quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

NEW YORK TIMES - O QUE SE PASSOU EM PORTUGAL DE ERRADO?

(Artigo do Jornal New York Times)

«Comparado com os outros estados doentes da Europa, Portugal fez tudo certo».

A frase consta na descrição de um grupo de discussão criado pelo New York Times para debater a crise no nosso país, onde participam alguns economistas e estudiosos europeus. No meio da discussão, são vários os factores atirados para explicar como Portugal foi arrastado, ou se arrastou, para a crise financeira.

Do outro lado do Atlântico, a crise financeira na Europa tem merecido especial atenção. Ontem, quarta-feira, o diário norte-americano tinha já dedicado um artigo onde abordava a situação portuguesa, comparando-a sempre com a crise grega que, face à sua gravidade, tem concentrado em si a maior parte das atenções dos líderes e instâncias europeias.

Mas a edição online do jornal nova-iorquino dedica uma especial atenção a Portugal. Nos confins do seu site está um grupo de debate que nas últimas semanas tem recorrido às opiniões de vários economistas europeus para debater os problemas da crise portuguesa. E, de novo, com olho na Grécia.

Até ao momento são cinco as opiniões que constam no fórum. Entre elas, porém, há um destaque comum para Portugal: em termos económicos, estamos e somos melhores que a Grécia. Mas tal não safa o país do risco de não conseguir sair de um caminho que poderá acabar em problemas similares aos que os helénicos estão agora a combater.

Primeiro, as 'vantagens' em relação à Grécia. Para Nicolas Verón, membro do think-tank Bruegel, centrado em melhorar a política económica mundial, Portugal tem e fez várias coisas melhores que os gregos: menor défice, as alterações às leis laborais (acordo da concertação social) e um programa de privatizações mais avançado – dando o exemplo da aquisição da EDP por parte dos chineses da Three Gorges.

O inevitável sucessor da Grécia

A opinião de Verón acaba mesmo por ser a mais favorável. Os restantes participantes preferem pintar um retrato negro ao abordarem o futuro que aguarda Portugal, e Edward Harrison, um economista e fundador do site Credit Write Downs, aponta que o nosso país será a próxima peça a tombar na batalha de xadrez que a crise está a ganhar à Europa.

Harrison sublinha que a crise portuguesa resulta principalmente do endividamento do sector privado, e critica as medidas de austeridade encomendadas da ‘troika’ – FMI, UE e BCE -, com cortes para o governo e sector público que vão ‘encolhendo’ a economia portuguesa. O problema, defende, está nos líderes europeus: «Não conseguem perceber as dinâmicas da deflação da dívida».

O Problema da deflação

Em Portugal, actualmente, o défice ronda os 118%, e a deflação da dívida pode explicar-se pelo problema do défice. O défice comercial resulta sempre da relação entre o PIB (Produto Interno Bruto) e o valor da dívida - o dinheiro que o país deve. Quando o PIB desce, e mesmo que os números da dívida se mantenham, o défice irá sempre aumentar. Por sua vez, o valor relativo da dívida vai sempre aumentar, mesmo que os seus números reais se mantenham.

A isto juntam-se os juros que são exigidos no momento de pagar os empréstimos feitos pela ‘troika’ para os países combaterem a sua dívida. O cenário, portanto, não poderá ser muito animador.

Daí que Harrison titule o seu comentário de «O porquê de Portugal ser a próxima Grécia». Charles Wyplosz, professor na Universidade de Genebra, é mais drástico na sua explicação do problema. «Os empréstimos [da ‘troika] aumentam a dívida, e a austeridade impede os países de saírem da depressão em que estão atolados», retratou.

Em suma, os problemas de Portugal são utilizados para explicar o desenrolar de uma crise financeira que promete abalar cada vez mais a Europa.

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