quarta-feira, 20 de abril de 2011

New York Times

New York Times classifica como "desnecessário" o resgate português

O artigo, assinado por Robert M. Fishman, professor de sociologia na Universidade de Notre Dame e co-autor de um livro sobre o euro, começa por considerar o pedido de resgate português como um aviso para as democracias de todo o mundo.

Para o autor, este pedido de ajuda financeira não tem realmente a ver com a dívida externa. "Portugal teve um forte desempenho económico nos anos 90 e estava a conseguir recuperar da recessão global melhor que vários outros países na Europa, mas foi alvo de uma pressão injusta e arbitrária por parte dos corretores, especuladores e analistas de rating que, por razões ideológicas ou de falta de visão, conseguiram agora expulsar uma administração eleita democraticamente e, potencialmente, deixar a próxima de mãos atadas", lê-se.

Por um lado, o artigo reconhece que as dificuldades nacionais têm semelhanças com as da Grécia e da Irlanda, os dois primeiros países a pedir ajuda externa, decorrentes da adopção da moeda única. Mas naqueles países "o veredicto dos mercados reflectia problemas económicos facilmente identificáveis". "A crise de Portugal é diferente: Não havia uma crise genuína subjacente. As instituições e políticas económicas em Portugal, que alguns analistas vêem como irremediavelmente cheias de falhas, tiveram um sucesso notável antes deste país ibérico, de 10 milhões, ser submetido a ondas sucessivas de ataques por parte dos corretores".

E continua: "Elevando os custos dos empréstimos para níveis insustentáveis, as agências de rating levaram Portugal a pedir um resgate".
Em defesa das finanças nacionais, este especialista sublinha que a dívida acumulada portuguesa é inferior à de vários países, como a de Itália, que não forem submetidos a "avaliações tão devastadoras". Também o défice "é mais baixo do que de vários outros países europeus e tem estado a cair rapidamente como resultado do esforço do governo".

O autor deixa ainda a pergunta: "A Europa podia ter evitado este resgate?" E explica como: "O Banco Central Europeu podia ter comprado agressivamente títulos portugueses, acabando com o pânico".

Ás vezes nem tudo o que parece é...
Um abraço

Jorge Miranda

6 comentários:

Jorge Miranda disse...

Esta é a opinião de um Português que reside nos Estados Unidos, será isto possivel?

Sim afinal quem leu todo o artigo e na língua original! Já tinha avisado estes Senhores só param quando atingirem a paridade euro/dólar. O PIB da Europa já é superior aos dos Estados Unidos e, depois, vem logo a china! Os mesmos Senhores que foram responsáveis pelo sub-prime em 2008, são os mesmos que atacam agora o Euro de forma descarada! "São os fundamentalistas que detestam as intervenções de tipo Keynesiano em áreas de política de habitação - que em Portugal permitiu evitar uma bolha e preservou rendas urbanas de baixo custo- bem como, o rendimento assistencial aos pobres"(sic). " Aliás, se há alguém que não deve ser culpado do estado do País é o PM e os políticos portugueses. A recente crise política portuguesa nada tem a ver com incompetência portuguesa, mas decorre da normal actividade política democrática, já que a oposição considerou que podia fazer melhor levando o País a eleições" (sic). Para o Professor os ataques dos mercados condicionaram não só a recuperação económica de Portugal, mas também a sua liberdade política... Faltou coragem e intervenção de quem? do BCE, do PR ...e sobrou sede de vingança da mais esquisita maioria que vi numa AR...Agora a Espanha, a Itália e a Bélgica que vão pondo as barbas de molho... Até à PARIDADE! Porque quem está na bancarrota são os Estados Unidos! Leiam as declarações de Obama de hoje....

myself disse...

Parece que a Câmara de Marvão também está na Bancarrota...vai deixar cair todos os contratos dos Srs. Engenheiros e das Sras Dotoras que terminam este ano...safa-se o mais desgraçadinho...o Sr. Prof. Filipe Sequeira ou será Ferreira?

Nuno Vaz da Silva disse...

É uma versão dos factos, depois deles acontecerem!
A verdade é que nos pusemos a jeito e que o modelo económico que temos vindo a seguir, apoiado em consumo em detrimento de investimento e poupança, não é sustentável para uma pequena economia.
A paridade pode ser um objectivo oculto de alguém mas nestas coisas, o melhor é não darmos o flanco e priveligiarmos a sustentabilidade, deixando de lado o fio da navalha.
De nada vale acusarmos as agências de rating quando não somos eficientes e insistimos em dar tiros nos próprios pés

João, disse...

Meu caro Jorge, ao contrário de outras opiniões que por aqui se postam, acho que o mais importante nas avaliações, não são “as formas”, ou “os processos”, mas sim os conteúdos e os resultados.

O Post que o meu amigo aqui nos trouxe não passa de uma opinião, por muito respeitável que seja o Sr. Professor Robert M. Fishman. Sinceramente, não sendo eu especialista na matéria, não me parece que o sr. esteja muito actualizado em relação ao que por cá se passa.

Como sei que o meu amigo lê todos os jornais, deixo-te aqui em antecipação, um artigo que irá sair amanhã no “SOL”, da autoria de António Nogueira Leite. Publico-o aqui, por me parecer, o contraditório aos conteúdos do teu Post. Depois cada um que julgue por si, se achares, ou tiveres dados opostos, ou que desmintam, vem a terreiro...

Já agora, muito sensata a opinião do Nuno Silva.


"Fim da linha
por António Nogueira Leite


Portugal acumulou uma série de desequilíbrios que eu e muitos colegas vimos há muito denunciando como caminho certo para a tragédia.

Desde há mais de 12 anos que os avisos que eu e muitos outros economistas fomos fazendo, caíram em saco roto e não mereceram a devida atenção por toda uma série de ignorantes poderosos, tanto no Estado como no sector privado.

Na altura, isto é, no final da década de 90 e início da década passada, várias figuras, entre as quais o actual presidente da República, chamaram a atenção para a perigosíssima simultaneidade do avolumar da insustentabilidade das nossas finanças públicas com o crescimento do desequilíbrio externo.

Quanto a este último, expliquei na altura que a permanência na zona euro não nos permitia produzir sucessivos défices externos e que, quando estes se revelassem excessivos, implicariam dolorosos ajustamentos reais.

(continua...)

João, disse...

(continuação..)

Infelizmente, o Banco de Portugal e, em particular, o seu governador, tinham uma visão diversa que, vindo de quem vinha, acabou por fazer escola junto dos sucessivos governos socialistas.

Na verdade, aquando da sua tomada de posse, em Fevereiro de 2000, Constâncio forneceu o argumentário que justificou boa parte dos desvarios que se verificaram durante toda a década seguinte: "...Sem moeda própria não voltaremos a ter problemas de balança de pagamentos iguais aos do passado. Não existe um problema monetário macroeconómico e não há que tomar medidas restritivas por causa da balança de pagamentos. Ninguém analisa a dimensão macro da balança externa do Mississipi ou de qualquer outra região de uma grande união monetária...".


Com este “respaldo teórico”, os governos do engenheiro Sócrates conduziram o país a uma tragédia de proporções inimagináveis.Com a conivência e apoio dos sempre presentes empreiteiros e de outros agentes privados de vistas curtas mas exibindo notável apetite por rendas que o Estado lhes pudesse proporcionar, traçou um caminho que conduziu ao aumento da dívida externa líquida de 94 mil milhões de euros quando tomou posse para 185 mil milhões no final do ano passado, e ao crescimento da dívida pública consolidada de 84 mil milhões para 169 mil milhões.

A isto há que somar muitos compromissos do Estado aos accionistas das fantásticas construções de betão que cobrem o país, aos bancos credores de muitas empresas públicas há muito falidas (desde os anos 90, sublinhe-se) e os resultantes das tropelias financeiras praticadas em empresas municipais e parcerias público privadas do poder local. Os primeiros ascendem hoje a perto de 60 mil milhões de euros, o passivo das empresas públicas subiu de 32 para 63 mil milhões de euros entre 2005 e 2010 e os últimos atingiram uma expressão financeira que nem o Ministério das Finanças ou o Tribunal de Contas sabem determinar.

Este desgoverno fez-nos chegar ao fim da linha. O país foi humilhado e vai ter de mudar. Com dificuldade, penosamente, durante muitos anos.

O golpe dado na credibilidade de Portugal por Sócrates, seus acólitos e múltiplos aliados de circunstância vai demorar muitos anos a recuperar.

O mais extraordinário é que, após tudo isto, quem destruiu Portugal não peça desculpa antes se preocupe em endossar a culpa a sucessivos bodes expiatórios: os especuladores, Frau Merkel e, desde Março, as oposições irresponsáveis.

Miguel Miranda disse...

No dia em que os juros da dívida portuguesa continuam a bater recordes, relembro o fasquia dos 7% colocados pelo Ministro da Finanças. As taxas a cinco anos chegaram aos 10,77%. E as obrigações do Tesouro a dez anos continuaram acima dos 9 por cento. Já no prazo a dois anos os juros estiveram a negociar pela segunda sessão consecutiva acima dos 10%. Os juros da dívida soberana estão imparáveis. É nos prazos mais curtos que a pressão dos mercados tem sido mais forte. Os investidores receiam que Portugal entre em incumprimento caso não obtenha ajuda externa necessária... ou deveremos chamar a este processo usura? Receio de incumprimento ou Oportunismo?
Ultrapassado em muito o sinal de alerta que não foi respeitado, mais uma vez o Português chega tarde e a más horas… até a pedir ajuda!

Ainda ontem, o líder do Bloco de Esquerda acusou PSD e CDS-PP de “fingimento” nas negociações com a “troika” (palavra lida a cada parágrafo e que forçou a sua entrada no léxico) composta pelo Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia que iniciou na segunda-feira as negociações com os responsáveis portugueses para delinear um plano de ajuda financeira a Portugal, após o pedido feito pelo primeiro-ministro demissionário, José Sócrates, a 6 de Abril. A ajuda financeira não será suficiente se não nos ensinarem a pescar!
Eu estou prestes a escrever um: Dicionário da troika para totós.
Quando começa finalmente a expectável auditoria à dívida externa? Ora, esta medida que é o suficientemente legítima tem encontrado demasiada resistência em sair do papel…
Ouvimos ainda, que somos um país de alinhados, pois o principal partido da oposição não terá programa, porque o seu programa é o do FMI, parece também ser essa a ideia da ala mais à direita da oposição, claro está, PS e CDS-PP.
Sinto-me adicionalmente tentado para escrever um breve resumo dos últimos 25 anos… por exemplo,

Compêndio mais que sintético do nosso Portugal: 25 anos depois




Governos apostam na trilogia (esta tricotomia é adaptada):
- obras públicas e construção;
- negócios para as empresas do betão;
- lucros para a banca.
Acima encontram onde devorámos o grosso das ajudas europeias a partir dos anos 80.

Todos satisfeitos dentro de um outro tipo de redoma:
- os governos mostravam obra e ganhavam eleições, e ainda criavam emprego;
- as grandes construtoras do regime, financiadoras dos partidos políticos, tinham oportunidades de negócio a perder de vista;
- os bancos, porque emprestavam sem risco, com a mais sólida das garantias - a do Estado - e assim satisfaziam os seus accionistas;
- e os portugueses em geral, porque deste modo conseguiram viver acima das suas possibilidades.

E agora…? Voltamos a 1978.