos regionais.


Vivemos numa sociedade de consumo .
As pessoas quando vão passear gostam de levar um testemunho das terras por onde passaram .

As pessoas gostam ou não dos sitios por onde passam, em função das experiências que aí viveram .

Se forem boas, vão gostar de
perpectuar essas recordações,não apenas numa memória que o tempo vai tornando vaga, mas em algo material ; um auxiliar de memória ; uma cábula ; uma recordação ; um souvenir de Portugal, como diz a cantiga do saudoso Carlos Paião .

A recordação ou o "souvenir", atesta que se esteve em determinado lugar, já que mais não seja para dizer aos amigos :

- Olha, estive em Marvão e comprei lá estes enchidos, que são de comer e chorar por mais .


Não defendo para Marvão, uma solução semelhante à de Óbidos .
Provavelmente, também aqui, no meio termo, é que estará a virtude :

Não ao mercantilismo descontrolado ; sim ao comércio de produtos tradicicionais, em locais e espaços adequados, que não acrescentem demasiado "ruído inestético " à Vila de Marvão .

Bonito disse...

Esta notícia do “Fonte Nova” despertou-me a atenção. E deixa-me intrigado, esperando desenvolvimentos futuros!

Não tenho qualquer dúvida que Marvão, como destino turístico, tem défice deste tipo de comércio. E que existem neste Concelho produtos tradicionais com potencial para desempenharem esse papel…

(e concordo com a análise do Hermínio)

Portanto, conjugando isto com essa tal nova abertura para a produção caseira destes produtos que o artigo fala, esta “nega” de Marvão deixou-me, inicialmente, algo incrédulo.

Contudo, atendendo que o presidente da Câmara sempre defendeu, pelo menos teoricamente, a ideia que os produtos tradicionais são uma mais valia deste Concelho e devem ser aproveitados; atendendo que tenho conhecimento que a Câmara ainda promoveu pelo menos uma reunião entre a “Caminho Dinâmico” e possíveis interessados nesta matéria e analisando algumas expressões atribuídas aos Sr. Jorge Van krieken fico mais céptico sobre as intenções desta Associação e sobre as hipóteses de sucesso do lançamento desta ideia neste enquadramento.

Expressões como:

“a nossa proposta é que em vez de estarem a fazer obras que não servem para nada, poderiam fazer uma feira permanente de produtos tradicionais que irá encher de gente”

“o presidente da Câmara Municipal de Marvão não respondeu nem manifestou qualquer interesse nesta proposta da associação Caminho Dinâmico…”

“… a nossa aposta relativamente a Marvão está perdida, porque não houve nenhum tipo de acolhimento por parte da autarquia.”

“Van Krieken acredita que o melhor sítio para fazer esta feira é, sem dúvida, Portalegre”

Cheiram-me a “esturro”!!


Já ouvi, várias vezes, o Eng. Mata Cáceres defender que a aposta nos produtos tradicionais (vinho, azeite, enchidos, doçaria, etc,) será uma das melhores formas de desenvolver Portalegre, sendo uma pena a existência de entraves levantados à produção “caseira” de alguns desses produtos…

E parece-me que, de uma forma ou de outra, havendo essa possibilidade, o presidente da Câmara de Portalegre irá apostar fortemente nessa área!

Portanto, se essa aposta surgir em parceria com a Associação do Sr. Van Krieken irei concluir que Marvão perdeu uma boa oportunidade…

Se essa parceria não surgir penso que indiciará que Marvão decidiu bem e que a proposta da “Caminho Dinâmico” não seria a mais adequada!

Aguardemos…

Nota: entretanto, na próxima Assembleia Municipal, terei oportunidade de solicitar esclarecimentos ao executivo sobre esta temática.


Grande Abraço
Bonito Dias

Luís Bugalhão disse...

boas amigos e amigas do fórum.
faz tempo que cá não digo (escrevo) nada, mas venho cá com frequência.

tenho visto que novos visitantes aparecem a comentar, sem anonimatos nem nada, apesar da pouca afluência estivalóvacacionera.

vi tb o desaparecimento dum amigo dos meus amigos, logo...
eu não o conheci, mas o jbugalhão havia-me falado, numa conversa à roda duns caracóis na portagem, que tinha um amigo que estava a passar mal... a minha compreensão e o meu apoio nesta hora de perda, mais a amizade, é o que vos dou sinceramente, para ajudar a minorar a saudade que sentem pelo Sérgio.

vi ainda, por estas linhas de verão, que houve eleições, houve silly season, houve a atitude positiva do porto da espada e da malta da portus gladii, e agora, há este post retirado duma notícia do fonte nova.
já tenho falado várias vezes sobre os produtos tradicionais, genuínos (e certificados, atenção), cm uma oportunidade para desenvolver a economia do concelho. parecem-me certas as palavras de van krieken ao fn, e cito, 'Defendendo que na base de toda a dinâmica rural "está o comércio e não a produção"...'.
contudo há algo que tb sinto no discurso de van krieken, as mms contradições que o fbonito refere, e confesso que li o post com algum cepticismo. até pela maneira como a ideia é apresentada: uma oportunidade sem riscos. não é assim.

de qq modo continuo a achar que é uma boa ideia e que devia ser aprofundada. eu acrescentar-lhe-ia o conceito dos produtos biológicos. requeria algum investimento, não muito, uma vez que o Marvão tem a sua portentosa natureza cm grande vantagem, e alguma burocracia, mas depois haveria a tão importante certificação.
é que para o comércio deste tipo de produtos seria necessário, por exemplo, e pq a lei assim o exige, vender os produtos embalados e etiquetados (entre outras coisas, para evitar 'meter à socapa' fruta do hiper à venda entre a fruta biológica), o que arrastaria outras actividades, dando, pex, oportunidades de reabilitação rendível às artes e ofícios tradicionais: cestos, bilhas, tarros... há que aprofundar a ideia.

mas, e lá vem a oração coordenadora com valor adversativo, para isso é necessário levar pessoas a Marvão! e isso, que tb passou por aqui em excelentes posts neste agosto (do garraio, do jorge, entre outros comentários...), parece o maior handicap que a nossa terra tem que ultrapassar. ainda por cima pq as coisas que se vão fazendo contra essa interioridade não resistem. por uma ou outra razão, mais ou menos exasperante para quem aí vive, mas, as 'coisas', cm o garraio as apelida, têm acompanhado (e contribuído para, já agora) o declínio de Marvão.

todas estas propostas e pareceres e ideias e bocas irão continuar a animar as 'páginas' deste forúm (mm que isto não seja uma agência noticiosa como o ibn gostaria, e cm rudemente exigiu num comentário a um post anterior), provando que este sítio é realmente um contributo para o desenvolvimento do concelho cujo topónimo inscreve no seu, ainda que pomposo, merecido nome de Fórum Marvão.

estou de volta amigos. desculpem a demora, mas os marinheiros tb 'drómem', qu'é cm quem diz, já se acabarren'as as férias.

abraço

lbuga