Este Post, surge na sequência de artigos de Pedro Sobreiro e Jaime Miranda, publicados no Blog “vendo o mundo de binóculos do alto de Marvão”, de um artigo no Alto Alentejo da autoria de Samuel Mimoso; e pretende ser mais um contributo da discussão sobre o fenómeno de aquisição de terrenos por desconhecidos no concelho de Marvão, onde se inclui o prédio da Coutada propriedade da Câmara Municipal.
Este Post deveria ser de leitura obrigatória e na íntegra por Vítor Frutuoso (Presidente da CM de Marvão), Luís Vitorino e José Manuel Pires (Vereadores da CM de Marvão), José Luís Bengala (Presidente da Junta Freguesia de Santo António das Areias), e António Mimoso (Presidente da Junta de Freguesia de Beirã).
Gostaria ainda que o meu amigo Samuel Mimoso, enquanto jovem jornalista que escreveu um artigo no seu Jornal sobre o tema, desse também uma vista de olhos. Em nome de um jornalismo sério, que não deveria ser apenas o eco de notícias encomendadas. Mas que deveria questionar-se sobre o que nos querem vender, e investigar de forma isenta a razão das coisas. Um jornalismo que não deveria viver de Avenças dos organismos que encomendam notícias, limitando-se a noticiar e fotografar pequenos factos de eventos festivos de forma acrítica, mas ir mais além, contribuindo com a sua critica para que este país avance e progrida.
Este artigo é o Resumo de um Estudo, publicado na Revista Electrónica de Ciências da Terra em 2010, da autoria de Rute Salgueiro, Diogo Rosa, Carlos Inverno e Daniel Oliveira, sobre “ Ocorrência de xenótimo em amostras aluvionares da região centro leste de Portugal (Zona Centro Ibérica/Zona de Ossa Morena) ”, onde Santo António das Areias é identificado como a zona de maior frequência deste elemento.
RESUMO:
Foi identificado, possivelmente pela primeira vez em Portugal, xenótimo aluvionar em concentrados de bateia colhidos numa campanha de prospecção de terras raras desenvolvida pelo ex-IGM no centro-leste deste país. O xenótimo ocorre em grãos sub-rolados de dimensão média ≈250μm, em concentrações mais significativas em Nisa, Sto António das Areias e Marvão. A geologia regional e o cortejo mineral das amostras sugerem proveniência do xenótimo dos maciços graníticos de Penamacor e Nisa e ainda das Arcoses da Beira Baixa e níveis de cascalheiras plio-plistocénicas com intercalações argilo-arenosas.
PALAVRAS-CHAVE: xenótimo, aluvionar, terras raras, ZCI/ZOM.
1. INTRODUÇÃO
A identificação de xenótimo resultou do estudo de 1962 amostras de bateia colhidas na Beira Baixa e Alto Alentejo (norte), no âmbito de uma campanha de prospecção dirigida à identificação de horizontes portadores de minerais de terras raras, no período de 1995-2007 (Inverno et al., 2007). Considerando a geologia predominante na área de colheita das amostras aluvionares patente na carta Geológica de Portugal à escala 1/500 000, a distribuição destas permite agrupá-las de acordo com o estabelecido na Tabela 1.
O xenótimo (YPO4), é um dos poucos minerais de ítrio conhencidos. Compostos de ítrio são usados como substâncias luminescentes em ecrãs, sistemas laser e como catalizadores na polimerização de etileno (Hammond, 1995) e poderão vir a ter aplicação em cerâmicas supercondutoras.
O fornecimento de ítrio proveniente de placers de monazite e xenótimo é vasto (reservas mundiais de 540.000 t de Y2O3). Em 2003, a produção foi dominada pela China, com 2300 t de Y2O3, tendo o resto do mundo produzido um total de apenas 100 t (USGS, 2004).
No entanto, antecipa-se que a procura de ítrio continuará a crescer se a sua utilização em supercondutores estáveis a temperatura ambiente for confirmada, e se estes supercondutores começarem a ter aplicações comerciais. Esta segunda geração de supercondutores, baseada em óxido de ítrio, cobre e bário, é denominada de YBCO.
De acordo com a revista 3M, uma análise indica que o mercado potencial para supercondutores nos EUA, Japão e na Europa atingirá os 122 mil milhões de dólares americanos em 2020 (Morrison, 1999), sendo de antever portanto subidas de preços do ítrio, que custa actualmente ≈ 45 USD/kg.
Ciente da importância das terras raras (lantanídeos, ítrio e escândio), em aplicações de ponta, nomeadamente as tecnologias de energias renováveis e de veículos híbridos, bem como da sua posição dominante no mercado, a China começou a restringir a exportação destes elementos e dos seus minérios, através da aplicação de taxas à exportação e, inclusive, proibindo a sua exportação. A imposição de quotas à exportação cada vez mais restritas por parte da China torna fundamental o aparecimento de produtores alternativos, pelo que a identificação de xenótimo no nosso país é de particular relevância.
2. XENÓTIMO
O xenótimo com susceptibilidade magnética aproximadamente de 18,9x10-6 C.G.S.M.E (Parfenoff et al., 1970), ocorre na fracção magnética das amostras estudadas sob a forma de grãos rolados a sub-rolados de cor verde clara ou castanha amarelada de brilho resinoso, por vezes reconhecendo-se parte das formas cristalográficas tetragonais prismáticas longas ou curtas, bipiramidais (Fig. 1), tal como é descrito por Dana e Ford (1932); a dimensão média destes grãos é ≈250μm.
Para além das características físicas e morfológicas, a confirmação da identidade deste mineral foi dada por difractometria de raios X. O xenótimo ocorre em maior número de amostras no Grupo 2 e 3, atingindo 58% em Nisa e 78% em Sto António das Areias; na maioria das amostras o xenótimo representa ≤1 a 5% (Tabela 2) do volume da fracção magnética; contudo, em Sto António das Areias e Marvão (Grupo 3) atinge valores do intervalo de 5 a 25% desta fracção.
3. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
O estudo de minerais pesados permitiu o reconhecimento de xenótimo (e outros minerais de interesse económico) na região centro de Portugal.
Os valores mais elevados de concentração de xenótimo foram obtidos nas amostras do Grupo 2 e 3 (Nisa, Sto António das Areias e Marvão).
As diferenças entre o cortejo mineral dos diferentes grupos são o reflexo da geologia regional.
Assim, na região de Penamacor-Monsanto e de Nisa-C. Vide-Marvão (Grupo 1, 2 e 3) o xenótimo mostra uma derivação granítica dominante, ocorrendo nas redes de drenagem (com máximo em Sto. António das Areias) dos maciços graníticos de Penamacor e de Nisa, respectivamente, quase sempre associado à monazite clássica.
Complementarmente, algumas amostras do Grupo 2 indicam uma forte associação do xenótimo às Arcoses da Beira Baixa e a níveis de cascalheiras plio-plistocénicas com intercalações argilo-arenosas nas mesmas áreas (Inverno et al., 2007). Não são, por outro lado, produtivos em xenótimo os quartzitos radioactivos ordovícicos de Penha Garcia e Portalegre (Grupos 1 e 3-4, respectivamente), ricos em monazite nodular (Inverno et al., 1998).
Um comentário:
http://www.klondikegoldcorp.com/wp-content/uploads/mineral-exploration-in-portugal.pdf
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