Tem-se andado aqui no Fórum nas “bordas” deste tema, mas parece-me que ele ainda não foi verdadeiramente esmiuçado. Vou tentar deixar aqui a minha versão:
O projecto Novos Povoadores é promovido pela empresa “Info-excelência, Lda.”, liderada pelo Sr. Lucas (empreendedor de projectos de inteligência territorial), um “ponta de lança” à moderna, que numa das suas visitas ao Interior de Portugal abandonado e ostracizado, teve uma ideia, obvia: “… que se no litoral existe gente a mais, e no interior falta dela, talvez que, transferido alguns citadinos (segundo ele injectar massa critica em território abandonado), para o meio rústico, servindo ele e a sua empresa como facilitadores, talvez pudesse adicionar alguns activos ao seu património!"
Logo de seguida, juntou-se com uns amigos e formou a dita empresa, e deitaram mãos à obra. Entraram em contacto com algumas autarquias, entre as quais Marvão, a quem propuseram o negócio, que se baseava na seguinte metodologia:
A “Info-excelência, Lda.”, seleccionaria 10 famílias fartas da cidade, previamente inscritas nos seus ficheiros (sem nos elucidar de quantos membros cada), trá-las-iam a conhecer os indígenas e o seu cantão, que já deveriam ter sido sensibilizados a serem hospedeiros exemplares e afáveis para tão distintos “colonos”, e quando colocassem cá por 12 meses metade dessas famílias de elite (cinco), a dita empresa recebia 18 300 euros; quando colocasse cá as dez famílias, receberiam mais 18 3000 euros, que totalizariam 36 600 euros.
Estas verbas eram na totalidade para a “empresa promotora”. Nada de fazer confusão que seriam para os ilustres seleccionados.
À autarquia cabia: facilitar os contactos com a povoação indígena, servir de cicerones para mostrar e disponibilizar os recursos do cantão, usar todo o seu charme para demonstrar que o seu território é melhor que o do vizinho, solucionar problemas do dia-a-dia, resolver conflitos, e claro, pagar a conta ao Sr. Lucas e aos seus prestimosos colaboradores.
Para ilustrar este Projecto, juntaram os seus promotores uma serie de termos “inglesados”, para que soubéssemos que os senhores eram gente culta e tinham frequentado “faculdades de primeira” (mas onde não existem dicionários), tais como: hardware, nearshoring, outsourcing, co-working, personal touch, corporate, kit …, etc.
Foi assim este “Projecto” aprovado em Câmara Municipal, com 3 votos a favor (Vítor Frutuoso, Luís Vitorino e José Manuel Pires); abstenção de Madalena Tavares; e voto contra de Nuno Lopes.
Após esta aprovação, foi o dito, submetido a apreciação e aprovação na Assembleia Municipal, tendo sido aprovado apenas pelos votos favoráveis do PSD (11 votos), e abstenções do PS e “Juntos por Marvão” (8 votos).
No entanto, os membros do PSD, que não quiseram inviabilizar à partida um Projecto que parecia elegante na sua filosofia, fizeram aprovar uma “pequena alteração” e que se baseava no seguinte: o período de permanência teria de ser de 18 meses; e a fórmula de pagamento seria: 25% no acto de assinatura, 25% após instalação de 5 famílias, 25% após instalação de 8 famílias, e o restante quando se instalassem as 10 famílias.
Claro que, à excepção do período de permanência (18 meses), a coisa ficava praticamente na mesma, mas mostrava que os representantes dos indígenas estavam atentos, aos “inteligentes” promotores.
Parece que esta alteração irritou o Sr. empreendedor de projectos de inteligência territorial e, pelos vistos, Marvão passou a ser um Cantão, fora da quimera dos Povoadores Novos…
TA: Este Sr. Lucas pensa que anda a contar “estóreas” da carochinha a meninos do campo, e já deveria ter aprendido na sua estadia em Trancoso, que o “conto do vigário” tem de ser melhor contado ao pessoal da “província”…