terça-feira, 21 de julho de 2009

Política “Espectáculo”

No Domingo fui ver a apresentação da candidatura do PSD às próximas eleições autárquicas de Marvão (que contou com a presença de cerca de cento e vinte pessoas) e fiquei completamente surpreendido!


A surpresa não resultou da apresentação das listas, visto terem sido, somente, apresentados os candidatos a Presidente da Câmara (Victor Frutuoso) e a Presidente da Assembleia Municipal (José Luís Catarino); nem resultou das propostas desta candidatura (que são de continuidade).

A surpresa resultou da presença na mesa de oradores de um dos portugueses mediáticos que mais admiro, que mais gosto de ouvir e que “devorei” em “A fúria das Vinhas”: Francisco Moita flores (actual Presidente da Câmara Municipal de Santarém).

E, também, da presença da sua formosa e talentosa mulher: A actriz Filomena Gonçalves (“Ballet Rose”….”Alves dos Reis”…”O processo dos Távoras”…”A Ferreirina”…).

As estruturas distritais do PSD e alguns “pesos pesados” distritais deste partido, bem como outras personalidades de Portalegre, também estiveram presentes; como por exemplo, Mata Cáceres. Eu diria que seria mais importante a promoção de políticas integradas, entre os vários Presidentes de Câmara, durante os quatro anos de mandato do que esta permuta de apoios, só para munícipe ver, em época de eleições!

Francisco Moita Flores foi, naturalmente, o principal orador. A mim, que sou capaz de o ouvir durante horas, sobre qualquer assunto, fezeram-me, desta vez, impressão alguns aspectos do seu magnífico discurso!

É claro que foi empolgante e emotivo (como é seu apanágio); que, quando falou em assuntos genéricos sobre o que é ser autarca, esteve soberbo, tendo sido aplaudido de pé, mas…a substância relativamente a Marvão?!?!

Moita Flores falou como se fosse um profundo conhecedor de Marvão e da sua política (e não é!); disse que da dúzia de políticos com que mais aprendeu, três estavam naquela sala – os presidentes de câmara de Portalegre, Sousel e Marvão, todos eleitos pelo PSD - (o que custa a acreditar!); disse que sabia que Victor Frutuoso e a sua equipa seriam a melhor escolha para Marvão (naturalmente que não tem conhecimentos para emitir tal opinião!); e afirmou, ainda, que não é político (quando era o maior político presente naquela sala!).

Não quero com isto dizer que concordo ou deixo de concordar com o que foi dito; digo, apenas, que me custou ver aquela grande personalidade (que eu tanto admiro), por solidariedade partidário ou por alguma amizade pessoal, vir a Marvão prestar-se a este papel.

Que desilusão!

Pela primeira vez vi e ouvi o candidato do PSD à Assembleia Municipal. Apresentou-se com um discurso muito bem estruturado e incisivo. Tem um curriculum valioso. Mas, teve a necessidade de afirmar e reforçar que é da Beirã; informar de quem é filho, sobrinho, etc…

Sintomático!

Sem ter como objectivo desprestigiar uma personalidade com um percurso profissional tão notável, e com quem até simpatizei, diria que ainda não entendi a necessidade das candidaturas insistirem em procurar, reiteradamente, cabeças de lista para a AM que, apesar de ostentarem um grande curriculum, não têm “vivido” Marvão…

Victor Frutuoso apresentou um discurso bem preparado, estruturado, com uma articulação positiva (apoiada em PowerPoint) e, desta vez, nada maçudo (como o mesmo fez questão de frisar).

Realçou que a suas propostas estratégicas seriam de continuidade. Na sequência do que foi iniciado nestes quatro anos.

Nomeadamente:

- Fixação de pessoas através da criação de emprego;
- Política de habitação;
- Investimento na imagem de marca “Marvão”;
- Aposta na economia agrícola e florestal;
- Requalificação urbana;
- Apoio ao turismo, onde a candidatura a património mundial será apenas mais um projecto;
- Aposta na economia social;
- Valorização da Ammaia;
- Desenvolvimento do Turismo de Natureza;
- Requalificação da fronteira dos Galegos


Grande Abraço

Bonito Dias
(bonitodias@clix.pt)

Um comentário:

João, disse...

Meu caro Fernando,
comungo inteiramente da tua opinião sobre Moita Flores. Um homem que aprendi a admirar, não só como polícia e criminalista, mas sobretudo como escritor e autor.

A “política” é uma actividade muito atractiva mas também muito perigosa e complexa. Eu próprio, em tempos, senti esse encanto (até me sinto um pouco responsável por te ter envolvido a ti e outros amigos), mas pela sua “paixão” descaracteriza as pessoas boas e honestas, como foi o caso desta intervenção do nosso amigo Moita Flores. Levando-nos muitas vezes a defender aquilo que nem nós próprios acreditamos. Felizmente que Moita Flores “abraçou”, ainda só e, por enquanto, a política autárquica, onde ainda se pode encontrar muita gente boa.

Há pessoas que nunca hão-de ter “jeito” para políticos, e cometem sempre grandes erros quando aí tentam intervir. Lembro os casos de José Saramago, Sousa Tavares e mesmo este nosso amigo Moita Flores. Há pessoas que nunca deveriam tentar fazer coisas para as quais não foram talhados, pois perdem sempre um pouco de si próprios…

Isto lembra-me um texto do meu livro da 4ª classe, sobre uma apreciação a outro grande escritor português, Alexandre Herculano, sobre o qual se afirmava que “… após a sua desilusão com a política, retirou-se da vida pública, e morreu só, na sua quinta nos arredores de Santarém”. Por curiosidade a autarquia de que o nosso ilustre é presidente.

O exercício da política não é para todos, é apenas para os que têm jeito, infelizmente, nem sempre pelas melhores razões…

jbuga