Que é feito dessa raça,
dessa mulher, desse homem,
desses que da terra comem,
p'la tenrura da rabaça?
Que é feito dessa casta
qu'a linha tomou d'assalto,
levando ovos, café, tabaco,
e agora, velha, se arrasta?
... que é feito de ti Marvão,
que não sais d'onde eles'tão?
(Luís Bugalhão, in Fórum Marvão)
Cavaco Silva obteve em Marvão, a maior percentagem de votos de todo o distrito de Portalegre, com 58,3%, numa média distrital de 44,7%. Em Évora a média não foi além de 37,6% e, mesmo no distrito de Castelo Branco a média ficou-se pelos 53,8%, numa média nacional que rondou os 53%.
Relembremos aqui, no que toca a autárquicas, um dos casos mais significativos desta opção em eleições passadas: O Sargento Paz enquanto Presidente, concorreu algumas vezes tendo António Andrade como candidato, vencendo sempre. Anos depois, a situação inverteu-se, e sendo Presidente António Andrade eleito pelo PSD, o PS de então, lá convenceu o Sargento Paz a concorrer, e o que se veio a verificar é no mínimo curioso, o Sargento Paz, talvez o mais consensual Presidente de todos os tempos, levou uma “goleada” de 4-1.
A mim o que me faz mais confusão, é este povo que, sendo um dos mais abandonados pelo poder central, e mesmo regional, estar sempre, maioritariamente, de acordo com esses mandantes, não se lhes conhecendo, ao longo da história, qualquer protesto ou mesmo revolta. Senão vejamos:
- Há cerca de 114 anos perdemos o Foral de concelho, por decisão do poder central de então, e não são conhecidas quaisquer revoltas ou protestos. Mas ainda hoje andamos a comemorar heróis da “restauração” do concelho, quando não lhes conhecemos quaisquer feitos.
- Nos dias de hoje, em matéria de serviços de saúde, é o único concelho do distrito que não tem um horário alargado de abertura no Centro de Saúde, apesar de existirem concelhos com menos 500 habitantes que Marvão. Nos últimos anos, os reduzidos cuidados de saúde, vêm-se deteriorando, e estão mesmo a atingir a ruptura. Os representantes autárquicos fazem de conta que nada é com eles, enquanto eleitos da população, e quem sofre é o mexilhão…
- Na justiça, não tem há mais de 100 anos um Tribunal, apesar de ser um dos concelhos mais emblemáticos do distrito, sendo até candidato a património mundial.
- Até há bem pouco tempo não existiam serviços de Registo Predial, e temo que terá por pouco mais tempo, assim como as Finanças.
- É a única sede de concelho que não é servida pela Rodoviária Nacional para viagens de longo curso. Agora fica sem os comboios, mas as manifestações e protestos são feitas por gente de fora. Tentou fazer-se um “boicote eleitoral abstencionista” numa freguesia, mas mesmo assim, ainda houve 35% da população da Beirã que foi votar, praticamente a mesma percentagem que foi em outras freguesias, e o Presidente da Junta acha que foi um êxito.
- No desporto, é dos poucos concelhos que não participa nos campeonatos de futebol sénior, devido ao exíguo apoio dado às associações desportivas. Este ano, nem nos Tradicionais Jogos do Norte Alentejo existe participação municipal.
- A técnica de protestos mais exercida, é quase sempre os “abaixo assinados”, liderados por figuras sinistras, a mando de terceiros que nunca dão a cara. A maioria das vezes, essa estratégia apenas beneficia uns poucos, em desfavor da maioria da população.
Em Marvão, o “Poder” pode dormir descansado…