sexta-feira, 24 de outubro de 2008

FALEMOS DE SAÚDE - 01

Dou hoje início aqui, a uma nova rubrica que há muito me anda na cabeça, que é escrever umas coisitas sobre saúde e, duma forma simples, poder contribuir para alguma transmissão de conhecimento aos visitantes do Fórum, sobre uma temática que interessa a todos.

Desafiava também outros colaboradores aqui do Fórum (o Kasa, o Jorge e a Maria), com formação nesta área a fazê-lo, porque estaremos, certamente, a fazer algum serviço cívico.

Falar sobre saúde, não é coisa fácil, já que de “poetas, curandeiros e de loucos…, todos sabemos um pouco…”. Mas enfim, arrisquemos, que é para isso que temos um Fórum.

Outra coisa também nada fácil é falar de saúde de uma forma que toda a gente entenda. Eu vou tentar, sabendo de antemão, que me sujeito a algumas críticas por parte dos meus correligionários.

VEM AÍ A VACINA CONTRA O CANCRO DO COLO DO ÚTERO

Vai estar disponível em todos os Centros de Saúde do país, a partir de segunda-feira, dia 27/10, a vacina contra o cancro do colo do útero (HPV).

Este ano pretende vacinar-se apenas as meninas nascidas em 1995, isto é, todas aquelas que fizeram ou fazem 13 anos em 2008.

Em 2009, iniciarão a vacinação as meninas nascidas em 1996 e 1992.

Em 2010, iniciarão a vacinação as nascidas em 1997 e 1993.

Em 2011, iniciarão a vacinação as nascidas em 1998 e 1994.

O que quer dizer que ao longo destes 3 anos serão abrangidas todas as jovens entre os 13 anos e os 18 anos.

A vacinação completa, engloba 3 doses: A segunda dose deve ser administrada 2 meses após a primeira; e a terceira dose, seis meses, após a primeira (0-2-6 meses).

O custo de cada dose ao Serviço Nacional de Saúde será de 55 euros. O que quer dizer que as 3 doses custarão 165 euros.

Cada uma destas coortes (ano) custará ao país cerca de 15 milhões de euros, ou seja, até 2011 (vacinação de 7 coortes), o país irá investir nesta vacinação, cerca de 105 milhões de euros (21 milhões de contos em moeda antiga).

E O QUE PODEM FAZER AS OUTRAS MULHERES

Actualmente a vacina é recomendada pela DGS a todas as mulheres que ainda não tenham iniciado a sua “vida sexual”, sobretudo até aos 26 anos de idade. O que quer dizer que se deveriam vacinar todas as nascidas antes de 1992 (1ª coorte abrangida pelo PNV), e que ainda não tenham completado 26 anos, isto é, as nascidas até 1982.

Só que para estas, a vacina nem tão pouco é comparticipada pelo SNS, e as 3 doses custam actualmente no mercado cerca de 500 euros (veja-se a roubalheira que é, esta coisa do comércio de medicamentos).

Mesmo com este custo, e de acordo com o conhecimento científico actual, é considerado um bom investimento, pois temos de ter em conta, que isto são custos de 6 meses. E quantos idosos não têm de gastar mais que isso em 6 meses para sobreviverem? Este investimento pelo menos é para prevenir…

E as outras? As com mais de 26 anos?

Para essas, aconselha-se, sobretudo a vigilância, através de rastreios periódicos e aconselharem-se junto dos seus médicos de família se deverão fazer a vacinação.

A divisa actual da DGS é inclusivamente: LEVE A SUA FILHA À VACINAÇÃO E FAÇA O RASTREIO.

Se tudo isto correr direitinho evitar-se-á que morram em Portugal por ano entre 300 a 350 mulheres, e que cerca de 1 000 contraiam cancro de colo do útero, sobertudo mulheres jovens, com ganhos de anos de vida.

PARA OS MAIS ESTUDIOSOS ALGUNS DADOS SOBRE O CANCRO DO COLO ÚTERO


A taxa padronizada de incidência do cancro do colo do útero em Portugal, estimada para o ano 2000 foi de 17 casos por 100.000, correspondendo a 958 casos de cancro do colo do útero (Pinheiro et al, 2003).
Em termos de mortalidade, em Portugal ocorreram, respectivamente, 220, 220, e 207 óbitos por cancro do colo do útero em 2002, 2003 e 2004.

No entanto, estes valores poderão estar subavaliados por não incluírem possíveis cancros do colo do útero que foram registados como “neoplasias malignas do útero, porção não especificada”.

Se considerássemos que cerca de metade das mortes por “neoplasias malignas do útero, porção não especificada” estaria localizada no colo do útero, obteríamos anualmente mais de 4,5 mortes/100.000 mulheres (entre 300 a 350 casos por ano).

Estes números são superiores aos dos países da “Europa dos 15” e admite-se que resultem principalmente da inexistência, na prática, a nível nacional, de um programa organizado de rastreio do cancro do colo do útero.

Justificação da introdução de uma vacina contra infecções por Vírus do Papiloma Humano no Programa Nacional de Vacinação

De acordo com a Direcção Geral da Saúde “O Vírus do Papiloma Humano (HPV) é responsável por uma das infecções por transmissão sexual mais comuns a nível mundial.

As infecções genitais por HPV são, geralmente, transmitidas por via sexual através do contacto epitelial directo (pele ou mucosa) e, mais raramente, por via vertical, durante o parto (National Advisory Committee on Immunization – NACI, 2007). Estão também descritos alguns casos de transmissão por contacto orogenital.

A exposição nos primeiros anos após o início da vida sexual é frequente mas não é universal. Num estudo realizado nos Estados Unidos da América (Winer e tal, 2003) 39% das estudantes universitárias tinham sido infectadas por HPV aos 24 meses após o início da actividade sexual, aumentando para 54% aos 48 meses.

Outros estudos identificaram infecção assintomática por HPV em 5-40% das mulheres em idade reprodutiva e referem que a maior parte das mulheres e homens sexualmente activos infectar-se-ão com, pelo menos, um tipo de HPV durante a vida (ECDC, 2008).


O risco estimado de infecção por HPV ao longo da vida é da ordem dos 50 a 80%, em ambos os sexos (Lowndes, 2006).


A vacinação com a vacina HPV, de forma gratuita e universal, das raparigas no início da adolescência tem como objectivo diminuir a incidência das doenças preveníveis pela (s) vacina (s), com destaque para o cancro do colo do útero.

Esta decisão baseia-se na informação epidemiológica sobre as infecções/doenças por HPV em Portugal, sua incidência, letalidade e mortalidade e nas limitações e dificuldades verificadas com o rastreio do cancro do colo do útero a nível nacional.

Para além de não conferir protecção contra todos os genótipos com potencial oncogénico, o impacte da vacinação na incidência do cancro do colo do útero, só se verificará a médio/longo prazo, pelo que é necessário incentivar programas de rastreio organizado cujos resultados na redução da doença se verificam a curto prazo.

Estas estratégias são complementares e permitem cobrir um amplo leque etário de mulheres em diferentes níveis de risco, potenciando os ganhos em saúde.

NOTA: Informação mais completa consta da monografia “Vacinação contra infecções por Vírus do Papiloma Humano (HPV)”, de Maio de 2008, disponível em www.dgs.pt .

3 comentários:

Mário Bugalhão disse...

Muito importante, esse post.
Que lamentável, não haver em todos os Centros de Saúde essa e outras informações da mesma importância.
Por mim deve continuar, vai com toda a certeza, trazer mais leitores ao Blog.
Aliás, com mais post desta importância, e com a abordagem de outros temas, e de outras áreas, este Blog, começará a ser de consulta obrigatória para quem quer estar informado, e assima de tudo bem informado.
Isto é serviço público.

Luísa Garraio disse...

Achei muito interessante este post e parece coincidência ainda ontem, passei numa aula, a campanha publicitária do rastreio do cancro do colo do útero no alentejo...
Sim surgiu a ideia ao passar junto do centro de saúde de Campo Maior e olhei para o outdoor ( quanto a mim apelativo)...procurei na net mais informação e consegui obter todo o material feito em termos publicitários para esta campanha ( desde os pacotes de açucar ao multibanco...)
Assim também passei a informação às minhas alunas do plano de vacinação...e algumas verificaram que também não estão abrangidas...
Mas ficaram sensibilizadas e a maioria informadas sobre o tema...tão importante para todas as mulheres...
E a seguir lançaram-se ao trabalho e lá fizeram folhetos e cartazes sobre a área do seu curso- apoio à infância...bem giros...sobre obesidade infantil, maus-tratos,aborto...
Parabéns pelo post.

Bonito disse...

A ideia de cada um “postar” sobre assuntos sobre os quais tem conhecimentos mais aprofundados, oriundos da sua área académica e/ou profissional, é, na minha opinião, boa ideia.

Se os temas tiverem actualidade e/ou estejam relacionados com alguma realidade local, melhor ainda.

Esse será, com certeza, um caminho que enriquecerá o Fórum e despertará o interesse de mais pessoas!


Grande Abraço
Bonito Dias