segunda-feira, 11 de agosto de 2008

AMMAIA - De Ruínas e Golfe a Golfe em Ruínas ( A "COISA" 2)

De todas aquelas pessoas que, vindas de fora, por cá resolveram ficar, há uma pela qual nutro uma especial, muito especial admiração. Carlos Melancia.

Em tom de brincadeira, direi que como ninguém é perfeito, ele escolheu morar ao lado de Marvão, mas isso é um pormenor de menor importância, atentos à obra que desenvolveu no Município.
E isso pese às contrariedades de todos conhecidas, provocadas por uma nefasta administração a que se somou a falta total de apoio das autarquias locais, geridas na época por pessoas suficientemente “míopes” para não vislumbrarem que, ao virarem as costas a projectos desta índole estavam, elas mesmas, a matar a galinha dos ovos de ouro que Melancia lhes oferecera de mão beijada, a troco de nada, ou quase nada.
Que eu saiba, no distrito de Portalegre, só António Domingos Sousa apoiou os projectos de Carlos Melancia e conseguiu disponibilizar do PORA uma verba próxima aos 200.000 contos, permitindo que quem vá à cidade romana da Ammaia possa ver aquele Museu e grande parte das escavações efectuadas.
Hoje em dia, como é público, a cidade da Ammaia e o Castelo constituem os dois pólos de atracção turística mais importantes de Marvão. Bem-haja a António Sousa também, grande homem onde os houver, que, com a sua perseverança e interesse pelo desenvolvimento da nossa região contribuiu decisivamente para o trabalho, que, até à data, foi possível fazer na Ammaia. É preciso não esquecer que sem a intervenção destes dois homens continuaríamos a ter ali uma casa devoluta e uma horta abandonada.
E as restantes entidades? Em termos operacionais, todas juntas valeram ZERO! A partir de determinado momento, as dificuldades económicas começaram a surgir, o campo de golfe só por si não era rentável (nenhum é), e era necessário encaixar algum capital para dar continuidade ao projecto. Acredito que esse encaixe seria suficiente se tivesse sido concedida autorização para entregar aos seus compradores, parte da urbanização que entretanto já tinha sido construída. Só que isso não aconteceu. Eu não sei porquê. Mas desconfio. A triste realidade é que se deu uma “facada mortal” no projecto Ammaia, não lesando só o empresário. Lesados resultaram também os compradores, uma vez que a alguns deles poderiam ter sido entregues as moradias que haviam adquirido!
As vezes que aqui ouvi: "Isto é o mais parecido que conheço com o Paraíso!!"


Àqueles que pensam que o golfe só serve para gastar água e proporcionar um campo verdinho onde ricaços meio afeminados tentam dar cacetadas numas bolinhas, devo dizer que estão rotundamente enganados.
Portugal tem condições climatéricas de excepção para a prática da modalidade e no dia em que a Federação deixe de estar nas mãos de meia dúzia de conservadores (para não dizer fascistas), perfeitamente convencidos de que Portugal é o seu jardim, as coisas mudarão de figura.
Em Espanha, que não há essas paneleirices de Drs e Engs., tão características do nosso sub-desenvolvimento mental, percebeu-se rapidamente que era obrigatório tornar o golfe num desporto de massas. Agarraram nos miúdos das escolas e deram aulas gratuitamente, no âmbito do desporto escolar. Por cá, os tais fachas, fecharam-se em copas e guardaram o "brinquedo" só para eles.
Espanha tem 350.000 federados. Portugal, creio que não chegam a 20.000. Espanha tem vários jogadores de primeira linha mundial, teve Ballesteros, hoje tem Sérgio Garcia, Jimenez e outros jovens que estão a subir no ranking Mundial. Em Portugal, a não ser para algum “pastel de nata” da linha do Estoril, não há apoio para ninguém.
Viu-se, por exemplo, com o José Manuel Raposo, filho do António Raposo, candidato a vereador no Município de Marvão. O miúdo tinha condições excepcionais para jogar e se tivesse sido apoiado pela Federação poderia, neste momento, andar a dar cartas por esse mundo fora. Mas era do Alentejo e não era filho de Drs. Lixou-se.


Ruínas da Ammaia: Por obra e graça de Carlos Melancia

Com o encerramento do campo de golfe perdemos uma série de coisas, e não é liquido que as voltemos a recuperar:

- À volta de 20 postos de trabalho directos, quase todos ocupados por residentes no Concelho. Hoje já não trabalham em Marvão, e, mais grave ainda, possivelmente optem por viver nas zonas onde conseguiram arranjar trabalho, ou seja, nos nossos concelhos limítrofes;

- Muitas pessoas compraram casa no Concelho devido ao golfe. Hoje, ou querem vender, ou aparecem por cá dois fins-de-semana por ano;

- O campo contava, ao longo do ano, com vários torneios oficiais que traziam centenas de pessoas, esgotando a capacidade de muitas das nossas unidades hoteleiras. Cada torneio destes representava um fim-de-semana igual ou superior aos dos maiores eventos de que dispomos: Feira da Castanha, Gastronomia, etc.

- Da restauração, nem é preciso falar. Este turismo não pára na Fonte dos Coelhos a comer o farnel. É de outro tipo, como todos sabem. Só do Clube de Golfe de Abrantes que, ao não ter campo, tinha a sua sede no Ammaia, vinham todos os fins de semanas, algumas dezenas de jogadores. Eram bons clientes dos nossos restaurantes e alguns até por cá ficavam todo o fim-de-semana, quatro fins-de-semana por mês. Se alguém duvidar, perguntem ao Serrinha, ao José Francisco, ou no Sever, entre outros.
Acabou-se o dinheiro, paralizou a obra, fechou o campo

Às vezes, dou por mim a pensar como seria a zona com 100 apartamentos + 36 vivendas repletas, pelo menos ao fim de semana, por pessoas não conflitivas, com enorme poder de compra, a divulgarem as nossas potencialidades fora de aqui, em Lisboa, no Porto, em Madrid, ou em Paris. E a divulgarem-nos da melhor forma possível. Boca a boca, dando a conhecer as nossa maravilhas, naturais e patrimoniais.

O Golfe da Ammaia terá sido, hipoteticamente, a grande oportunidade de Marvão para inverter a tendência do aumento galopante do seu índice de desertificação. Mesmo que grande parte dessa população só cá estivesse três dias por semana, teria valido a pena. E muito. Teria sido também a oportunidade de manter permanentemente uma empresa com várias dezenas de trabalhadores. Só a Nunes Sequeira, SA., emprega tanta gente.

Tudo isto foi desperdiçado infamemente pelos políticos de então, (mal aconselhados ou por iniciativa própria?) não só pelo apoio negado, mas também por não se oporem a impedimentos administrativos facilmente ultrapassáveis que teriam viabilizado o projecto, ou pelo menos, o teriam mantido vivo e em funcionamento até que mudasse de mãos.

Apartamentos acabados e vendidos. Porque não foram entregues?

Será possível que uma decisão mal tomada, uma autorização negada, uma licença não passada, um apoio não concedido, possa ter posto em causa um investimento destes, num Município como Marvão? É bastante provável… por incrível que pareça.

Nem quero pensar nisso... mas prometo que um dia farei essa pergunta a Carlos Melancia. O que já não prometo é tornar pública a sua resposta.

De todas as formas, obrigado Carlos Melancia, por um dia ter tido um sonho que decorreu em Marvão. Pena que alguns “marvanenses”, tanto tenham contribuído para que o sonho se transformasse em pesadelo.

Um comentário:

Bonito disse...

É com o passar do tempo que a história das coisas se vai fazendo...

Por terras de Marvão não se gosta muito que a história das coisas vá submergindo do "lamaçal"...

É, também, isso que se deverá ir mudando!

Julgo que este post do Garraio dá um bom contributo nesse sentido e, ainda por cima, num tema de tão grande importância.

Do mesmo, gostava de sublinhar dois parágrafos:

"..Tudo isto foi desperdiçado infamemente pelos políticos de então, (mal aconselhados ou por iniciativa própria?) não só pelo apoio negado, mas também por não se oporem a impedimentos administrativos facilmente ultrapassáveis que teriam viabilizado o projecto, ou pelo menos, o teriam mantido vivo e em funcionamento até que mudasse de mãos.

Será possível que uma decisão mal tomada, uma autorização negada, uma licença não passada, um apoio não concedido, possa ter posto em causa um investimento destes, num Município como Marvão? É bastante provável… por incrível que pareça. ..."


E seria bom que estes, alegados, erros do passado não se voltassem a repetir para que esta história ainda possa ter um fim feliz...

Eu acredito que sim. O empreendimento está inserido numa zona com excelentes condições naturais para atrair investidores.

Oxalá os entraves não levem a melhor, novamente!

Grande Abraço
Bonito Dias