terça-feira, 3 de janeiro de 2012

MOTORISTA PARA O CÉU - PRECISA-SE

Não sei quantas vezes viajámos juntos, em serviço. Muitas. Mas lembro-me particularmente da última. Foi há escassas semanas… era preciso dar instruções aos companheiros que iam colocar as estacas do futuro passeio pedrestre da Rota internacional do Contrabando do Café. E quando cheguei à Câmara, lá estavas tu, à minha espera, a fumar ávidamente o teu cigarro…

Reparei que tinhas má cara, mas como também estou habituado a sorrir às facadas traiçoeiras que a vida nos dá, pensei, com optimismo, que se tratava de algo passageiro. Infelizmente não foi assim…

Não sou dos que acredito que, quando morremos, os bons vão para o céu e os maus são queimados nas chamas do purgatório. Mas tenho como uma espécie de “fezada” que quando eu partir me hei-de encontrar com as pessoas de que sempre gostei nesta vida terrena.

Aqueles que nunca nos atraiçoam, aqueles que podem compartir as nossas virtudes e alegrias, ao passo que aceitam e perdoam os nossos falhanços e defeitos. Por isso, e porque soubeste, ao longo dos anos em que convivemos, entrar nesse restrito grupo, espera aí por mim… um dia destes voltaremos a encontrar-nos. Iremos a algum sítio, pararemos para tomar o nosso café e desabafaremos acerca do mau jogo que o Benfica fez no passado fim de semana.

E Amigo João, se tu partiste assim, repentinamente, sem prévio aviso, só pode ser porque no Céu estavam a precisar de motoristas. Não de um motorista qualquer. Sim de um motorista que esteja sempre disponível para ajudar os outros, sem pedir nada em troca. Para prescindir das tuas horas livres, em benefício dos outros. Às vezes, resmungavas entre dentes, protestavas com o serviço, com a falta de reconhecimento aos teus méritos e ao teu esforço.

Várias vezes te ouvi, nessa espécie de desabafo. E pensei, cá para mim: “Tens carradas de razão, amigo João, mas o mundo em que nos movemos não é para os bons, é para os medíocres, para os oportunistas e para os manipuladores”.

Talvez… (quem sabe?) hoje, Alguém, lá em cima, precisou de um motorista, e dentro dos que tinha disponíveis, escolheu o de melhor coração. Talvez, por isso, amigo João, tiveste que partir à pressa…

Abraço, amigo João, até ao nosso próximo cafezinho…

4 comentários:

Helena Barreta disse...

Ainda há pouco deixei um comentário num outro blogue a dizer precisamente que não podemos, nem devemos dar o futuro por garantido, porque de um momento para o outro a vida rouba-o e o melhor mesmo é ir vivendo na boa.

João, disse...

As pessoas simples não deveriam ter tão pouca sorte. E tu, João, eras uma pessoa simples...

Catarina disse...

Parabéns Garraio por este belo texto.
E sim, era mesmo assim. Um homem bom.

Profª Isabel Ludovino disse...

Gostei imenso deste post. Retira o dramatismo e devolve a esperança - não esquecendo a saudade.
Até sempre Sr. João.