segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Rádio para Dois!..

Memórias da Rádio Ninho de Águias (Capítulo III)

(À memória de João Costa)

Após ter sido forçadamente abandonada por Fernando Pinheiro, a Ninho de Águias, ficou como que órfão, mas acabaria por ser recolhida pelo João Costa, outro dos entusiastas da causa radiofónica.

O Costa, após aquisição do emissor, cuido que ao Pinheiro, instalou o material no sótão da sua casa, no local onde hoje se encontra a Albergaria D. Manuel. Eram umas instalações amplas, com uma divisória quase exclusiva para estas actividades. O microfone e os órgãos anexos, também se encontravam mais à mão, e assim, “os piratas” passaram a piratear mais à vontade.





Na generalidade, poder-se-ia afirmar, que a mudança tinha sido positiva. Mas só na generalidade, porque na especialidade, e como em todos os processos de mudança, existem sempre algumas perdas, e, alguns dos colaboradores, haviam ficado pelo caminho. Mas haviam-se ganho outros, entre os quais, que me lembre, o Nuno Mota e o Caldeira Martins.

O João Costa havia sido ciclista, ciclista a sério, mesmo profissional, com Voltas a Portugal no currículo, talvez um dos de melhor craveira do distrito de Portalegre, até aos dias de hoje. Possivelmente, devido a essa formação desportiva, o João era menos controlador que o anterior “senhorio”, e dava-nos quase uma total autonomia, para fazer-mos o que quiséssemos da “menina” Ninho de Águias. Era também menos influenciável a pressões exteriores e não tinha telefone...

No entanto, nem tudo tinha evoluído favoravelmente nesta mudança. O apoio técnico, por exemplo, era menos apurado. Recordo-me uma vez, eu e o Nuno Mota, termos dúvidas se o emissor estaria a cumprir a sua missão, que era a de emitir! Vai daí, e após duas horas de serventia da melhor música das rádios pirata do mundo e arredores, ter-nos surgido a dúvida, até onde estaríamos nós a chegar? E, para isso, nada melhor do que irmos dar uma volta pelas redondezas e testar a eficácia do objecto. Após encaixarmos no leitor uma cassete da tal música “avariada”, ala, que eles aí vão de Renault 5, fazer uma sondagem da coisa.

Começámos pela Portagem, nada se ouvia; pensámos que era devido ao facto do emissor estar na encosta norte, fomos a SA das Areias e também nada. Pensámos que a potencia seria pouca e não estaria a “bombar” para tão longe como gostaríamos. Subimos a encosta, e nada. Chegamos até à porta da casa do João, e nem ponta de som da dita! Conclusão: Não havíamos ligado o emissor!

Tinham sido duas horas de Rádio para dois…




Nota: João Costa viria a falecer muito pouco tempo depois, de morte súbita. Foi uma grande perda para todos, sobretudo os seus familiares, mas também para a Ninho de Águias, que perdeu um dos seus maiores animadores.

(continua…)

Um comentário:

João, disse...

Do Tó Caldeira recebi por e-mail o seguinte Link, para quem queira saber mais sobre o grande ciclista que foi João Costa, e que eu próprio fiquei surpreendido, pois desconhecia que o João tinha chegado tão longe.

http://costinhas.planetaclix.pt/

Infelizmente, o João viveu num tempo em que o desporto em Portugal, e ciclismo em particular, viviam tempos difíceis, o que certamente, terá contribuído para a sua morte prematura, tenha sido por deficiência cardíaca congénita nunca detectada, quer tenha sido mais uma vítima de consequências das “experiências” tão habituais no ciclismo.

O que não tenho dúvidas é que se vivesse nos tempos de hoje, seria, certamente, uma referência no ciclismo nacional.

Onde quer que esteja, o Costa continua a ser lembrado e deixo aqui a minha homenagem…

jbuga