Exemplo de uma "tristeza alegre" pode ser o facto de recebermos a notícia, vinda do EUA via telegrama, de que faleceu uma tia afastada, da qual nunca anteriormente ouvíramos falar. Coube-nos em herança toda a fortuna que a senhora amealhara a vender borras de café e hamburguers resinosos, numa roulotte à porta do Pavilhão dos Lakers. Aquilo que parecia uma triste nova (a morte da nossa parente), transformou-se inesperadamente numa enorme alegria: acabamos de ganhar uma fortuna!
O caso inverso, tem como exemplo o facto dos melhores resultados das provas dos exames nacionais do ensino básico se terem obtido na Escola BI Dr. Manuel Magro Machado, em Santo António das Areias. Até aqui, grande alegria. Só que consultado o quadro classificatório, observamos que somos, de longe, os últimos em população escolar: 14 alunos, somente 63% dos alunos do estabelecimento de ensino que figura em penúltimo lugar. Seremos obrigados a reconhecer que somos bons, mas somos poucos, ou pior ainda, que somos bons mas começamos a ser insuficientes para contornar os obstáculos com que a nossa sociedade se depara, pondo em causa a nossa identidade e a nossa soberania. Estamos perante uma flagrante "alegria - triste".
Relativamente ao affaire "novos povoadores", o caso pia mais fino. Talvez por isso não tenha vindo à tona em programas eleitorais. Os obstáculos são múltiplos, desde o processo de legalização dos imóveis, passando pelo estado de degradação destes, não esquecendo que é necessário substituir toda a conduta da rede de águas, saneamento e resíduos sólidos. Convém não esquecer que a estação de tratamento daquela urbanização certamente não funcionará ...
Quem vai restaurar toda esta logística? Quantos meses ou anos vão demorar a fazer estas obras?As casas ainda nem têm dono e quando o tiverem este será o Estado. E o nosso Governo vai fazer uma ponte, um aeroporto e uma linha de TGV. Não vai gastar o seu dinheirinho a arranjar casas na Fronteira de Marvão. O Município? Nem pensar!!! Andam-se a contar os escassos cêntimos que sobram para pagar a iluminação pública e o gás da Piscina de Santo António... já para não falarmos de quem vai pagar a iluminação da época natalícia que se avizinha.
Mais importância assume ainda o facto de que esta aparente alegria provocada pela vinda dos neo-colonizadores, ser suplantada pela preocupação produzida nas hostes indígenas que criaram expectativas em relação àquelas casinhas, já para não falarmos dos actuais residentes, todos eles sem certezas absolutas em relação à forma como os seus casos vão ser abordados.
Por tudo isto, não convinha "descompensar" a populaça com uma notícia que certamente teria uma dupla leitura.
Penso eu de que...
2 comentários:
É verdade!
Este tipo de processos de (re)povoamento têm sempre várias leituras possíveis, que têm de ser levadas em linha de conta. Existem várias determinantes em jogo, que em primeiro lugar passam pelas condições de recepção desses novos habitantes, de um ponto de vista infra-estrutural, social e até económico; depois importa auscultar a receptividade dos locais em relação a esses novos habitantes; e em última análise importa reflectir sobre a natureza destas intervenções.
Tenho seguido com algum interesse nos últimos tempos projectos desta natureza; lembram-se há cerca de três anos aquilo que aconteceu em Vila de Rei? Onde a autarquia trouxe uma série de casais brasileiros, na sua maioria qualificados, para combater o despovoamento local. Penso que aos dias de hoje já nenhum destes casais ali reside. O que se passou? A população, na sua maioria, não estava muito receptiva em relação à sua vinda, algumas pessoas desse contingente não encontrou trabalho ali, e outras viram o seu contrato terminar passado algum tempo, e algumas famílias estavam alojadas em casas sem condições. Fracassou esse processo de repovoamento. Porquê? Não sei determinar a razão de ser, concreta, para a suspensão desse projecto, mas com certeza que não estavam reunidas todas as condições, sobretudo aquelas que descrevi em cima, para receber condigna e sustentávelmente esses novos povoadores; aposto, também, que a autarca que idealizou este processo nunca ouviu os seus habitantes e as instituições locais sobre a abertura a esta vinda. Falta de Planeamento, portanto.
Antes de tudo isto temos de pensar na natureza, na génese, destas dinâmicas territoriais. E sobre isso tenho reflectido bastante ultimamente, concretamente no que toca ao projecto que está em cima da mesa dos "novos povoadores". Para lá das questões de localização, questões logísticas, e de valorização da população residente, muito bem ilustradas pelo Garraio, e também antes de pensarmos no público-alvo (que neste caso passa por pessoas reformadas e à beira da reforma), na questão da área de actividade, e sua sustentabilidade, temos de pensar à priori na essência destes projectos de repovoamento. Neste caso concreto significa que vamos contratar os serviços de uma empresa para trazer pessoas à beira da reforma para desenvolverem actividades criativa em Marvão, quando temos jovens licenciados a abandonar o concelho em busca de novas oportunidades. Esta é a realidade. O dinheiro que vai ser investido, e as condições que vão ser dadas, serviriam para chamar novamente ao concelho marvanenses que se viram obrigados a partir. Vale a pena pensar nisto.
Ainda assim acredito que a dinâmica dos "novos povoadores" é muito interessante, e que com certeza o Concelho terá muito a ganhar com este projecto, que só irá ter sucesso se pensarmos colectivamente sobre a sua natureza e localização, sobre a população-alvo que nos interessa cativar, e se a entidade promotora do projecto ouvir a população e criar parcerias com as associações locais. Pense-se bem antes de agir, hierarquizem-se prioridades, para que não hajam Alegrias Tristes.
Cumprimentos Marvanenses,
Tiago Pereira
Meu caro Tiago Pereira e todos os leitores deste espaço: hoje fui dar uma volta pela Freguesia que eu presido e por volta das 16h quando cheguei à Fronteira de Galegos deparei-me com uma equipa de reportagem da RTP e mais alguns acompanhantes, incluindo o responsável do projecto, o Sr. Frederico Lucas. Depois de me ter identificado foi-me transmitido que a reportagem irá servir para divulgar esta iniciativa na televisão. Portanto, estejamos atentos à comunicação social...
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