terça-feira, 12 de julho de 2011

Dizer não! (de vez)


Esta é a minha estreia no Fórum Marvão. Apesar de ser um potencial colaborador desde a primeira hora, nunca me tinha por aqui alongado porque sendo capataz de uma finca virtual que funciona como meu órgão de comunicação oficial desde 2007, não me pareceu correcto vir para aqui ocupar tempo de antena que tão bem sido utilizado pelos habituais participantes.

Desta vez vai ter mesmo de ser porque a ocasião assim o justifica e porque o local é o mais apropriado. A minha intenção é comentar uma notícia aqui publicada mas faço-o através de um post porque já passaram alguns dias e porque não me foi possível reagir a tempo e horas através de um comentário.

E faço-o porque me choca que a notícia da renúncia de João Bugalhão ao seu mandato de membro da Assembleia Municipal de Marvão não tenha aqui surtido qualquer tipo de feedback. Nem mensagens de solidariedade, nem aplausos da crítica… nada! Absolutamente nada. Como se fosse um acontecimento menor, um fait divers… Mas não é.

Este acontecimento espelha para mim, muito do sentir e do pensar das gentes de Marvão. Da forma como se posicionam perante a vida, as suas contingências e os seus protagonistas, frequentemente aplaudidos quando sob as luzes da ribalta mas facilmente pontapeados para fora da composição quando deixam de interessar.

Parece-me importante esclarecer desde já que existe uma forte relação de amizade que me une ao João, de há muitos anos a esta parte. Com o passar do tempo, aprendemos a cultivar a empatia inicial e creio que aprendemos a valorizar e a apreciar aquilo que mais estimamos um no outro e temos de alguma forma, crescido e aprendido juntos, sempre salvaguardando a diferença de idades e o conhecimento que cada um tem da vida e do seu tempo. Mas essa amizade nunca nos toldou a clarividência nem nunca nos impediu de sempre expressarmos, com a frontalidade que penso que nos é reconhecida a ambos, aquilo que pensávamos acerca um do outro, dos seus actos e opiniões. De certeza que as discussões ganham às palmadas nas costas (das quais não somos grandes adeptos) mas tenho certo que sabemos que cada um tem no outro um porto de abrigo e uma opinião certeira e isenta.

Eu sei que o João não é fácil. Tem aquele terrível hábito de dizer sempre o que pensa e quem o conhece bem sabe que por baixo daquela carapaça de homem maduro se esconde um enfant terrible que anda sempre deserto de encontrar a próxima grande causa pela qual lutar. Num meio pequeno, circunspecto, intriguista, invejoso e interesseiro como o nosso, essa veleidades pagam-se caro e eu, apesar de mais jovem, expliquei-lho muitas vezes. Em vão… e ainda bem. Mas quem pensa que o João é só isso pensa mal porque ele é o contrário de tudo aquilo que aparenta ser: é sensível, preocupado e cuidadoso quando parece ser arrogante; é humilde e generoso quando parece emproado e vaidoso; tem (ainda hoje) um profissionalismo e uma dedicação à prova de bala… enfim… tem muita coisa que me levam ao ponto ao que quero chegar que é o seguinte: o João Bugalhão decidiu afastar-se e Marvão perdeu, para já, um homem que lhe faz falta.

Eu explico: faz falta porque durante todos estes anos, como ele diz e bem, lutou sempre pelo bem comum sem nunca ter pedido nada em troca, ao contrário de MUITA GENTE que para aí anda. Faz falta porque a assembleia perdeu a sua voz crítica dentro do marasmo instalado, alguém que pensava pela sua cabeça, que estudava os assuntos concelhios, que fazia as suas análises e se batia pelo que achava justo. Daquilo que eu pude observar, posso garantir que a assembleia perdeu o único membro (a par do Fernando Dias) digno desse nome. O resto são cabeças a dizer sim e braços no ar. Mal vamos se vamos por aí. O caminho está agora livre. A barra está aberta, como dizem os brasileiros.

O Bugalhão pode hoje fazer pouca (ou nenhuma) falta a algumas pessoas, mas fez muita falta quando foi preciso bater o pé à distrital do PSD e fazer peito e frente por uma concelhia titubeante à procura de um candidato que assim que vislumbrou o poder se apressou a empurrá-lo para trás.

O Bugalhão faz falta a Marvão e a muitos que trazem esta terra no coração porque foi ele o mentor deste espaço público chamado “Fórum Marvão” que está aberto a todos e tem pugnado ao longo dos anos por fazer com que das discussões nasça sempre uma luz, por mais ténue e fosca que seja. Os que vivem longe e por aqui passam para matar saudades e saber um pouco mais da sua terra sabem que tem sido ele o isento e abnegado timoneiro desta empreitada. Quanto mais não fosse, só por isso já valia a pena.

Eu sei que por esta altura, muita mente mais mesquinha já se entretém a conjecturar intrigas palacianas, a fazer “filmes” para saber porque raio é que este vem para aqui com esta conversa. Eu esclareço: não há nenhuma intenção subliminar, nenhum trunfo escondido na manga, numa jogada estratégica nas entrelinhas. Há apenas um homem que diz aquilo que pensa e acredita e faz aqui uma merecida e reconhecida homenagem a quem muito a merece.

E a ti, João, publicamente te peço que faças o que achas melhor mas que nunca te afastes e muito menos baixes os braços. Eu sei que jamais o farás. A vida dá muitas volta e tu sabe-lo bem. Nesta histórias nem sempre ganham os melhores, os mais qualificados, os certos para os lugares certos. Mas há-de haver um dia… em que a coisa tem de virar!

Já que aqui estou… mais dois apontamentos:

Um para louvar a publicação do livro da nossa estimada Teresa Simão que depois de muitos e longos anos de trabalho e dedicação conseguiu finalmente deixar para a posteridade a sua obra sobre o nosso falar de Marvão que estou certo que será incontornável para todos aqueles que queiram saber mais sobre a nossa ancestral cultura. É um verdadeiro prazer ser teu contemporâneo e poder assistir a este teu êxito retumbante. Parabéns!

Outro comentário, este derradeiro, para expressar a minha natural estupefacção pela rocambolesca história do concurso camarário que tinha mesmo de ser aberto porque era imprescindível colmatar uma lacuna em termos de pessoal mas afinal foi anulado porque quem ganhou não foi a pessoa que era para ganhar. Meus amigos… estamos no apogeu do ridículo. Se o Fellini fosse vivo, aposto que correria a comprar os direitos da coisa e se apressaria a filmá-la. Luziria que nem ginjas no seu bizarro universo cinematográfico. Depois disto já nada me surpreende que esta gente já provou que é capaz de tudo. Vender o castelo aos chineses, vender a coutada aos canadianos… tudo é possível. “Abra-se o concurso que é urgente…mas afinal anule-se que já não faz falta antes que ganhe quem a gente não quer”. Hilariante!

2 comentários:

Catarina disse...

A existir alguma coisa de bom na situação em que me encontro, é a possibilidade de não ter que pensar duas vezes antes de dizer o que penso. E é por isso que afirmo também que Marvão perdeu muito com a renúncia de mandato do Enf. João Bugalhão.

Poucas vezes assisti a Assembleias Municipais. Não porque os temas não tivessem interesse, muito pelo contrário, mas de facto porque são pouco participadas. Os assuntos são colocados sem que haja sobre eles grande discussão. A partir de agora serão ainda menos...

Ainda assim, acredito que esta renúncia seja antes de tudo um manifesto, um manifesto de discordância pelo rumo que as coisas levam.

Chega-se ao ponto de penalizar as pessoas não porque tenham ideias de esquerda ou de direita, mas pelo simples facto de terem ideias!!!
E isso é profundamente triste.

Aprendi que é possível honrar o compromisso que se assume ao se ser eleito para um cargo público de duas formas: Ou levar esse compromisso até ao fim, custe o que custar, ou dizer BASTA e renunciar.
Ambas são válidas, ambas são lições que aprendi com pessoas com quem inicialmente pouco simpatizava.

Baixar os braços é que não!
Desistir é que nunca!

Felizardo Cartoon disse...

Que o pedro Sobreiro seja bem vindo a este espaço, que tem andado algo carenciado em termos de opinião e comentários sobre o que nele vai sendo exposto.

Subscrevo inteiramente( sem qualquer tipo de paternalismos) aquilo que aqui foi exposto pelo Pedro, nomeadamente no que concerne ao João Bugalhão, que é um marvanense com obra feita e provas dadas à causa pública.

Às vezes as pequenas comunidades são algo antropofágicas: devoram e expelem os seus melhores elementos!

Cumprimentos! Hermínio