Vale a pena às vezes ter conhecimento sobre o que os outros pensam de nós. É nesta perspectiva que hoje aqui vos trago um artigo sobre Portugal e os Portugueses, publicado num Jornal da Rússia.
Em jeito de leitura de fim-de-semana, e de alguma reflexão:
Jornal Russo "Pravda.ru", sobre Portugal.
by José Tomaz Mello Breyner on Thursday, 17 March 2011 at 08:36
" Foram tomadas medidas draconianas esta semana em Portugal pelo Governo liberal de José Sócrates. Um caso de governo de centro-direita, exigindo ao povo Português para fazer sacrifícios, um apelo repetido vezes sem fim, a esta nação trabalhadora e sofredora, historicamente deslizando cada vez mais no atoleiro da miséria.
E não é por eles serem portugueses! Vão ao Luxemburgo, que lidera todos os Indicadores socioeconómicos, e você vai descobrir que doze por cento da população é portuguesa.
O povo que construiu um império, que se estendia por quatro continentes e que controlava o litoral desde Ceuta na costa atlântica, tornando a costa africana até ao Cabo da Boa Esperança, a costa oriental da África no Oceano Índico, o Mar Arábico, o Golfo da Pérsia, a costa ocidental da Índia e Sri Lanka, e foi o primeiro povo europeu a chegar ao Japão e Austrália.
Esta semana, o Primeiro-ministro José Sócrates lançou uma nova onda dos seus pacotes de austeridade: corte de salários e aumento do IVA, mais medidas cosméticas tomadas num clima de política de laboratório por académicos arrogantes e altivos, desprovidos de qualquer contacto com o mundo real. Um esteio da classe política elitista Portuguesa do Partido Socialista, “gangs” de má gestão política que têm assolado o país desde anos 80.
O objectivo? Para reduzir o défice. Porquê? Porque a União Europeia assim o diz.
Mas é só a UE? Não, não é.
O “maravilhoso sistema” da União Europeia deixou-se ser sugado por aqueles em que a agências de Ratings, Fitch, Moody's e Standard and Poor's, baseadas nos Estados Unidos da América (onde havia de ser?), virtual e fisicamente controlam as políticas fiscais, económicas e sociais dos Estados-Membros da União Europeia através da atribuição das notações de crédito.
Com amigos como estes organismos, e Bruxelas, quem precisa de inimigos?
Sejamos honestos. A União Europeia é o resultado de um pacto forjado por uma França tremente e com medo, apavorada com a Alemanha, depois que suas tropas invadiram o seu território três vezes em setenta anos, tomando Paris com facilidade, não apenas uma vez, mas duas vezes, e ainda, por uma astuta Alemanha ansiosa para se reinventar, após os anos de pesadelo de Hitler.
França tem a agricultura, a Alemanha ficou com os mercados para sua indústria.
E Portugal? Olhem para as marcas de automóveis novos conduzidos por motoristas particulares para transportar exércitos de "assessores" (estes parecem ser imunes a cortes de gastos) e adivinhem de que país vêm eles? Não, não são Peugeot, Citroen ou Renault? São Mercedes e BMWs, topo-de-gama, é claro.
Os sucessivos governos formados pelos dois principais partidos, PSD (Partido Social Democrata, direita) e PS (Socialista, de centro), têm sistematicamente jogado os interesses de Portugal e dos portugueses pelo esgoto abaixo, destruindo a sua agricultura (agricultores portugueses são pagos para não produzir), e sua indústria (desapareceu), e sua pesca (arrastões espanhóis em águas lusas), a troco de quê? O quê é que as contra-partidas renderam, a não ser a aniquilação total de qualquer possibilidade de criar emprego e riqueza em uma base sustentável?
Aníbal António Cavaco da Silva, agora Presidente, mas primeiro-ministro durante uma década (1985 e 1995), anos em que estiveram despejando milhões através nas suas mãos, a partir dos fundos estruturais e do desenvolvimento da UE, é um excelente exemplo de um dos melhores políticos de Portugal!
Eleito fundamentalmente porque é considerado "sério" e "honesto" (em terra de cegos, quem vê, é rei), como se isso fosse um motivo para eleger um líder (só em Portugal), é como se a maioria dos restantes políticos (PSD/PS) fossem um bando de sanguessugas e parasitas inúteis (que são), mas ele é o pai do défice público em Portugal, e o campeão de gastos públicos. A sua "política de betão" foi bem concebida, mas como sempre, mal planeada, resultado de uma inapta, descoordenada e, às vezes inexistente localização no modelo governativo do Ministério do Ordenamento do Território, vergado, como habitualmente, a interesses instalados que sugam o país e seu povo.
Uma grande parte dos fundos da UE foi canalizada para a construção de pontes e auto-estradas para ligar o país a Lisboa, facilitando o transporte interno e fomentando a construção de parques industriais nas cidades do interior para atrair a grande parte da população que assentava no litoral.
O resultado concreto, foi que as pessoas tinham agora os meios para fugirem do interior e chegarem ao litoral ainda mais rápido. Os parques industriais nunca ficaram repletos e as indústrias que foram criadas, em muitos casos já fecharam.
Uma grande percentagem do dinheiro dos contribuintes da UE evaporou-se em empresas e esquemas fantasmas. Foram comprados Ferraris, foram encomendados Lamborghinis e Maseratis; foram organizadas caçadas de javali em Espanha; foram remodeladas casas particulares, etc., e o Governo de Aníbal Silva ficou a observar, no seu primeiro mandato, enquanto o dinheiro foi desperdiçado.
No seu segundo mandato, Aníbal Silva ficou a ver os membros do seu governo a perderem o controlo e a não participarem. Então ele, tentou desesperadamente distanciar-se do seu próprio partido político. E ele considera-se, a si mesmo, um dos melhores.
Depois de Aníbal Cavaco da Silva, veio o bem-intencionado e humanitário, António Guterres (PS), um excelente Alto-comissário para os Refugiados, e um talvez, candidato perfeito para Secretário-Geral da ONU! Mas um buraco negro em termos de (má) gestão financeira.
A ele, seguiu-se o diplomata excelente, mas abominável primeiro-ministro José Barroso (PSD), agora Presidente da Comissão da EU: "Eu vou ser primeiro-ministro, só que não sei quando", afirmava. Criou mais problemas com o seu discurso do que resolveu problemas.
Passou a batata quente para Pedro Santana Lopes (PSD), que não tinha qualquer hipótese ou capacidade para governar, e não viu a armadilha que lhe criaram, culminando em dois mandatos de José Sócrates; um Ministro do Ambiente competente, que até formou um bom governo de maioria, e tentou corajosamente corrigir erros anteriores. Mas foi rapidamente asfixiado por interesses instalados.
Agora, as medidas de austeridade apresentadas por este primeiro-ministro, são o resultado da sua própria inépcia para enfrentar esses interesses, no período que antecedeu a última crise mundial do capitalismo (aquela em que os líderes financeiros do mundo, foram buscar três triliões de dólares de um dia para o outro para salvar uma mão cheia de banqueiros irresponsáveis, enquanto nada foi produzido para pagar pensões dignas, programas de saúde ou projectos de educação).
E assim, como seus antecessores, José Sócrates, agora com minoria, demonstra falta de inteligência emocional, permitindo que os seus ministros e “boys” pratiquem e implementem políticas de laboratório, que obviamente serão contra-producentes.
O “Pravda.Ru”, entrevistou 100 funcionários cujos salários vão ser reduzidos. Aqui estão os resultados:
- Eles vão cortar o meu salário em 5%, por isso vou trabalhar menos: 94%.
- Eles vão cortar o meu salário em 5%, por isso vou fazer o meu melhor para me aposentar cedo, mudar de emprego ou abandonar o país: 5%.
- Concordo com o sacrifício: 1%
Quanto ao aumento dos impostos, a reacção imediata será a economia encolher ainda mais, enquanto as pessoas começam a fazer reduções simbólicas, que multiplicado pela população de Portugal (10 milhões de almas), afectará a criação de postos de trabalho, implicando a obrigatoriedade do Estado a intervir e evidentemente enviará a economia para uma segunda (que no caso de Portugal, contínua) recessão.
Não é preciso ser cientista de física quântica para perceber isto. O idiota e avançado mental que sonhou com esses esquemas, tem resultados num pedaço de papel. Onde eles irão ficar.
É verdade que as medidas são um sinal claro para as agências dos “ratings” que o Governo de Portugal está disposto a tomar medidas fortes, mas à custa, como sempre, do povo português.
Quanto ao futuro, as sondagens de opinião providenciam uma previsão de um retorno do PSD ao governo, enquanto os partidos de esquerda (Bloco de Esquerda e Partido Comunista Português), não conseguem convencer o eleitorado das suas ideias e propostas.
Só em Portugal, a classe elitista dos políticos PSD/PS seria capaz de punir o povo por se atrever a ser independente. Essa classe, enviou os interesses de Portugal para o caixote-do-lixo, pediu sacrifícios ao longo de décadas, não produziu nada e continuou a massacrar o povo com mais castigos. Esses traidores estão levando cada vez mais portugueses a questionarem se deveriam ter sido integrados há séculos, pela Espanha.
Que convidativo, o ditado português "Quem não está bem, que se mude". Certo, e bem longe de Portugal, como todos os que possam, estão fazendo. Bons estudantes a jorrarem pelas fronteiras fora...
Que estado lamentável para um país maravilhoso, um povo fantástico, e uma classe política abominável...
Timothy Bancroft-Hinc
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