segunda-feira, 25 de julho de 2011

Que Democracia é esta?

“A democracia dos Partidos/A democracia dos partidozinhos...”

De acordo com a Constituição Portuguesa os Partidos políticos devem ser a base do sistema democrático.


No Notícias de Castelo de Vide, encontrei a seguinte notícia:

“António José Seguro venceu as eleições "directas" para Secretário-Geral" do PS em Castelo de Vide. Com 8 votos contra 4 angariados por Francisco Assis.

No mesmo sentido, João Augusto Alexandre será o delegado concelhio ao Congresso de Setembro (com Joaquim Canário como suplente); a lista obteve 9 votos contra 3 da lista Carla Ventura/Cecília Oliveira.
Votaram 12 dos 37 militantes inscritos, entre as 16 e as 20 horas de sexta-feira dia 22 de Julho. © NCV”

Quero esclarecer antecipadamente, que o está em causa nesta análise não é o facto de ser o Partido Socialista, apesar de ser este a origem da reflexão, já que se fosse qualquer outro partido, os resultados seriam, quantitativamente, idênticos.

O que mói nesta notícia é a fraca participação da militância partidária, sobretudo, num acto que deveria ser da maior relevância: a eleição do seu líder nacional, e provável futuro candidato a primeiro-ministro deste país que se diz democrático.

Para ilustrar ainda mais este cenário, gostaria de informar que ainda há pouco tempo no nosso concelho de Marvão, aquando da eleição do líder do PSD, e actual primeiro-ministro, a participação foi idêntica: onde não se chegou à vintena de votos, num universo de 3 dezenas de militantes.

O que isto representa nos 2 concelhos, é que os militantes que votaram nas eleições para escolha do secretário-geral do PS no concelho de C. Vide representam apenas 0,35% do total de habitantes do concelho (8/3 376); em Marvão o cenário foi idêntico, já que total de militantes que influenciaram a escolha de Passos Coelho para presidente do PSD não foi além de 0, 56 % do total de habitantes de Marvão.

Como podem então estas organizações serem a base do nosso sistema democrático? E quem é que eles representam?

Uma das questões que se deve pôr, é se continua a fazer sentido que estes “partidozinhos” devam ser a base do nosso sistema democrático, e continuarem através destas escassas militâncias a deterem um poder quase total sobre a democracia portuguesa?

Não irei aqui tecer qualquer rol de críticas e de acusações à vida partidária portuguesa em geral e nestes 2 concelhos em particular, ou às suas lideranças, sobre as diversas razões que aqui nos trouxeram. O que quero questionar todos os visitantes aqui do Fórum é sobre: o que poderá fazer cada um de nós para alterar esta ridícula participação na vida partidária, já que eles detêm uma influência “colossal” na nossa vivência colectiva, quer nacional, quer local...

2 comentários:

A.Oliveira disse...

A questão aqui apresentada é, de facto, bastante pertinente, actual e muito tem já sido dito e escrito sobre a mesma. Penso por isso que este meu modesto contributo não irá acrescentar grande coisa de novo, mas enfim...
Penso que nesta questão da ligação (ou melhor, da falta dela) entre partidos, militantes e cidadãos em geral, haverá sempre responsabilidades partilhadas. Passo a explicitar: é verdade que muita da "culpa" pelo desinteresse que o cidadão comum e que até os militantes dos partidos revelam pela vida política e partidária será directamente atribuível aos próprios partidos e à forma como funcionam e se organizam. De facto, vemos frequentemente que os nossos partidos políticos (a nível nacional, distrital e local) estão organizados numa espécie de "concha", ou de círculo restrito e fechado, onde só têm acesso alguns... invariavelmente sempre os mesmos, que ocasionalmente se vão revesando e alternando... Da tão propalada abertura à sociedade civil só se vislumbram uns breves e passageiros sinais quando é altura de arregimentar votos (leia-se imediatamente antes e durante as campanhas eleitorais). Terminadas as eleições, lá volta tudo à anterior "normalidade"! Não será por acaso que é bastante frequente ouvirmos, da parte de muitos cidadãos "anónimos" e precisamente aquando das tais campanhas eleitorais, a crítica de que "só se lembram de nós quando andam a procura do voto!". Mas há também, como disse de início, uma parte da responsabilidade atribuível aos próprios cidadãos (militantes ou não). Fruto do que atrás foi dito, em termos da forma como os partidos funcionam e se organizam, mas sobretudo (creio eu...) como resultado do proverbial desinteresse e alheamento com que os Portugueses, em geral, encaram a sua própria participação cívica em grupos, associações, colectividades... o que é facto é que, mesmo quando se tenta estimular o envolvimento e a colaboração directa na vida e nas actidades, por exemplo, de um partido político, as desculpas mais frequentemente ouvidas são as de que "não tenho tempo para essas coisas...", "não tenho vida para isso...", "não percebo nada de política...", "isso é para eles que estão lá nos lugares...", "a política é para quem não tem mais nada para fazer, ou não sabe fazer mais nada...", etc, etc, etc.
E assim se vão perpetuando as coisas: uns (os cidadãos, militantes ou independentes) porque não querem, não lhes apetece ou não se sentem motivados para participar; outros (os próprios partidos) porque não sabem (nalguns casos apetece mesmo dizer que não estão interessados) "chamar" e motivar os primeiros.
Obviamente que não deveria ser assim; porque a construção e a vivência de uma Democracia plena, consciente e adulta, não se compadece com o facto de ficarmos de "consciência tranquila" quando depositamos o nosso voto na urna de 4 em 4 anos. É sobretudo no nosso dia-a-dia, e precisamente nos "intervalos" que medeiam entre os tais 4 cíclicos anos, e em todas as actividades que desenvolvemos ou que somos chamados a desempenhar (no emprego, em casa, em clubes desportivos ou de lazer, em associações culturais, em organizações de voluntariado, mas também NOS PARTIDOS POLÍTICOS), que somos chamados a viver, a construir e a aprofundar a Democracia no nosso País e na nossa região...

Catarina disse...

Já dizia o Churchill e com razão:

"Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos."