segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O MUNDO DOS OUTROS...

Por se tratar de uma Opinião que revela muita coragem, tal como outras que tem emitido, e num país em que parece que esse valor anda arredio, aqui vos trago mais um artigo do Grande jornalista que é Mário Crespo, que apesar de se referir a temas nacionais, penso que também a nós marvanenses dizem respeito.

Os intocáveis – Por Mário Crespo no JN
2009-11-02

O processo Face Oculta deu-me, finalmente, resposta à pergunta que fiz ao ministro da Presidência Pedro Silva Pereira - se no sector do Estado que lhe estava confiado havia ambiente para trocas de favores por dinheiro. Pedro Silva Pereira respondeu-me na altura que a minha pergunta era insultuosa.

Agora, o despacho judicial que descreve a rede de corrupção que abrange o mundo da sucata, executivos da alta finança e agentes do Estado, responde-me ao que Silva Pereira fugiu: Que sim. Havia esse ambiente. E diz mais. Diz que continua a haver. A brilhante investigação do Ministério Público e da Polícia Judiciária de Aveiro revela um universo de roubalheira demasiado gritante para ser encoberto por segredos de justiça.

O país tem de saber de tudo porque por cada sucateiro que dá um Mercedes topo de gama a um agente do Estado há 50 famílias desempregadas. É dinheiro público que paga concursos viciados, subornos e sinecuras.

Com a lentidão da Justiça e a panóplia de artifícios dilatórios à disposição dos advogados, os silêncios dão aos criminosos tempo. Tempo para que os delitos caiam no esquecimento e a prática de crimes na habituação.

Foi para isso que o primeiro-ministro contribuiu quando, questionado sobre a Face Oculta, respondeu: "O Senhor jornalista devia saber que eu não comento processos judiciais em curso (…)".
O "Senhor jornalista" provavelmente já sabia, mas se calhar julgava que Sócrates tinha mudado neste mandato.


Armando Vara é seu camarada de partido, seu amigo, foi seu colega de governo e seu companheiro de carteira nessa escola de saber que era a Universidade Independente. Licenciaram-se os dois nas ciências lá disponíveis quase na mesma altura. Mas sobretudo, Vara geria (de facto ainda gere) milhões em dinheiros públicos.

Por esses, Sócrates tem de responder. Tal como tem de responder pelos valores do património nacional que lhe foram e ainda estão confiados e que à força de milhões de libras esterlinas podem ter sido lesados no Freeport.

Face ao que (felizmente) já se sabe sobre as redes de corrupção em Portugal, um chefe de Governo não se pode refugiar no "no comment" a que a Justiça supostamente o obriga, porque a Justiça não o obriga a nada disso. Pelo contrário. Exige-lhe que fale. Que diga que estas práticas não podem ser toleradas e que dê conta do que está a fazer para lhes pôr um fim.

Declarações idênticas de não-comentário têm sido produzidas pelo presidente Cavaco Silva sobre o Freeport, sobre Lopes da Mota, sobre o BPN, sobre a SLN, sobre Dias Loureiro, sobre Oliveira Costa e tudo o mais que tem lançado dúvidas sobre a lisura da nossa vida pública.

Estes silêncios que variam entre o ameaçador, o irónico e o cínico, estão a dar ao país uma mensagem clara: os agentes do Estado protegem-se uns aos outros com silêncios cúmplices sempre que um deles é apanhado com as calças na mão (ou sem elas) violando crianças da Casa Pia, roubando carris para vender na sucata, viabilizando centros comerciais em cima de reservas naturais, comprando habilitações para preencher os vazios humanísticos que a aculturação deixou em aberto ou aceitando acções não cotadas de uma qualquer obscuridade empresarial que rendem 147,5% ao ano.

Lida cá fora a mensagem traduz-se na simplicidade brutal do mais interiorizado conceito em Portugal: Nos grandes ninguém toca.

TA: Já agora, convém referir que assino por baixo…

Um comentário:

Clarimundo Lança disse...

Serve isto ou é preciso mais.

"O ofício, ao qual o Movimento por Marvão teve depois acesso, solicitava um subsídio a fim de se realizarem umas animações na época natalícia e no dia dos namorados. O Presidente da Câmara adiantou que a Associação Comercial de Portalegre tem sido parceira da Câmara, nomeadamente nos eventos que têm acontecido, desde a Feira da Gastronomia até à Feira da Castanha, bem como na promoção da imagem de marca de Marvão. Acontece que a Associação Comercial de Portalegre fez uma candidatura, que pelos vistos foi aceite e está em funcionamento, onde a Câmara tem a maior parte das despesas destes eventos, comparticipadas a 60% pelo programa MODCOM.


O pedido de subsídio não discriminava o montante, sendo que o Presidente da Câmara interveio para dizer que se tinha comprometido numa reunião com a Associação a subsidiar aquela instituição com 10.000 € (dez mil euros).


Após ter revelado aquele valor, os vereadores da oposição, e também o Vereador José Manuel Pires, ficaram intrigados com o valor em causa e com a falta de informação que o ofício revelava. Pediram mais esclarecimentos, mas pouco mais foi dito - o Presidente adiantou apenas que, se não se apoiasse a Associação nesta fase, no futuro a Câmara poderia perder a candidatura, que só pode ser submetida pela Associação Comercial.


O que aconteceu na reunião foi que se votou um subsídio de 10.000 € para a Associação Comercial de Portalegre desenvolver, apenas e só, umas actividades no Natal e nos dias dos namorados.


O próprio Vereador José Manuel Pires, agora com o pelouro da cultura, foi à condição que viabilizou a concessão desde subsídio, isto é, apenas dá ordem à contabilidade para ser feito o pagamento quando souber que tipo de actividades vão ser desenvolvidas. Os vereadores da oposição votaram contra, com elucidativas declarações de voto. Um processo muito pouco claro este, e que deve ser esmiuçado."