O nosso sistema eleitoral pressupõe uma fórmula eleitoral proporcional, isto é a representação proporcional por listas, ao contrário de outras, maioritárias e semi-proporcionais. No entanto dentro das fórmulas proporcionais existem vários métodos de conversão/distribuição de votos expressos em mandatos representativos, os métodos das quotas (Hare, Droop e Imperiali), e os métodos das médias mais alta (Hondt, Sainte-Lague Puro, Sainte-Lague Modificado, Imperiali, Danes e Huntington). As diferenças entre quotas e médias mais altas são significativas, enquanto no primeiro método é determinado um número na relação dos votos expressos com os mandatos que há a distribuir que funciona como repartidor dos mandatos, nos métodos das médias mais altas são determinadas sequências de divisores para distribuir a repartição dos mandatos.
Vamos focar-nos nos métodos das médias mais altas, aonde figura o nosso bem conhecido método de Hondt, de forma a perceber as consequências dos diferentes métodos de conversão de votos em mandatos. A utilização de um determinado método não é casual, nem inocente, porque como teremos oportunidade de ver existem métodos que puxam mais pela pluralidade, e outros que beneficiam declaradamente os maiores partidos, como é o caso do método de Hondt que dentro dos métodos proporcionais é o que mais favorece os partidos mais votados. Para ilustrar o efeito mecânico da utilização de um ou de outro método, e de uma forma muito pouco inocente, peguei nos resultados das últimas eleições autárquicas em Marvão:
Perante estas evidências podemos perguntar-nos: se é assim, e se o sistema se quer cada vez mais democrático e plural, porque é que não se altera a lei? Porque é que não se substitui o método de Hondt por outro mais democrático? A resposta é simples: porque o monopólio de alteração às leis eleitorais não lhe agrada. Quando falo em monopólio estou a referir-me ao PS e PSD. Não lhes agrada porque não querem abrir o jogo da representação política, não lhes convém porque em alguns casos perdem as suas maiorias absolutas, não dá jeito porque vem alterar muita coisa e dar voz a muita gente. Mas aí é o cidadão eleitor que perde, perde cidadania e democraticidade na representação política. É também a Democracia que perde, fica em deficit, porque não há rejuvenescimento no processo de representação política e, se assim for, enquanto modelo vai esgotar-se. Neste caso concreto, e chamando à atenção de uma forma interessada, é o Concelho de Marvão que perde, perde muito, porque se tratava de uma oportunidade única, de discussão alargada e participada da gestão do Concelho de Marvão, que se perde.
Não sei se isto interfere na qualidade da democracia, mas que dá que pensar, lá isso dá!
Tiago Pereira
4 comentários:
Excelente post, Tiago!
É claro que os centrões não vão abrir a mão para dar de comer aos pequeninos... não interessa se é mais democrático ou não, para eles a democracia é algo que não quer dizer nada.
Nos moldes actuais, a divisão é fácil de fazer. Agora governo eu, e tu, enquanto oposição, vais mamar nas administrações das grandes empresas públicas.
Quando esses idiotas (o poveco eleitor...) mudarem de ideias, governas tu, encho-me eu.
Nem é preciso ser génio em matemática, para conseguir fazer esta divisão.
E é claro que não temos que mudar as leis/regras apenas por conveniência! Temos é de ter "políticos" em quem os eleitores confiem e votem!!
Porreiro pá! Vamos então agora alterar este método que está instituido em Portugal desde 1974, apenas porque dá jeito... Como diz o Tiago, se os políticos forem competentes e de confiãnça, venha o método que vier, acabarão sempre por ser eleitos e dar o seu contributo no desenvolvimento quer do pais, quer a nível local...
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