domingo, 18 de janeiro de 2009

A PROPÓSITO DA RESTAURAÇÃO DO CONCELHO DE MARVÃO

UM POUCO DE HISTÓRIA

(CAPÍTULO II)


De facto, se em Marvão, não são conhecidos quaisquer actos nesses dois anos (1895-1897), que revelem que a integração no concelho de Castelo de Vide, tenha sido alvo de resistências ou insurreições por parte dos marvanenses, sobretudo por parte dos seus dirigentes, a quem, certamente, competia liderar essas reações, já o mesmo se não pode dizer em relação aos “integradores castelovidenses”, que esfregaram as mãos de contentes, por verem o seu pobre concelho, passar de 3ª para “2ª classe”, à custa dos marvanenses.

Assim, em Acta da Câmara Municipal de Castelo de Vide, de 1 de Outubro de 1895, uma semana depois da integração, o seu Presidente Pinto Sequeira da Costa (Regenerador), afirmava: “… sendo classificado em segunda ordem o concelho de Castelo de Vide, anexando-lhe o de Marvão, e resultando d’ esse facto, um grande melhoramento que a todo este município deve satisfazer, entendi convidar os meus colegas, para uma sessão solene e especial para comemorarmos este acontecimento e significarmos o nosso reconhecimento a todos os que contribuíram para tão grande benefício…”.

Propôs ainda Sequeira da Costa, que a vereação agradecesse ao Ministro do Reino e ao Governador Civil de Portalegre “… que muito cooperara para conseguir que o concelho fosse elevado a 2ª ordem.” (São sempre os mesmos, e já nessa altura nos lixavam, digo eu!).

Nessa mesma reunião, o Vereador Sequeira pronunciou-se também sobre o acontecido, mostrando igual satisfação, e disponibilizou-se para organizar todas as manifestações públicas relativas ao acto (não se sabe se os marvanenses, sobretudo os seus dirigentes, foram convidados como “animadores” das festividades!!!).
Já no fim dessa reunião, tomou a palavra o Administrador do concelho, Joaquim Fiusa Guião, que afirmou: “… associar-se ao justo contentamento da câmara, e agradecia como delegado do Poder Central, as manifestações endereçadas ao governo e ao magistrado distrital”

De realçar ainda, que na acta da reunião seguinte, o Secretário do Município de Castelo de Vide afirmou que de acordo com o as orientações “… se tinha deslocado à vila de Marvão onde tinha recebido, das mãos de Luís Pinto de Sousa Júnior, Secretário da extinta câmara, o respectivo arquivo”. Acrescentando também, “… que a transição se efectuara na melhor ordem e sossego e que isso ficava lançado em acta, para que a todos os tempos ser conhecido”.

POR ONDE ANDARIAM OS HEROIS DE MARVÃO?

Analise política do autor:

Como foi dito no Capítulo anterior, à data da supressão do concelho de Marvão em 1895 a Vereação de Marvão era presidida por Matos de Magalhães, conotado com o Partido Progressista; enquanto a Vereação de Castelo de Vide era presidida por Sequeira da Costa, do partido Regenerador, que por essa altura era também Governo do Reino, logo, como é lógico, os centralistas facilitaram o sentido dessa integração.

Consta ainda que, nessa altura o partido Progressista era liderado a nível distrital por Frederico Laranjo, que terá prometido e convencido os “dirigentes marvanenses” (Progressistas) a aceitarem a integração em Castelo de Vide, com a promessa de lhes arranjar “um tacho”, no próximo “elenco progressista” camarário de Castelo de Vide, em futuras eleições autárquicas que se realizaram em 1896, e que esses nossos “heróis” aceitaram sem fazer ondas…

Só que Frederico Laranjo nunca cumpriu a promessa. E mesmo que o fizesse, de nada lhe valeria, pois os Regeneradores voltaram a ganhar as eleições na “vala” de Castelo de Vide! O que não se sabe, é se terá sido com o voto dos marvanenses….

6 comentários:

Felizardo Cartoon disse...

Excelente testemunho histórico com desenvolvimento apropriado, conclusivo e bem documentado ; está bem alicerçado e denota estudo e trabalho de pesquisa metódicos .

Hermínio Felizardo.

disse...

A questão, para mim, é a seguinte e é simples:
- Marvão é um concelho?
- Castelo de Vide é um concelho?
- Arronches é um concelho?
- Monforte é um concelho?
- Fronteira é um concelho?
- Sousel é um concelho?
Pois respondo que tenho a convicção que nenhum destes concelhos tem capacidade para ser um concelho, e também tenho algumas dúvidas sobre se Campo Maior, Avis, Gavião e até Nisa têm massa crítica suficiente para serem concelhos.
Dos actuais 15 concelhos do distrito não há qualquer justificação para que haja mais de cinco, e já estou a ser tolerante.
Convém talvez recordar que quando Marvão foi extinto como concelho, foi bem extinto. Foi extinto como foram Monforte (depois igualmente – mal - restaurado), Alpalhão, Tolosa, Veiros (com integrações várias posteriores até que ficou em Estremoz, distrito de Évora), Tolosa, Montalvão, Arês, Vila Flor, Alegrete, Chancelaria, Seda, Pedroso, Cabeço de Vide (integrado em Alter e, por políticas locais relacionadas com o poder sobre as termas, em Fronteira a partir de 1936), Belver – e só Belver tem 13 aldeias - (com integração em Mação, distrito de Santarém, e posteriormente em Gavião), Amieira do Tejo, Montargil e outros.
O distrito de Portalegre tinha, nessa altura, mais de 40 concelhos. E o Portugal Moderno que "desenhou" Mouzinho da Silveira foi, diz a tradição, concebido no cadeiral da Câmara Velha, em Marvão.
Analisemos a população da altura, a dimensão intrínseca de cada concelho, a sua riqueza, a sua estrutura funcional, a sua capacidade produtiva. Comparemos essa realidade com a actual, e sem bairrismos nem idealismos, racionalmente só podemos concluir que Marvão, como muitos outros concelhos, só poderão ter algum futuro e criar sinergias integrando-se.
Não vou discutir aqui o "como", mas a estrutura actual faz tanto sentido como haver três freguesias na vila de Castelo de Vide, onde uma já é demais.
Mas Castelo de Vide, com uma aldeia grande e uma pequena, é um concelho?
Neste critério, porque é que Montargil já não é concelho?
Que Gavião, que tem 33 aldeias seja concelho, vá que não vá, se bem que acho que devia juntar-se com Nisa
Meus amigos, por muito que nos custe, cinco concelhos no distrito de Portalegre já são demais.
Aliás, a existência de muitos concelhos e de muitas freguesias só tem interesse para os autarcas, que assim são mais e são mais a ganhar; e para as estruturas macrocéfalas das Câmaras (a de Marvão já vai em cinco engenheiros, quando um lhe sobrava, como acontece no Gavião) e para esturrar o dinheiro que devia ser aplicado em desenvolvimento.
Podemos todos gostar muito de piscinas, de cinemas, etc., mas alguém me pode explicar para que existem três piscinas no concelho de Fronteira, uma delas fechada há anos?
Pois, porque é concelho, só por isso. E porque é que há-de haver cinemas no Crato e em Alter, piscinas no Crato e em Alter? Não bastava uma boa piscina no Crato, um bom cinema em Alter e tanques de aprendizagem em todas as freguesias?
E, claro uma rede eficaz de trasnporte público com pequenos autocarros.
E para que são duas Câmaras, quando uma já tem empregados a mais para três concelhos, quanto mais para um?
Porque é que Castelo de Vide tem mais 50% dos funcionários que Gavião, quando este concelho tem 33 aldeias?
Meus amigos, não é agradável ouvir isto, sejamos de Alter, de Monforte, de Arronches, de Castelo de Vide ou de Marvão. Mas muitas vezes a verdade é dura de ouvir.
Se continuarmos assim estamos a enterrar-nos alegremente. E todos sabemos disso.
Podem não gostar do que aqui está escrito (nem eu gosto), mas se for falso o que aqui escrevi, desmintam-me.... e como eu gostaria que o pudessem fazer com argumentos racionais e com indicadores de gestão, mas todos sabemos que infelizmente a realidade que vivemos é aquela que sumariamente descrevo.
Proponho, porque me parece mais lógico, que se assuma que - independentemente dos ódiozinhos típicos das terras vizinhas de dimensão semelhante - o futuro, a existir, tem de passar pela unificação dos concelhos de Marvão com Castelo de Vide e com Portalegre (poderia dizer Castelo de Vide com Nisa e Marvão com Portalegre, mas parece-me mais eficaz o "triângulo"). E só não lhe junto Nisa porque me parece que Nisa seria mais eficaz com Gavião e eventualmente com Crato. Ou Crato com Alter; ou Alter com Fronteira, Avis e Ponte de Sor; ou Gavião com Ponte de Sor e aí já podia deixar Castelo de Vide com Nisa.
E Arronches com Monforte e Campo Maior, ou Campo Maior com Elvas, e Arronches com Portalegre, e Monforte com Fronteira e Sousel.
Há aqui vários jogos possíveis (e não excluo a extinção do próprio distrito (aliás, na prática o PSD já o quis fazer e o PS não discordou), pelo que as "fronteiras" não têm de ser vistas apenas tal como as temos actualmente.
Com as freguesias já esteve para avançar e vai certamente avançar. E inevitavelmente seguir-se-ão os concelhos
Desculpem-se ser desmancha-prazeres em momento gregário e de estímulo ao amor-próprio do concelho restaurado (que nunca o deveria ter sido, como não o deveria ter sido Monforte). Possivelmente hoje o concelho (seria inevitavelmente de Castelo de Vide, é verdade, e isso é talvez até o mais "complicado" para o natural amor-próprio marvanense) teria mais pujança e mais capacidade de enfrentar o futuro.

Meus amigos, estamos numa região à beira da rotura, sem capacidade já, pelos seus meios, de sobreviver, e sem apoios externos (do Estado que somos todos) para inverter o caminho do abismo.
Não, não estou a ser pessimista, apenas realista.
Por isso ou criamos, rápida, muito rapidamente sinergias e estratégias eficazes e conseguimos contar com apoio externo (parece-me mais seguro pedi-lo directamente à UE do que esperar que seja o Estado português a fazer alguma coisa de útil pelo nosso território), ou podemos ter a certeza de que em 50 anos existirão apenas algumas aldeias por aqui, algum turismo de natureza e nada mais restará, para além de alguns dos mais novos de nós já muito velhos.

João, disse...

Muito boa esta reflexão aqui trazida pelo Zé, possamos ou não, estar de acordo com a sua opinião, eu próprio tenho algumas dúvidas.

Ao trazer aqui a debate este tema, sobre a história recente do nosso concelho de Marvão, outra intenção não tive, que testemunhar como a historia às vezes se assemelha, e muitos dos problemas de hoje, mais não são, que a repetição de situações já vividas no passado, embora com novos interlocutores.

O que é pena é os visitantes aqui do Fórum andarem tão pouco participativos, e sobre este tema aliciante sem dúvida e actual, teríamos aqui muito pano para mangas…

jbuga

Unknown disse...

Parabéns ao J. Bugalhão por ter trazido este tema a debate, numa época em que, não só se comemora a restauração do Concelho de Marvão, como também se volta a colocar a questão das anexações entre concelhos. Tal como no final do século XIX, também desta vez Marvão não é um caso isolado.

Não há qualquer dúvida que temos, queiramos ou não, que concordar (pelo menos em parte) com a análise do Zé. Poucos são os concelhos do distrito que, economicamente, têm viabilidade e justificação para existirem por si só. É um facto.

No entanto, o Zé deixou de parte algo que não é tão irrelevante assim... Não compreendo por que têm os sentimentos das pessoas que valer menos (ou nada) quando comparados com a economia. Sempre a economia! Sempre razões económicas para justificar todas as decisões que regem a nossa vida!

Obviamente que não deixam de ser importantes os motivos económicos. Mas não haverá possibilidade de gerir as autarquias de forma mais inteligente e até mesmo, como diz o Zé, partilhar infraestruturas e serviços sem tem que recorrer à extinção da unidade política e social que está mais próxima e entranhada no coração das populações?

Será que isso não vale nada? Será que o caminho mais fácil e profícuo é sempre o que vai a direito? Claro que seria necessário pensar, integrar, reestruturar e partilhar mas isso dá mais trabalho que assinar um decreto de extinção! As pessoas não importam, nunca importa o que sentem as pessoas?

Seria difícil para qualquer munícipe de qualquer concelho que fosse extinto aceitar essa situação. Para os marvanenses não seria menos. Há excepção do interregno cujo fim agora se comemora, Marvão existe como concelho desde 1226. Isso implica muito mais que economia e que números. Implica Amor, implica pertença! Podem não ser ainda do nosso conhecimento (e podem nunca vir a ser) as reacções dos marvanenses de 1895, mas não acredito que tenham ficado impávidos com a desmontagem e instalação em Castelo de Vide da Porta da Aramenha, por exemplo! As suas opiniões é que provavelmente nunca passaram das orelhas moucas que podiam manifestar-se...

Vamos pôr um pouco de lado a ditadura do dinheiro e pensar em soluções que, sem prejuízo dos povos, permitam que seja sustentável ter uma Câmara nos nossos concelhos. As pessoas que estão à frente delas, isso sim, terão que ter mais algum trabalho, mas quem corre por gosto...

Cumprimentos!

Luísa Garraio disse...

Parabéns ao excelente comentário feito pelo Zé...acho-o mesmo muito corajoso e bastante realista...

..isto de estarmos sempre a olhar para o nosso umbigo...deixa-nos com essa atitude de amor próprio sempre em cima...a diferença vista de Marvão é sempre grandiosa, mas afinal somos tão poucos e sofremos tanto de miopia (alguns de cegueira mesmo) que se o Dr. Trancón se apercebe ainda investe num consultório e ganha uns trocos...

...isto de cortar a direito nunca se põe em prática...não dá votos, não dá emprego...são apenas formas de clarificar, de racionalizar...mas sobretudo de provavelmente fazer as pessoas mais PESSOAS...

...e a Economia meu amigo Jorge está em todo o lado...e devia estar ainda mais presente em muitas circunstâncias, pena que se julgue que a economia se sobrepõe ao bem-estar das pessoas...nada de mais errado...se se tem racionalizado mais noutros momentos não estariamos como nos encontramos...tão sós, tão únicos mas com tendência para sermos cada vez menos...e mais deprimidos...

Garraio disse...

Este tema da restruturação não "é bem assim" como a estão a ver o Zé e a minha mana.

Dentro de dias, talvez se abra um post expressamente para discutir este assunto, penso que seria o ideal.

Primordial é saber se queremos ter interior, ou queremos ter, definitvamente, um deserto.

O poder local está mal estruturado. De acordo.

A maioria das freguesias destes concelhos pequenos têm que ser diluídas. De acordo.

Mas não é a eliminação de concelhos que vai resolver nenhum problema. Antes pelo contrário, só vai agravar mais as grandes desigualdades que os cretinos que nos governam em Lisboa teimam em acelerar.

É preciso analisar tudo aquilo que em Portugal foi feito pelo poder local desde o 25 de Abril a esta parte. E fazer um balanço.

Que se pode melhorar? Evidentemente!!

Cá para mim foram, os portuguesitos, esses espertos parvos, que há mais ou menos dez anos, impediram que se tivesse rectificado grande parte dos desvios que se têm vindo a verificar, ao chumbarem a regionalização.

Não é preciso ir cinco anos a passear livros para Coimbra, para perceber que o poder local está "MUITO LONGE" do poder central.

E que os presidentes de Câmaras
são uma espécie de reizinhos, que não devem obediência a ninguém.

É necessário criar um poder intermédio, que diga. que só se faz uma piscina por cada três concelhos. Que só é necessária uma escola, onde muitas vezes há duas, ou três. Que um gimnodesportivo é suficiente para uma população de 5000 pessoas(por dar um número).

Esse tipo de disciplina tem que ser fomentada por um poder regional que faça a ponte e que controle de perto os municípios. Não pode, nem deve acontecer com a eliminação de Câmaras Municipais. O que se trata é de criar normas para controlar os gestores do poder local. E, na verdade, nem todos precisam de ser controlados. Porque alguns há, que ainda sabem o que fazem.

Digo eu...