(em jeito de comentário ao post anterior)
Foi boa a leitura, mas há muitas nuances que importam explicitar. O traço que o Fernando Bonito definiu no último texto está próximo daquilo que se vem assistindo há algum tempo no Concelho – uma enorme indiferença e (até) desconfiança relativamente aos assuntos críticos do nosso Concelho. Esta leitura está certa, mas isto não quer dizer que os habitantes do Concelho de Marvão não acreditem em causas, em projectos mobilizadores, no fundo que há é que saber dar a volta ao texto, e exemplo de isso mesmo foi a grande mobilização que assistimos nas diversas candidaturas autárquicas em Outubro último. No entanto também algum desse fulgor eleitoral se esvaiu com o passar do tempo.
Marvão não é apenas Marvão, é mais que isso. O Concelho de Marvão, pelas suas características, é uma jóia nacional, todos nós sabemos isso. Todo o tipo de questões que digam respeito ao património do Concelho têm uma dimensão que extravasa os limites municipais e até regionais. O grupo que o Movimento por Marvão criou no Facebook há três dias atrás já conta com quase 300 membros, com calorosas discussões e contributos de gente de todo o país.
A Localização do problema, uma falsa questão. O Concelho vale como um todo. Não quero acreditar que, nos dias que correm, hajam pessoas que sejam Marvanenses da Portagem ou Marvanenses de Santo António. O Concelho tem de ser sentido por todos, e de igual forma. Claro que é necessário fazer uma ressalva que cada povoação tem as suas dinâmicas próprias (as suas especificidades), mas o interesse concelhio está acima de qualquer tipo de bairrismo. Sinónimo disto mesmo é a mobilização que se está a gerar em torno da venda da “Coutada”, protagonizada por toda a oposição na Câmara Municipal e também fora dela (o MporM).
Em Marvão não há inimigos, há causas. Pelo menos na minha perspectiva este Concelho é demasiado pequeno, as pessoas são demasiado próximas, que não se pode falar em inimigos. Na Câmara Municipal é verdade que todos sabem das dificuldades que a Oposição tem no diálogo com o Presidente e o Vice-Presidente, todos têm conhecimento que a única pessoa capaz de ter uma atitude dialogante é o Vereador José Manuel Pires, mas isto não faz, de maneira nenhuma, com que os primeiros sejam propriamente inimigos públicos. Existem causas. A oposição tem aplaudido algumas iniciativas, e discordado de outras. E não é por acaso que todos aqueles dossiers que a oposição denunciou publicamente, por ferirem os interesses de Marvão, foram anulados ou revistos. a) Subsídio à Associação Comercial de Portalegre - revisto; b) Sociedade Anónima de Capitais Mistos - em revisão há mais de dois meses; c) o projecto “Novos Povoadores” - que curiosamente reunia reticências dentro da bancada do PSD na Assembleia Municipal, foi temporariamente interrompido a pedido do próprio executivo na última reunião de Câmara. E o mesmo se irá passar com a venda da Coutada.
O porquê daqueles que estão contra, e caminhos para o desenvolvimento. Quem está contra são aquelas pessoas que têm memória (sendo obviamente demasiado redutor); que se recordam do que se passou (e está a passar) com o Aldeamento do Golfe. Os regimes de excepção. Os interesses nacionais. Os postos de trabalho. Todas estas condições fizeram com que os Marvanenses estejam hoje mais alertados para os perigos da venda de uma propriedade como esta no Concelho. Uma propriedade que incorpora uma parte substancial da Calçada Romana. Uma propriedade que é estruturante na harmonia natural do Concelho. Um propriedade que é parte integrante da beleza de Marvão. Não deveria a Câmara Municipal salvaguardar este tipo de propriedades, de forma a preservar aquilo que faz o nosso Concelho diferente - o seu património? Falando do processo de desenvolvimento do nosso Concelho, este deve passar pelo equilíbrio harmonioso entre o desenvolvimento económico (turístico, agro-alimentar, pequena indústria e agricultura) com o meio natural e o património cultural e edificado. [Um aparte: se queremos falar em desenvolvimento não devíamos estar a trabalhar já no futuro sustentável do Ninho de Empresas? Não deveria a Câmara Municipal criar reuniões participadas de forma a criar redes que desenvolvam a infra-estrutura? Pessoas como, por exemplo, o Fernando Bonito, o Nuno Vaz da Silva, ou o Joaquim Silva não seriam mais valias para o projecto, se fossem ouvidas e incluídas de uma forma aberta e desinteressada? Até agora nada!] O problema em apoiar-se a venda da “Coutada” é que alegadamente esta propriedade servirá para desenvolver um percurso BTT. O problema aqui é só o “alegadamente”. Temos de ser realistas, ninguém vai viver em Marvão só dos percursos BTT. Ninguém vai largar 114.000€ para que depois sejam rentabilizados com percursos de bicicletas. E mesmo que seja, mais tarde, no futuro, vai sempre haver um projecto, uma casa, um bungalow...sem que a Câmara possa fazer directamente nada, caso seja posto o interesse nacional em causa (o tal regime de excepção). Os munícipes vão ficar, também, por arrasto sem poder de decisão sobre o património do seu Concelho.
Porque Marvão não deve ser uma disneyland, ou então isto é uma conclusão. Este texto pretende exaltar a consciência dos Marvanenses (aqueles de todo o Concelho) para que se juntem à voz de protesto contra esta decisão de colocar o património do Concelho à venda, bem como pretende fornecer algumas informações úteis para o debate, e o contraditório. Tendo, de outro ponto de vista, consciência que as opiniões aqui transcritas poderão estar carregadas de incorrecções ou impressões factuais. Por fim, e como em qualquer tomada de posição, há sempre duas, ou mais, faces da moeda; ao haver escolha, ao ser tomada uma posição, exigisse que passe a existir também responsabilização, pelas tomadas de decisão. E a responsabilidade é também saber admitir o erro. Aqui fica o recado.