terça-feira, 30 de março de 2010

Novos Povoadores, Velhas histórias...

(Ò Tiago, a malta até já se tinha esquecido disto! )

Tem-se andado aqui no Fórum nas “bordas” deste tema, mas parece-me que ele ainda não foi verdadeiramente esmiuçado. Vou tentar deixar aqui a minha versão:

O projecto Novos Povoadores é promovido pela empresa “Info-excelência, Lda.”, liderada pelo Sr. Lucas (empreendedor de projectos de inteligência territorial), um “ponta de lança” à moderna, que numa das suas visitas ao Interior de Portugal abandonado e ostracizado, teve uma ideia, obvia: “… que se no litoral existe gente a mais, e no interior falta dela, talvez que, transferido alguns citadinos (segundo ele injectar massa critica em território abandonado), para o meio rústico, servindo ele e a sua empresa como facilitadores, talvez pudesse adicionar alguns activos ao seu património!"

Logo de seguida, juntou-se com uns amigos e formou a dita empresa, e deitaram mãos à obra. Entraram em contacto com algumas autarquias, entre as quais Marvão, a quem propuseram o negócio, que se baseava na seguinte metodologia:

A “Info-excelência, Lda.”, seleccionaria 10 famílias fartas da cidade, previamente inscritas nos seus ficheiros (sem nos elucidar de quantos membros cada), trá-las-iam a conhecer os indígenas e o seu cantão, que já deveriam ter sido sensibilizados a serem hospedeiros exemplares e afáveis para tão distintos “colonos”, e quando colocassem cá por 12 meses metade dessas famílias de elite (cinco), a dita empresa recebia 18 300 euros; quando colocasse cá as dez famílias, receberiam mais 18 3000 euros, que totalizariam 36 600 euros.

Estas verbas eram na totalidade para a “empresa promotora”. Nada de fazer confusão que seriam para os ilustres seleccionados.

À autarquia cabia: facilitar os contactos com a povoação indígena, servir de cicerones para mostrar e disponibilizar os recursos do cantão, usar todo o seu charme para demonstrar que o seu território é melhor que o do vizinho, solucionar problemas do dia-a-dia, resolver conflitos, e claro, pagar a conta ao Sr. Lucas e aos seus prestimosos colaboradores.

Para ilustrar este Projecto, juntaram os seus promotores uma serie de termos “inglesados”, para que soubéssemos que os senhores eram gente culta e tinham frequentado “faculdades de primeira” (mas onde não existem dicionários), tais como: hardware, nearshoring, outsourcing, co-working, personal touch, corporate, kit …, etc.

Foi assim este “Projecto” aprovado em Câmara Municipal, com 3 votos a favor (Vítor Frutuoso, Luís Vitorino e José Manuel Pires); abstenção de Madalena Tavares; e voto contra de Nuno Lopes.

Após esta aprovação, foi o dito, submetido a apreciação e aprovação na Assembleia Municipal, tendo sido aprovado apenas pelos votos favoráveis do PSD (11 votos), e abstenções do PS e “Juntos por Marvão” (8 votos).

No entanto, os membros do PSD, que não quiseram inviabilizar à partida um Projecto que parecia elegante na sua filosofia, fizeram aprovar uma “pequena alteração” e que se baseava no seguinte: o período de permanência teria de ser de 18 meses; e a fórmula de pagamento seria: 25% no acto de assinatura, 25% após instalação de 5 famílias, 25% após instalação de 8 famílias, e o restante quando se instalassem as 10 famílias.

Claro que, à excepção do período de permanência (18 meses), a coisa ficava praticamente na mesma, mas mostrava que os representantes dos indígenas estavam atentos, aos “inteligentes” promotores.

Parece que esta alteração irritou o Sr. empreendedor de projectos de inteligência territorial e, pelos vistos, Marvão passou a ser um Cantão, fora da quimera dos Povoadores Novos…

TA: Este Sr. Lucas pensa que anda a contar “estóreas” da carochinha a meninos do campo, e já deveria ter aprendido na sua estadia em Trancoso, que o “conto do vigário” tem de ser melhor contado ao pessoal da “província”…

6 comentários:

Garraio disse...

Seus desconfiadões... num era nada disso!!!

Tiago Pereira disse...

Caro Bugalhão,

Não quero, nesta fase, fazer qualquer tipo de juízo apriorístico sobre o desenvolvimento deste projecto no Concelho de Marvão. Embora seja, desde o início, discordante da hierarquização de prioridades do executivo…

Passando à frente,

acho que as modificações que foram ratificadas em Assembleia Municipal, nascendo de uma intervenção tua (ou do teu grupo partidário) fizeram todo o sentido e puseram na linha da frente as dificuldades de implementação de um projecto como estes.

Continuo, no entanto, a acreditar na boa vontade dos Homens (em sentido lato), e como tal dou o beneficio da dúvida, em primeiro lugar aos responsáveis autárquicos que os marvanenses escolheram de uma forma peremptória nas eleições de 11 de Outubro, e também na crença importada neste projecto pelo Frederico Lucas.

Mas não nos mandem areia para os olhos, nem nos tentem vender gato por lebre!

Um abraço

Frederico Lucas disse...

Exmo. Senhor Enfermeiro João Bugalhão,
Li com particular cuidado as linhas que me dedicou, como adiante verificará.

Importa esclarecer em primeiro lugar o que é "inteligência territorial".
Na perspectiva humana, inteligência é o resultado das ligações neuronais do cérebro de um individuo. No conceito territorial é capacidade de discutirmos e partilharmos projectos com as pessoas que vivem nesses territórios.
Penso que o estou a fazer consigo neste momento, ao tentar compreender a sua perspectiva e ao expor a minha.

Sobre este tema encontrará mais informação em Territorial Intelligence, uma iniciativa da Rede Europeia de Inteligência Territorial.

Sobre a utilização de estrangeirismos nos meus textos, compreenda que o tema da competitividade territorial é relativamente novo em Portugal. Se eu traduzir esses temas, inviabilizo que quem me lê possa fazer pesquisas sobre essas temáticas e em consequência de captar mais informação sobre aquilo que escrevi.
Vivemos numa sociedade aberta e a vantagem maior reside na capacidade de discutirmos globalmente uma resposta para uma economia que se pretende global.

Sobre a temática dos meus rendimentos. Confirmo que sou remunerado pela actividade que desenvolvo, mais adiante escreverei sobre isso no caso Marvanense.
No entanto, partilho consigo um exemplo: Os profissionais de saúde vivem "à custa" da falta de saúde dos outros, e não vem mal ao mundo por isso. Trazem um contributo à sociedade e são remunerados por isso.
A minha actividade profissional, e da equipa que comigo trabalha, é na área do desenvolvimento territorial. Não considero que seja impróprio ser remunerado por isso.

Sobre a metodologia de implementação do projecto "Novos Povoadores": Tenho contestado os modelos não sustentáveis de repovoamento. O pagamento pela natalidade promove a perversão do sistema, isto é, os casais escolhem o município que melhor a remunera e abandonam pouco tempo após o nascimento.
Neste projecto acreditamos que o investimento deve ocorrer na formação para o empreendedorismo aos candidatos, mas não para financiar a sua mudança.
Pretendemos com isso "capacitar" (tradução do conceito empowerment) estes migrantes para constituírem projectos com a capacidade de empregar trabalhadores no local de destino, isto é, desenvolverem projectos cujas necessidades de mão de obra coincidam com aquela que existe disponível no território. Com isto, levamos novos consumidores para os cafés, restaurantes, supermercados e demais comércios de Marvão, e ainda que estes novos residentes criem emprego para a população desempregada local.
Creio que concordará que colocar no terreno estas iniciativas, e não no papel como já existem, merecem ser remuneradas.

Frederico Lucas disse...

Confirmo que não existe tradução para os termos que descreve em língua inglesa, ou a mesma não representa o conceito em causa: hardware, nearshoring, outsourcing, co-working, personal touch, corporate, kit, etc.

Sobre as alterações aprovadas ao nosso projecto. A contratualização de qualquer serviço requer negociação. O Sr Enfermeiro não aceitará que lhe alterem as condições de remuneração nas instituições com as quais colabora sem que antes a combinem consigo. Foi o que aqui aconteceu.

Relativamente ao nosso contributo em Marvão: O território Marvanense é rico em recursos naturais e edificados.
O desafio é transformar esses recursos em economia, para que dessa forma as pessoas possam aí viver com qualidade.
Considero um crime público a não utilização das infra-estruturas da GNR e Guarda Fiscal na Aldeia de Porto Roque.
Estão abandonadas há 18 anos, transformando-se em ruínas.
Julgamos ser aí um espaço interessante para a instalação de empresas de base no Conhecimento. Não se procuram industrias tradicionais, mas antes actividades que cativam nos dias de hoje elevado valor acrescentado.
Com pessoas bem remuneradas temos consumo e com isso desenvolvimento.
Nesse sentido deslocámos-nos três vezes a Porto Roque para visitar o edificado e aí falar com quem lá vive.
Para além disso, promovi a realização em Marvão de actividades desportivas não poluentes. Quando assistir às provas de Triatlo lembre-se que existiu alguém acreditou nisso e investiu alguns dias nessa aposta.
Fica desde já o Sr. Enfermeiro autorizado a publicar nestas páginas a quantia que auferi por esse trabalho, tal como já revelou os montantes envolvidos do projecto "Novos Povoadores".
Posso também revelar que contribui activamente noutras iniciativas, cuja divulgação ocorrerá em breve.

Quero agradecer a paciência que teve para ler este texto e pedir-lhe desculpa por aquilo a que não respondi. Entendi que a ofensa gratuita à minha pessoa deveria ficar como assunto encerrado.

Aceite um abraço


Frederico

João, disse...

Meu caro Frederico Lucas, em primeiro lugar quero agradecer-lhe o ter vindo a esta “nossa casa”, defender o seu ponto de vista sobre o Projecto que aqui abordamos, saiba que passei a considerá-lo mais por essa atitude.

Num outro âmbito, gostaria de lhe transmitir que dispenso o tratamento por “Exmo”, por aqui todos me conhecem por João Bugalhão, ou jbuga para os amigos e isso basta-me. Simultaneamente, peço desde já desculpa se as minhas palavras foram (ou são) ofensivas para a sua pessoa, não tinha essa intenção, mas tão-somente, o explicar de uma forma simples, aquilo que tem parecido tão difícil de compreender, e despertar alguma discussão local sobre o projecto.

Feitas as apresentações, vamos ao que interessa:

Ponto 1: No campo filosófico e dos conceitos, permita-me discordar consigo em relação ao considerar NOVO o conceito de “competitividade territorial”, pois ele é tão antigo quanto a existência da espécie humana (e não só), e aqui por Marvão, ele continua exacerbado, embora não necessitemos de “estrangeirismos” para nos entendermos e com um dicionário riquíssimo. Saiba que as marcas de um território também se afirmam pelo idioma, e defender o “português” fica bem.

Ponto 2: Desde há muito que penso que o repovoamento do interior de Portugal, só será possível de duas maneiras: ou através de um plano global do Estado, de abrangência nacional, que programe um movimento da população do litoral para o interior, com deslocação simultânea de uma serie de meios de sobrevivência dessa mesma população, instalados nas grandes urbes (ministérios, industrias, universidades, serviços, etc.). O que nunca acontecerá, porque “PLANEAR” não faz parte da filosofia dos portugueses;
ou através de qualquer catástrofe natural (sismo ou inundações), ou social (fome). Pelo que o seu “projecto”, filosoficamente, não passa de um simples “clister” administrado ao moribundo.

Ponto 3: Internamente (em Marvão), parece-me que antes de se abraçarem esses “projectos” de apoio a “imigrantes”, esbanjando os poucos recursos que temos, se deveria, prioritariamente, desenvolver acções (que não existem) para apoiar os nativos, sobretudo os jovens, para que alguns daqueles que aqui nasceram e vivem, não tivessem eles de emigrar, como acontece todos os dias.

Ponto 4: Refere a notícia vinculada pela TSF (utilizando-o como fonte), que o “Projecto Novos Povoadores”, não tem tido desenvolvimento, porque as Autarquias não se chegam à frente com o “bago”! Ora tanto quanto sei, não é esse o caso de Marvão. O Projecto foi aprovado na Câmara e Assembleia, bem como o respectivo Orçamento. Se a coisa está parada, não é por culpa da Autarquia. Porque será?

Ponto 5: Foi informado na última Assembleia Municipal, que o “Projecto” estava parado, porque a sua empresa, depois da proposta alternativa apresentada, estaria com duvidas quanto ao acolhimento dos “povoadores de elite”, e estariam com algum receio de ser mal recebidos por existirem algumas animosidades por parte de “alguns” indígenas marvanenses! Em minha opinião, penso que esses receios são perfeitamente infundados, já que Marvão, tem recebido ultimamente, pessoas que aqui se têm radicado, de todas as nacionalidades, credos e raças, e até à data, não é conhecido qualquer problema com a integração dessas pessoas.
Sinal dado na própria Assembleia, onde até foi proposto o alargamento para “18 meses” do período de instalação, sinal inequívoco, que não nos importa que venham.

Portanto meu caro, tem aqui um terreno fértil para mostrar os seus “novos povoadores”, não arranje é desculpas… e venham “mais cinco”, ou dez.

atenciosamente:

jbuga

Garraio disse...

Sempre fui completamente contra esta história dos povoadores.

Todos os meus tios tiveram que emigrar, nos anos 40/50; Todos os meus irmãos tiveram que emigrar nos anos 80/90;

Nunca houve apoio nenhum para que ficassem, a necessidade obrigou-os a partir, mas nos locais onde se estabeleceram também não receberam nada por isso.

Parece-me o cúmulo dos cúmulos, que Marvão, um dos últimos paraísos deste país que vai a pique, PAGUE, para receber uns camones, contra os quais não temos nada, mas o simples facto de haver dinheiro por meio, já se atribui um carácter de negociata que o torna intragável. Até pelo contrário, defendo que quem para cá quiser vir deve PAGAR E BEM!

Para além disso, pedir ao Sr.Lucas que informe os seus clientes que Marvão está repleto de víboras venenosas, espalhadas, segundo conversa do povo, pelo Parque Natural da Serra de São Mamede.
É pois um perigo viver aqui, porque em qualquer momento podemos sentir uma mordedura fatal que nos manda para o outro mundo em pouco mais de uma hora. Milhares de víboras, milhões de víboras...

Esta é a nossa triste realidade, como pode confirmar através dos jornais regionais que contam as experiências de vários indígenas atacados durante o último ano, cuja vida esteve em sério perigo.

Portanto, srs. pioneiros, muito cuidadinho com as víboras. Eu, na vossa pele, pensava duas vezes antes de me montar na carroça e dirigir-me para cá...

Terminar dizendo que considero notável a intervenção do João Bugalhão neste processo. Dedicar-lhe-ei um post, que tem mais que merecido.

Saludos raianos.