terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A nossa gente... e a sua forma de pensar...

Carta aberta ao Vereador Pedro Sobreiro (o meu amigo Pedro):

“E eu olho para o tempo que ainda me falta em exercício, suspiro fartinho, arfo e digo para mim mesmo aquilo que os romanos disseram dos lusitanos “esta gente não se governa nem se deixa governar….”

Li hoje no teu Blog pessoal, “vendo o mundo de binóculos do alto de Marvão”, um Post de tua autoria, em que nos deste a conhecer um pouco da tua desilusão, e/ou mesmo revolta, em relação a algumas apreciações de certas pessoas, acerca do teu trabalho, enquanto autarca local e actor social.

Sem paternalismos, que às vezes me acusas, quero dizer-te aqui publicamente, que considero isso perfeitamente normal (numa terra muito mais habituada a apreciar do que a fazer), e, deves dar a essas críticas, a importância que realmente merecem, sem te querer dizer, que não lhes deves dar importância nenhuma. O que te quero exprimir, é que deves lidar com essas censuras como momentos de aprendizagem e crescimento, de acordo com a fase em que te encontras na tua vida. No entanto, a respeito da “importância das coisas” deixo-te aqui um pensamento do grande escritor que é Milan Kundera (não tenho a mesma certeza se o é como homem), que escreveu um dia: “… às vezes levar a sério, algo de tão pouco sério, é perdermos nós próprios, toda a nossa seriedade”.

Claro que sabes, que eu acho que tu te puseste mesmo a jeito para que isto acontecesse, e em minha opinião, até acho que o merecias, devido à visão ingénua e utópica que tinhas, e talvez ainda tenhas da sociedade, mas isso é uma virtude tua, que espero que nunca a percas, e crê, que o que neste momento estás sentir, será passageiro, porque irás sair mais fortalecido e mais “rico” como pessoa e como homem. Só terás de gravar no “disco rígido”, todos esses “inputs”, a que estás a ser submetido.

Ao afirmar no parágrafo anterior que te “puseste a jeito”, quero dizer, que entraste nesta aventura de peito aberto, dando o corpo ao manifesto, acreditando que tudo é gente de bem, que as pessoas são todas boas, crendo que não existem interesses pessoais, etc., etc. Hoje sabes, certamente, que cometeste alguns erros de estratégia, e isso não terá de ser necessariamente mau, depende apenas do efeito que isso tenha em ti.

Os grandes atletas não são aqueles que ganham sempre, são aqueles que ganham e perdem. Mas que sabem perder e ganhar, e em cada derrota saem mais fortalecidos, para lutar…, e tentar ganhar de novo!

TA: Só não são criticados, aqueles que nada fazem, e tu, só és criticado, porque ousas fazer…Não te rendas!

Um abraço

João Bugalhão

6 comentários:

Pedro Sobreiro (Tio Sabi) disse...

Meu caro Buga,

Tu estavas deserto...

Antes de mais, obrigado pela iniciativa.

Eu sei que tu sabes que eu sei que sou membro de pleno direito deste fórum, cuja gestação se deu aliás no meu estabelecimento oficial (se bem te recordas… até me deixaram aquilo bem desarrumado nessa noite), como sei que sabes que não escrevo mais por aqui por uma questão de respeito e pudor.

Quem me conhece e frequenta o meu estaminé sabe que isto dos blogues para mim tem uma função lúdico / terapêutica que se encontra perfeitamente realizada naquele espaço pelo que gosto de estar assim, no meu cantinho, tocando o violão.

Depois, o Fórum assumiu desde a primeira hora uma função crítica e interventiva com a qual eu concordo mas da qual entendo que não devo participar, por razões óbvias, pelo menos activamente, enquanto estiver em funções.

Tudo isto para explicar a minha entrada aqui agora (embora já tenha postado por mais do que uma vez) e funcione assim em sentido figurado como eu a limpar os pés no tapete antes de entrar e pedir licença.

Já que fizeste a transposição de gaiolas, vejo-me obrigado a seguir-te.

Tu sabes que para mim és uma espécie de irmão mais velho raçado com velho dos marretas, tipo um cruzamento de laboratório feito por um cientista abrasado; como sabes também que uma das coisas que eu menos gosto é ter de te dar razão.

És uma das pessoas mais metódicas e compenetradas que eu conheço e se disser que sei que registas conversas que temos e frases que te digo só para depois mas poderes repetir, acho que esclareço tudo.

Juro-te, só acreditas se quiseres, que quando escrevi aquilo me lembrei de ti e imaginei-te logo a sorrir de soslaio para o ecrã do computador (eu não disse de contentamento, disse de soslaio, atenção!), murmurando com as teclas à tua frente… “eu sabia…”.

Pois bem, meu amigo, tu para mim representas muitas coisas em muitos planos, nalguns chegas a ser exemplo, mas neste do relacionamento humano (e apesar de seres mais velho), já te disse que não me dás lições, ou sou eu que não as aceito, uma vez que não és (e tu sabes) modelo para ninguém. Senão, caso estejas tão convicto da tua verdade, como é possível que tenhas sido no passado tão incompreendido por tantas pessoas, tão incapaz de fazer valer a tua palavra?

Já to disse: a tua visão fria, distante, às vezes cirúrgica de olhares o mundo e os outros (à excepção de alguns amigos mais próximos) não me serve.

Não me serve porque eu não a quero para mim.

Não me serve porque apesar de tudo, ainda prefiro bater com a cabeça a acreditar em quem me diz para não me atirar abruptamente para a frente.

Não me serve porque continuo a ser um profundo humanista, alguém que acredita no homem e nas suas capacidades, na sua natureza e na sua condição naturalmente boa.

Continuo a partir para cada nova relação, para cada nova amizade, para cada novo conhecimento, de braços e coração abertos e não é por levar meia-dúzia de pontapés que me vou deixar derrotar.

Eu acredito em Cristo e de todos os ensinamentos que nos deixou, o “amor ao próximo” e o “não fazer aos outros o que não gostas que te façam a ti”, são dois em que penso todos os dias e que norteiam a minha vida.

O problema que há aqui é que na nossa terra existe, de facto, muita gente má e mal formada. Se porventura falássemos com alguém de fora, certamente nos diria que na terra dele também é assim mas aqui, não sei se por isto ser pequeno demais, se por não ter centros comerciais ou outros divertimentos como o bowling e assim, as pessoas vivem muito na crítica, na inveja, na maledicência e isso custa-me muito.

Se calhar até vou ser politicamente incorrecto mas que se lixe que quem diz a verdade não merece castigo. Eu sou um miúdo da Beirã que é uma terra sui generis no concelho, pela sua história, pelo seu percurso, pelo seu tecido social. Quando percorri o concelho na campanha, de lés a lés, apercebi-me perfeitamente das diferenças de personalidade de um e de outro lado do monte e da vivência interna de cada terra e posso-te afirmar, com conhecimento de causa, que Santo António das Areias, provavelmente pelo seu forte cunho industrial, é a terra onde as pessoas têm uma forma de ser e estar mais urbana, mais parecida com a das cidades, mais fria, mais artificial, mais cínica, se quiseres.

Não quero obviamente tomar o todo por algumas partes menos boas mas posso-te dizer que desde miúdo me habituei, na minha aldeia, a cumprimentar e a socializar com toda a gente e quando havia alguma divergência era logo uma dor tremenda para qualquer uma das partes. Actualmente, no meu bairro e depois de estar metido nestas andanças da política, há vizinhos que por uma ou outra razão, tenho o prazer de nem sequer lhes olhar para a cara. Nem isso merecem…

Como te posso dizer que me custa que haja pessoas que pensam que só por residirem na vila de Marvão, Marvão é mais deles do que todos os outros naturais do concelho. E eu sei do que falo porque também já lá residi.

É de facto um concelho esquartejado pela geografia mas sobretudo pelas mentalidades, pela falta de união, pelo excesso de inveja, pela prevalência dos defeitos sobre as virtudes e nessa medida, o trabalho fica muito mais difícil.

A minha conversa já vai parecendo um discurso do Tio Fidel, daqueles que demoravam dia e meio, mas tu puxas por mim e depois tens de te aguentar. Mas não quero terminar sem te dizer que aprendi há muito tempo a retirar os melhores ensinamentos mesmo das coisas piores que nos acontecem. Só assim se pode evoluir.

Não estou arrependido da decisão que tomei há 4 anos atrás. Não estou arrependido, antes pelo contrário, orgulho-me muito do trabalho que tenho feito e quanto mais não seja, a política fez com que eu pudesse conviver e compreender aquilo que de pior existe na espécie humana e isso é uma aula prática que ninguém deve de perder.

Agora, concordo contigo que o que não nos mata, torna-nos mais fortes e eu sou hoje seguramente, um homem diferente do que era em 9 de Outubro de 2005. Como diz o povo, “malfeito fora…”.

Mas quem me conhece sabe que há um núcleo dentro de mim que permaneceu intocável graças precisamente à família e aos amigos verdadeiros. Creio que nisso, o Pedro não mudou e há-de ser o Pedro de sempre, só que mais experiente e cauteloso com os flancos que abre.

Por tudo isto ser de tão difícil digestão e vendo eu desde logo, a embarcação e a viagem onde estava metido (sem um navio robusto, sem tripulação de confiança, sem um timoneiro à altura) que decidi, 6 meses depois da partida, que a meta já não seria a circum-navegação mas apenas o continente próximo.

Hoje já consigo vislumbrar a costa e é com indisfarçável alegria que olho para trás, para as tormentas tropicais que atravessei; e com enorme esperança e orgulho que olho para a frente.

Quem passa por um processo destes, nas condições em que eu passei necessita de espaço, de tempo, de se reencontrar e de descansar. Necessita de fazer a tão falada travessia do deserto que terminará sine die e poderá durar 4, 8, 12 ou a vida inteira, dependendo das condições e das contingências. Não corro atrás de nada, muito menos do prejuízo.

Foi por esse mesmo motivo que tive de me agarrar às convicções, manter-me fiel à rota e dizer não às muitas solicitações da mais diversa índole que me foram chegando.

No entanto, que tu e todos fiquem certos que jamais virarei as costas a uma boa briga e que coragem é coisa que nunca me há-de faltar.

Quanto ao futuro, como diz o faduncho, o futuro a Deus pertence e nisso aí… não há quem toque.

Para terminar e voltando à nossa conversa, eles bem podem ladrar se no cartaz vem um 8 ou um 9. O que eu te garanto é que neste ano, o Carnaval, como nos anos anteriores, vai ser de arrebenta, com muita alegria, muita diversão e se possível com muita gargalhada à custa deles e de nós próprios.

E isso dói-lhes tanto… eu sei… e é tão bom!

Grande abraço

Do teu amigo

Pedro Sobreiro

PS: Rendição e desistência são léxicos que não existem no meu dicionário. Essa folhas eu rasguei.

Garraio disse...

Em suma:

Não será pela manifestação de alguns canídeos, que o cortejo não vai passar.

Isso é que é importante, Pierre.

Goyi disse...

Madre mía, lo que va por aquí y cuántos sentimienos, cuántas emociones habéis despetado en mi interior!!!.

Soy una persona que no lloro... nao choro, do verbo chorar quase nunca na minha vida.

Ontém estive en la toma de posesión del cargo de Subdelegada del gobierno en Badajoz de mi hermana, la más pequeña de siete, la que todos siempre hemos protegido, aunque mida casi 1,80 y la sea más lista y más trabajadora del mundo!!!.

Su cargo corresponde a lo que antes den España y creo que en Portugal también , eran los Gobernadores civiles. En la ceremonia había gente de muy alto rango, sobre todo del mundo político y militar... luego, dos o tres amigos suyos, sus hermanas y mi madre....todas echaron unas lágrimas pensado en mi padre, y en las veces que tuvo que correr con la carga de café, o de lo que fuera, delante de los Guardinhas o de los Guardias Civiles, para que ahora su hijita pequeña, la que él adoraba, esté al "mando"... de jefa!!!! qué orulloso se hubiera sentido!!!!... aún así fuí la única que no eché ni una lágrima!!!!....


Y ahora, como una tonta, entro aquí, en está tierra pequeñita de Marvao, donde me he sentido tan bie acogida, leo unas palabras de Bugalhao, la respuesta de Pedro, y siento tan dentro un nosequé, que .... anda la tonta, me han saltado unas lágrimas, que mi madre piensa que ni fabrico!!!!.

Nadie se merece, cuando está dando el todo de si mismo por los demás que le apuñalen, ni de frente siquiera, mucho menos por la espalda!!!.

Pedro pone tanta ilusión en todo lo que hace, trabaja con tanto amor por su tierra, da tanto a toda la gente que está a su lado!!!, cree tanto en el ser humano!!!!.... me parecería terrible que te pasara pomo a mi, Pierre ( como dice Garraio), no debes consentirlo, aunque tus últimas palabras e la postdata me han tranquilizado!!!... menos mal que de tu diccionario se borraron las palabras que tando daño me han hecho a mi.....

Ahora, te digo una cosa, primero es mi salud y mi familia... lo siento en el alma, seguiré luchando por mi pueblo y por mi gente , pero esto de la política me ha servido para darme cuenta de que sólo vivimos una vez ( ahí tu y yo no estamos de acuerdo), y de que nadie merece que la única vida que tenemos constancia absoluta que tenemos, la vivamos amargados y llevando porrazos de todos los frentes!!!... y sin necesidad, como era mi caso!!!... y sin ganar un euro, para más INRI!!!....

Ahora, te digo una cosa, me ha servido para darme cuenta de como es la gente y de lo falsos que podemos llegar a ser... me incluyo.

Lo que más me ha dolido de toda esta aventura/ pesadelo política, no han sido las críticas y golpes que me dieron los que sabía que me iban a dar, era su casi obligación.. lo peor es darte cuenta de que la gente que creías que estaba a tu lado, que te apoyaban, que te querían, que creían en ti como persona, como ser humano... de repente, miran hacia otro lado y silvan al pasar!!!!, o bajan la cabeza, que todavía es mucho peor!!!! ....

Pero y luchar contra molinos e viento???... yo no soy Quijote, llega un momento que dices: no puedo más!!!. no puedo luchar contra los otros y contra los míos, eso es imposible porque te das cuenta de que estás casi sola y entonce piensas: " a lo mejor si me voy lo que hago es un favor!!"... y así son las cosas....


Me alegra tanto que tu y yo seamos tan parecidos, pero tan distintos a la vez!!!!:
SIGUE SIENDO UN LUCHADOR Y LA HOJA DEL DICICCIONARIO QUE PERDISTE CON ESAS PALABRAS, NO LA BUSQUES.... LA TENGO YO!!!!..... AH!, Y NO PIENSO DÁRTELA JAMÁS!!!... Vales mucho!... con tus defectos y virtudes.

PD- Gracias Buga, yo también necesitaba, más que Pedro , ese coscorrón que me has dado, me duele, pero es un dolor que se agradece!!!......( aunque no fuera dirigido mi).

Besos a los tres.

Goyi disse...

Perdón por el "ladrillo".... ladrillazo ( tijolo?), encima en español y repitiendo más que los ajos!!!... Garraio, que me conoce, sabe que me muevo por impulsos y encima de que no sé escribir en estos cacharros, mepermito el lujo de no leer lo que escribo hasta que no lo he mandado..... lo siento!!!

Maria disse...

Boa noite Pedro

A vida também é feita de contrariedades e, se tal não houvera jamais poderíamos saborear os momentos especiais com que a mesma por vezes nos brinda.
Assim sendo, e lembrando uma frase muito antiga ouso dizer “longa vida aos meus inimigos para que assistam de pé às minhas vitórias..."
Concorda?

No entanto, há algo que me suscitou alguma curiosidade no seu comentário e, transcrevi esses parágrafos para melhor nos situarmos; senão vejamos:
"... caso estejas tão convicto da tua verdade, como é possível que tenhas sido no passado tão incompreendido por tantas pessoas, tão incapaz de fazer valer a tua palavra"(…) "eu acredito em Cristo e de todos os ensinamentos que nos deixou, o “amor ao próximo”(...) o “não fazer aos outros o que não gostas que te façam a ti”, são dois em que penso todos os dias e que norteiam a minha vida.
Também acredito em Cristo e, como foi possível que no passado tenha sido Crucificado?

Não tenho a veleidade de estar sequer a tentar comparar o incomparável (um ser humano versus um Ser Divino), apenas e só comparei as suas palavras com a passagem de Cristo na terra, assim como todas atrocidades das quais Foi Alvo.
Dá que pensar…

Quanto a si, Pedro, independentemente do desconforto, da decepção, da injustiça e demais “tristezas” que tenha sentido (é perfeitamente compreensível), o mais importante é que, você Pedro, tem Amigos e isso é visível e conforta.

Beijinhos aí “por casa” em especial à Leonor

Maria

Jorge Miranda disse...

Srº João, o Srº tem o melhor advogado de defesa do MUNDO.
Um abraço
Jorge