quinta-feira, 1 de julho de 2010

"ESPANHA 9 – PORTUGAL 2"

(Leia tudo se quiser perceber o título...)


“… o futuro nos dirá se tenho razão ou não - é que a união de Portugal com a Espanha será uma fatalidade. Positiva, espero, e que não retirará nada à cidadania portuguesa que continuaremos a ter. Nem ao hino, nem à língua, nem à cultura, nem a nada, até porque a confederação ibérica foi defendida no séc. XIX por muito boa gente como, por exemplo, Antero de Quental.”

José Saramago



Tenho hesitado muito, em postar aqui, assuntos sobre futebol a nível nacional, uma das minhas paixões, pensando que, talvez, não tenha sido para isso que este espaço foi criado, e ao longo dos 2 anos que o Fórum leva de vida, consegui resistir.

No entanto, como estamos em período de férias e porque os assuntos locais nesta época não abundam, aqui deixo a minha modesta reflexão sobre o tema do momento: Eliminação de Portugal do campeonato do mundo de futebol.

Não irei abordar o tema pela perspectiva “folclórica”, em que o futebol se transformou nos últimos tempos, devido ao fenómeno mediático em que os meios áudio visuais o transformaram. Isso a mim não me interessa, diga-se, que até me enjoa e, às vezes enoja, e chego a pensar que estão a liquidar o FUTEBOL. Para mim o futebol é o que se passa dentro das 4 linhas.

Toda gente opina e intervém nesse folclore. A opinião daqueles que passaram uma vida “dentro das 4 linhas”, muitos deles peritos e mestres na arte, é igual aos dos que nunca puseram os pés num campo de futebol, nem sabem responder, àquela pergunta estupidificante de “… quantos lados tem uma bola?”.

Os solistas são vários: Ele é o Santana, é o Tavares (agora até parecem amigos), é o Vasconcelos, é o Moreira, é o Oliveira Costa, é o Ferreira, é o Barroso, é o Guedes, etc., etc., sem esquecer o grande catedrático Joaquim Rita (um asno, na minha opinião), todos “especialistas da porra”, a “botar” uma verborreia (ou será diarreia), sobre tácticas e estratégias futeboleiras, para pôr a “dançar” um país de rústicos, que quase se deixa encantar por estes “acordeonistas”.

Tem esta introdução como finalidade, o analisar o desempenho da selecção portuguesa no mundial da África do Sul.

Algumas notas previas, para melhor me fazer entender:

1 – O futebol é um “jogo” que permite sempre 3 resultados: vitória, derrota e empate.

2 – Portugal tem uma “boa” selecção. Mas não foi nem é das melhores do mundo (a não ser para alguns desses parolos, que atrás citei). Só por critérios manhosos e circunstanciais da FIFA, nos classificam, actualmente, em 3º lugar. Em minha opinião, quando muito, andaremos pela 10º, com muito boa vontade. E não é nada mau, assim Portugal o fosse em todos os seus desempenhos: da economia à saúde, da educação à justiça, da riqueza à pobreza, da música ao teatro, da honestidade à ausência de corrupção…

3 – 1 Jogador ou 2 ou 3, não fazem uma boa Equipa, nem sequer 11. São precisos pelo menos 15 bons jogadores.

4 – Em toda a história do Futebol, apenas 2 vezes, Portugal alcançou melhores classificações que este ano: em 1966 (3º lugar) e 2006 (4º lugar).

5 – Dos “artistas” que atrás citei e outros que não citei, qual deles ocupa nas actividades que desempenham, lugar nos 10 melhores do mundo. E quantos deles já foram contratados para desempenhar actividades de relevo fora cá do “burgo”? Como podem eles arrasar o seleccionador?

6 – Talvez estes fazedores de “opinião da treta”, estivessem mais contentes quando perdemos com Marrocos e Polónia (1986), ou com os Estados Unidos e Coreia do Sul (2002). Ganhar à Coreia do Norte, empatar com a Costa Marfim e Brasil, não é bom, é muito bom para Portugal.

Fixemo-nos agora, no jogo que perdemos com a Espanha por 1 – 0:

– A selecção espanhola não é melhor que a portuguesa! É muito melhor, em diversas vertentes, senão mesmo na sua totalidade (é a 2ª para a FIFA, com os tais critérios manhosos). O que, não quer dizer, que não pudéssemos ganhar; mas também poderíamos perder, e foi isso que aconteceu (o futebol é um jogo em que se pode perder, ganhar e empatar).

- Nesse jogo, o nosso melhor jogador não existiu, nem para cantar o hino. Só dei por ele, no final do jogo quando soltou umas “bacoradas”, indignas dum “capitão”. Se aquele é o melhor do mundo? Como classificar o nº 7 espanhol David Villa?
Se a FIFA realizasse uma classificação final global, para apurar os melhores jogadores do mundial, com critérios objectivos de futebol, o CR 7 português não ficava nos 50 primeiros.

- Por fim façamos um pequeno exercício que vos proponho.
Se você fosse treinador, e lhe fosse dada a oportunidade de escolher jogadores para disputar um jogo, de entre os 22 jogadores que entraram de princípio no Portugal – Espanha, qual seria a sua escolha?

A minha aqui fica, porque quereria ganhar.

- Guarda-Redes: Eduardo ou Casillas?
Considero que o Eduardo foi o nosso melhor jogador neste mundial. Mas o “portero” espanhol é sem dúvida um dos melhores do mundo. Devido à sua experiência não hesitaria, Casillas seria o meu guarda-redes.

- Lateral-Direito: Ricardo Costa ou Sérgio Ramos?
Sérgio Ramos, sem justificação.

- Central 1: Ricardo Carvalho ou Puyol?
Para mim, a escolha seria sem dúvida o “central” português Ricardo Carvalho. Um dos melhores defesas portugueses de todos os tempos, um exemplo dentro e fora do campo. Reparem só o que é deixar de fora Puyol!

- Central 2 – Bruno Alves ou Piqué?
Apesar do Bruno ter sido um dos melhores jogadores de Portugal, a minha escolha seria Piqué, um dos melhores centrais do mundo. Para além de defender entra no ataque como eu gosto, e faz desequilíbrios fundamentais.

- Lateral-Esquerdo: Coentrão ou Capdevila?
Sem hesitar Coentrão. Não sei se Espanha vai ser campeã do mundo, mas com Fábio? Não sei, não sei... Grande revelação ao mundo. Para mim, só superado por Eduardo.

- Médio-Defensivo, de Cobertura ou “Trinco”: Pepe ou Sérgio Busquets?
Busquets. É como estar a comparar o “terreiro do paço, com a feira das galveias…”.

- Médio 1: Tiago ou Xavi?
Com todo o respeito por Tiago, Xavi é fabuloso! Tiago é bom mas Xavi é o melhor do mundo na sua posição.

- Médio 2 – Raul Meireles ou Xabi Alonso?
Escolheria Xabi Alonso pela sua segurança defensiva, pelo menos para 70 minutos, depois talvez entrasse o Meireles, que também esteve à sua altura.

- Médio 3: Simão ou Iniesta?
Iniesta, sem justificação.

- Avançado 1: Hugo Almeida ou Torres?
Torres para 80 minutos, depois entraria Hugo Almeida, senão tivesse à minha disposição um tal de Llorente.

- Avançado 3: Cristiano ou Villa?
Villa, sem justificação.

Se bem que nem sempre o todo, seja a soma das partes..., lá que contribui, contribui...

Resumindo a minha Selecção, que bem poderia ser a IBÉRIA:

Casillas; Sérgio Ramos, Ricardo Carvalho, Piqué e Fábio Coentrão;
Sérgio Busquets, Xabi Alonso, Xavi e Iniesta; Torres e Villa.

Por tudo isto, ser eliminado pela Espanha, é algo perfeitamente normal e não o fim do mundo, como nos parecem fazer crer. Ganharam os melhores.

Assim se percebe o título deste Post, e talvez o resultado do jogo: ESPANHA 9/11 – PORTUGAL 2/11.

TA: E não me venham com essa treta da falta de patriotismo. Tratam-se apenas de evidências. Actualmente, em cada 10 jogos, ganhamos 1 à Espanha.

3 comentários:

Jorge Miranda disse...

Bem vindo de volta, JOHN BENJAMIM TOSACHK.
Na mouche, eu não fiquei muito desiludido, porque tanto gosto de Portugal como de Espanha.
No entanto, por uma vez gostava de ter ganho aos espanhois.
O Carlos Queiroz foi um asno, e digo-o deste o dia que tomou conta da selecção, começou numa péssima escolha dos 23 e continuou nas opções que apresentou dentro das 4 linhas.
Intelectual de pacotilha, com medo até da própria sombra...
Um abraço
Jorge Miranda

Felizardo Cartoon disse...

Se me é permitido, gostaria de fazer aqui um contraponto à reflexão do Bugalhão relativamente à qual concordo, exceptuando num ou outro ponto.

Em primeiro lugar duvido muito que os espanhóis quisessem uma selecção ibérica, tendo eles um manancial de opções, no que concerne à convocatória de jogadores, muito mais vasto quantitativa e qualitativamente do que o nosso .
Estamos a falar de um país maior, mais desenvolvido, com mais praticantes, cuja prática desportiva não é só direccionada para o futebol, como acontece entre nós .
Acresce que a liga principal espanhola do desporto elevado á categoria de rei, é, como é sabido, incomparavelmente mais competitiva do que a nossa, quiçá devido a uma maior organização do ponto de vista estrutural e a um melhor e maior investimento ao nível do marketing . Os espanhóis têm um enorme orgulho e revêem-se naquilo que produzem. De tanto acreditar, conseguem convencer.

O conceito de selecção nacional, é de facto subjectivo: para os mais fundamentalistas, uma equipa deste género deveria apenas contar com elementos nascidos no solo pátrio. Para outros, poderá integrar jogadores nacionalizados ou naturalizados como é o caso dos brasileiros que integram selecções de diferentes países , desde que tenham algo a ver com a nação ou que sintam a camisola e saibam cantar o hino.
Eu sou contra os nacionalismos exacerbados, pois a história da humanidade está repleta de maus exemplos, do ponto de vista político, social e desportivo, sempre que os mesmos são exaltados com contornos xenófobos, imperialistas e outros que tais.
Posso aqui apresentar alguns exemplos, sobejamente conhecidos desta mistura nefasta da política e do nacionalismo exacerbado com o desporto:
- O episódio nos jogos olímpicos da Alemanha nazi, em que Hitler abandonou o estádio, revoltado e indignado, pelo facto de um negro norte americano ter acabado de ganhar uma prova .
- O assassinato bárbaro de elementos da Delegação israelita (em plena aldeia olímpica) nos jogos olímpicos de Munique.
No dia 5 de setembro de 1972, oito terroristas do Grupo Setembro Negro conseguiram entrar sem maiores dificuldades na Aldeia Olímpica e invadiram armados de fuzis e granadas os alojamentos da delegação de Israel, assassinando logo na primeira investida, Moshe Weinberg, treinador da equipa de luta, e Joe Romano, campeão de levantamento do peso, tendo feito como reféns, nove membros da delegação.
- No final de 1979, como protesto contra a invasão soviética do Afeganistão, o presidente norte-americano Jimmy Carter anunciou o boicote de sua nação aos Jogos Olímpicos de Moscovo no ano seguinte, tendo sugerido aos seus aliados pelo mundo fora, a darem o mesmo exemplo; 69 países, um número três vezes maior do que as nações africanas que se recusaram a participar dos Jogos anteriores em Montreal por questões raciais, seguiram o caminho dos Estados Unidos.

Felizardo Cartoon disse...

Voltando ainda ao futebol e às selecções nacionais, a história recente do velho continente, diz-nos que estamos cada vez mais vocacionados para o “separatismo” e não para a união de penínsulas, como a Ibérica. Os países resultantes do desmembramento da ex União Soviética, e ex Jugoslávia estão representados em tudo o que é competição desportiva. A velha máxima de que a união faz a força, parece perder o sentido perante este cenário
Dentro da própria Espanha, este separatismo, às vezes com contornos de nacionalismo regionalista, está bem vivo, apesar de neste mundial ter havido uma espécie de consenso, talvez devido ao facto da selecção nacional do país vizinho integrar tantos elementos do Barça.

No meio deste panorama, o futebol é talvez o desporto colectivo que menos evoluiu, a não ser em meros e insignificantes pormenores. Para mim é o desporto colectivo onde há menos verdade desportiva, porque depende de muitos factores e muitas variáveis difíceis de controlar. É um deporto onde há pouca concretização ( poucos golos), o que aumenta o risco de um único erro da equipa de arbitragem, poder condicionar e comprometer num jogo essa mesma verdade desportiva. Não raras vezes, são os erros, ainda que não propositados dos árbitros, que decidem muitas partidas e resultados e é por isso o desporto mais vulnerável à corrupção.
No jogo Espanha - Portugal, a Espanha foi melhor, ganhou bem, mas não se livra do dedo acusatório do golo ter sido presumivelmente marcado na situação se fora de jogo. Por outro lado a Suiça ganhou à Espanha, num jogo em que esta última dominou, teve mais tempo de posse de bola, rematou mais etc. etc. etc., à semelhança do que fez com Portugal, a quem terá marcado em fora de jogo. Os suíços, nesse dia foram heróis no seu país. Remataram duas vezes e fizeram um golo.

Em desportos como o andebol, basquete, voleibol e até no futebol de salão, onde há mais concretização, os erros do árbitro, esbatem-se mais e na maioria das vezes quem joga mais e melhor..ganha. Mas porque é que há mais concretização e mais verdade desportiva?

- Talvez porque o jogo passivo é punido e não existe essa figura bizarra do fora de jogo. Há um lugar comum que é frequentemente utilizado no “futebolês”:

- A incerteza do resultado é que faz este desporto tão atractivo a nível mundial.
Para mim, o futebol seria mais atractivo, se ganhasse mais vezes quem faz por isso, mas de uma forma isenta e sem muletas! Portugal caiu por terra com o golo da Espanha, não foi à procura do prejuízo como se impunha, mas para mim a vitória da Espanha teria sido completamente impoluta se o golo tivesse sido legal.

Grande abraço! Hermínio