terça-feira, 4 de janeiro de 2011

PREGAR NO DESERTO...

Há dias, relendo o Discurso de José Saramago, aquando da atribuição do Prémio Nobel a esse nosso escritor, não pude deixar de me deter a reflectir numa das menções aí citadas, quando se referia, ao seu desacordo com outro grande escritor da língua portuguesa, Fernando Pessoa, perdão, Ricardo Reis, quando este afirmou que “… Sábio é o que se contenta com o espectáculo do mundo".

Não pude deixar de fazer algum paralelismo, entre a época em que Ricardo Reis, perdão Fernando Nogueira Pessoa, terá feito tal afirmação (anos 30, do século passado), e, simultâneamente, o que se vem passando aqui neste Espaço Fórum Marvão, onde a maior parte dos Colaboradores, e mesmo Visitantes, parecem ter desaparecido ou desistido de dar o seu contributo activo, para fazerem deste espaço aquilo que está bem expresso no seu cabeçalho como sua Missão: “… Este espaço nasce no seio de um grupo de Marvanenses orgulhosos do passado, atentos ao presente e preocupados com o futuro. Aberto a todos os temas, o Fórum Marvão pretende debater ideias e opiniões e fazer o seu contraditório, assente nos pilares do respeito e da tolerância. Este Blog não se identifica com qualquer formação política e os seus autores são responsáveis pelos posts e comentários publicados.”

Este espaço, a exemplo do concelho, só não parece mais um despovoado, porque o Contador, que pusemos à “porta”, continua a mostrar que, diariamente, mais de 100 visitantes por aqui continuam a passar, ávidos, certamente, de aqui encontrarem algo sobre o nossa terra. Mas apenas satisfeitos (?), com esse tal "espéctaculo" contemplativo.

Por mim, neste ano de 2011, aqui continuarei a dar o meu contributo, fazendo minhas as palavras de Jorge de Sena, em carta enviada a Eduardo Lourenço: “…cada vez mais, eu escrevo com a noção absoluta de pregar no deserto. Sei que uns entendem e não aceitam, e que outros, que aceitariam, não entendem. Mas a única justificação de uma existência que escreve para testemunhar de todas as verdades é persistir mesmo assim, e escrever da compreensão que era possível no nosso tempo. É provável também que me canse – mas isso nada prova senão contra mim, pois que sempre poderá haver, expressa ou não, uma compreensão profunda e amplificadora como a sua. A tristeza, porém, é muita; e não sei se, ainda que (quem sabe?) alegremente, não acabaremos por nos convencer definitivamente de que só nós estamos errados... e certos todos os outros."

Oxalá não acabe por dar razão a Ricardo Reis e Jorge de Sena!...

João Bugalhão

5 comentários:

Felizardo Cartoon disse...

Compreendo a indignação do João relativamente a este clima de águas paradas! Eu também tenho um espaço bloguista,que é muito mais frequentado por "estrangeiros", do que pessoas do nosso burgo!

Abraço! Hermínio

nuno mota disse...

Por não responderem ou não comentarem não significa que não espreitem e recolham lições !!! Umas boas e outras ... assim, assim !!! Cumprimentos para todos !!!!

Felizardo Cartoon disse...

Também é verdade! A verdade nem sempre é "una".
A unanimidade é que pode ser perigosa!

Abraço para o Nuno Mota!

zira disse...

Eu não falho as consultas quase diárias aos dois blogs referidos.Sou assídua porque me dizem muito de uma forma escrita, ou figurativa.Como diz o Nuno " recolho lições. Mas... "o silêncio é mesmo de ouro".Bem hajam pelo esforço da partilha.

Garraio disse...

Era uma vez um senhor que foi a uma casa.

Abriu a cancela, que estava ao trinco, atravessou o pequeno jardim, e subiu os três degraus que davam acesso ao pequeno hall de entrada.

Tocou a campaínha uma vez. Esperou um momento que considerou prudente e voltou a tocar. Minutos mais tarde, tocou por terceira vez.

Acabou por regressar à sua vida, já que não obteve resposta.

"Mal empregado tempo que perdi a bater naquela porta. Não havia ninguém em casa."

E seguiu o seu caminho.

Mas seria mesmo assim...?