A síndrome das mortes súbitas
Conceito de Morte súbita: É a morte que ocorre repentinamente, sem previsão, sem sinais de trauma ou violência.
Numa época em que tem sido notícia o aumento da mortalidade geral (só em duas semanas, consta que morreram mais de 6 000 portugueses), pode ser engano meu, mas tenho a percepção que, ultimamente, este fenómeno da “morte súbita” também anda por aí a aumentar.
Quando analisamos mais profundamente aquelas notícias da mortalidade geral, rapidamente concluímos que, essas mortes são, particularmente, de pessoas com mais de 75 anos. E se penso, que em relação a este facto, pouco haverá para fazer (por muito que nos custe), pois teremos que nos confrontar com a realidade que não somos eternos, e, mais ano menos ano, lá iremos todos.
Já em relação às mortes súbitas de pessoas com menos de 60 anos de idade, os nossos técnicos de investigação e de prestação de cuidados de saúde, deveriam pensar muito seriamente nelas. Porque são anos de vida que se perdem, de cidadãos em meia-idade, produtivos, que fazem muita falta à sociedade, e sobretudo, porque muitas delas seriam possíveis de evitar, com pouco investimento.
Do pouco tempo que levo neste mundo e vivendo quase sempre em contextos rurais, meios em que toda a gente se conhece, já me foi dado a constatar duas realidades distintas em relação às mortes súbitas. Durante os meus primeiros anos de vida, quando a saúde não era mais que a ausência de doença, com alguma frequência, quando me levantava pela manhã, se ouvia dizer que fulano ou beltrano se havia deitado bom e pela manhã havia sido encontrado morto; nos últimos 30 anos, desde o início da década de 80, pareceu-me que este fenómeno estava a desaparecer ou pelo menos a diminuir.
Eis que agora, de uma forma abrupta, o fenómeno parece estar a reaparecer e numa altura em que não seria previsível que tal acontecesse, quer devido aos grandes avanços tecnológicos e medicamentosos dos últimos anos, quer dos grandes investimentos no SNS. E desenganem-se aqueles que pensam que isto são consequências da crise do último ano, ou do aumento das taxas moderadoras e afins.
É ainda facilmente constatável, que estes incidentes afectam particularmente os homens, com maior incidência na faixa etária entre os 40 e 60 anos de idades.
Que se estará a passar então e porquê? Na minha modesta opinião colocaria duas hipóteses:
- A pouca importância dada à vigilância da saúde destas pessoas nos cuidados de saúde primário;
- Os estilos de vida pouco saudáveis dos últimos 50 anos, nomeadamente, os erros alimentares e a inactividade física (sedentarismo);
Estas duas hipóteses estão directamente relacionadas e responsabilizam em conjunto cidadãos e serviços de saúde.
No que toca à responsabilidade dos cidadãos, em minha opinião, a focagem deveria centrar-se na prática regular de exercício físico, que é o mais fácil, mais barato de obter e não precisa de grandes investimentos. Bastariam 45 a 60 minutos diários de uma simples caminhada, para prevenir algumas dessas mortes súbitas, ou pelo menos retardá-las; não me foco na problemática “alimentação” (embora lhe reconheça igual importância), porque interfere com muitas variáveis de hábitos e costumes, e não é fácil de se encontrarem soluções simples. O meu conselho irá portanto para o “mexer, mexer e mexer”.
Quanto à vigilância de saúde, sobretudo a dos homens de meia-idade, a coisa deveria passar por um plano simples que, consistiria em convocar todos os homens entre os 25 e os 60 anos para a realização de exames simples, respectiva monitorização e seguimento, tais como a medição da Tensão Arterial, realização periódica de Eletrocardiogramas, Análises Sanguíneas de rotina e tratamento ou encaminhamento para especialistas dos problemas detectados.
Relembro aqui, que os grandes problemas de saúde, nomeadamente estes que originam a morte súbita, não estão naqueles que frequentam com regularidade os serviços de saúde, mas sim naqueles que nunca lá põem os pés. E esta faixa etária de homens, que atrás referi, é daquelas que raramente vão aos serviços de saúde.
Deixaria ainda aqui um desafio aos dois médicos amigos que sei que às vezes lêem estas crónicas simples, que fazem praticamente toda a clínica do concelho de Marvão, José Silva e Vitoriano:
Quantos homens têm nesta faixa etária nas vossas listas de utentes? Quantos consultaram nos últimos 5 anos?
Façam-lhes o favor de os convocarem, através de uma estratégia assertiva e vigiem-nos. Não evitaremos todas as mortes súbitas mas, certamente, evitar-se-ão algumas.
É um imperativo de cidadania e uma obrigação social!
Conceito de Morte súbita: É a morte que ocorre repentinamente, sem previsão, sem sinais de trauma ou violência.
Numa época em que tem sido notícia o aumento da mortalidade geral (só em duas semanas, consta que morreram mais de 6 000 portugueses), pode ser engano meu, mas tenho a percepção que, ultimamente, este fenómeno da “morte súbita” também anda por aí a aumentar.
Quando analisamos mais profundamente aquelas notícias da mortalidade geral, rapidamente concluímos que, essas mortes são, particularmente, de pessoas com mais de 75 anos. E se penso, que em relação a este facto, pouco haverá para fazer (por muito que nos custe), pois teremos que nos confrontar com a realidade que não somos eternos, e, mais ano menos ano, lá iremos todos.
Já em relação às mortes súbitas de pessoas com menos de 60 anos de idade, os nossos técnicos de investigação e de prestação de cuidados de saúde, deveriam pensar muito seriamente nelas. Porque são anos de vida que se perdem, de cidadãos em meia-idade, produtivos, que fazem muita falta à sociedade, e sobretudo, porque muitas delas seriam possíveis de evitar, com pouco investimento.
Do pouco tempo que levo neste mundo e vivendo quase sempre em contextos rurais, meios em que toda a gente se conhece, já me foi dado a constatar duas realidades distintas em relação às mortes súbitas. Durante os meus primeiros anos de vida, quando a saúde não era mais que a ausência de doença, com alguma frequência, quando me levantava pela manhã, se ouvia dizer que fulano ou beltrano se havia deitado bom e pela manhã havia sido encontrado morto; nos últimos 30 anos, desde o início da década de 80, pareceu-me que este fenómeno estava a desaparecer ou pelo menos a diminuir.
Eis que agora, de uma forma abrupta, o fenómeno parece estar a reaparecer e numa altura em que não seria previsível que tal acontecesse, quer devido aos grandes avanços tecnológicos e medicamentosos dos últimos anos, quer dos grandes investimentos no SNS. E desenganem-se aqueles que pensam que isto são consequências da crise do último ano, ou do aumento das taxas moderadoras e afins.
É ainda facilmente constatável, que estes incidentes afectam particularmente os homens, com maior incidência na faixa etária entre os 40 e 60 anos de idades.
Que se estará a passar então e porquê? Na minha modesta opinião colocaria duas hipóteses:
- A pouca importância dada à vigilância da saúde destas pessoas nos cuidados de saúde primário;
- Os estilos de vida pouco saudáveis dos últimos 50 anos, nomeadamente, os erros alimentares e a inactividade física (sedentarismo);
Estas duas hipóteses estão directamente relacionadas e responsabilizam em conjunto cidadãos e serviços de saúde.
No que toca à responsabilidade dos cidadãos, em minha opinião, a focagem deveria centrar-se na prática regular de exercício físico, que é o mais fácil, mais barato de obter e não precisa de grandes investimentos. Bastariam 45 a 60 minutos diários de uma simples caminhada, para prevenir algumas dessas mortes súbitas, ou pelo menos retardá-las; não me foco na problemática “alimentação” (embora lhe reconheça igual importância), porque interfere com muitas variáveis de hábitos e costumes, e não é fácil de se encontrarem soluções simples. O meu conselho irá portanto para o “mexer, mexer e mexer”.
Quanto à vigilância de saúde, sobretudo a dos homens de meia-idade, a coisa deveria passar por um plano simples que, consistiria em convocar todos os homens entre os 25 e os 60 anos para a realização de exames simples, respectiva monitorização e seguimento, tais como a medição da Tensão Arterial, realização periódica de Eletrocardiogramas, Análises Sanguíneas de rotina e tratamento ou encaminhamento para especialistas dos problemas detectados.
Relembro aqui, que os grandes problemas de saúde, nomeadamente estes que originam a morte súbita, não estão naqueles que frequentam com regularidade os serviços de saúde, mas sim naqueles que nunca lá põem os pés. E esta faixa etária de homens, que atrás referi, é daquelas que raramente vão aos serviços de saúde.
Deixaria ainda aqui um desafio aos dois médicos amigos que sei que às vezes lêem estas crónicas simples, que fazem praticamente toda a clínica do concelho de Marvão, José Silva e Vitoriano:
Quantos homens têm nesta faixa etária nas vossas listas de utentes? Quantos consultaram nos últimos 5 anos?
Façam-lhes o favor de os convocarem, através de uma estratégia assertiva e vigiem-nos. Não evitaremos todas as mortes súbitas mas, certamente, evitar-se-ão algumas.
É um imperativo de cidadania e uma obrigação social!
Nota: Dirijo-me aos médicos, mas claro que os enfermeiros também poderiam desempenhar estas actividades, porque têm ou deveriam ter conhecimentos e competências para tal. Mas da maneira como estão as coisas e a (des) organização dos serviços...
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