terça-feira, 12 de maio de 2009

Metáforas, eufemismos, alegorias, hipérboles, ironias e outras que tais…


Em tempos, não muito remotos, tive este texto escrito, como resposta a algumas metáforas, eufemismos, alegorias, hipérboles, ironias e outras que tais, com que então, o amigo Garraio, também na altura me brindou.

Não o publiquei na altura, porque me pareceu ultrapassado, mas fiquei sempre com pena de o não ter feito.

Talvez agora pareça um pouco desajustado (ou talvez não), e para quem a memória não seja curta, e, com o devido respeito aqui vai, assim como carta que ficou esquecida no correio:

"....Meu caro amigo Garraio, também eu me lembro de quando os nossos ribeiros e riachos, albergavam todas essas variedades de “peixes” (barbos, carpas, bogas e bordalos) a que te referes no comentário lá atrás.

E lembro-me desde muito novo, quase na primeira infância, pois nasci numa casa junto à ribeira, que aí ainda o é, e se transforma, quilómetros mais abaixo, no rio a que chamam Sever. Infelizmente, essa casa, tal como os peixes (não aos que te referes, porque esses hão-de sempre existir), já desapareceu com o tempo, era conhecida pelo “moinho do Balcão”.

Ao contrário de ti, eu nunca fui “pescador”. Sobretudo por falta de jeito, nem com anzol, nem à mão. Ao contrário do meu primo António, rapaz da minha idade, que pedra onde ele metesse a unha, daí saia um dos tais “vardascudos”.

Penso que hoje, ainda mantenho essas inaptidões. Porque ainda há dias te “lancei o isco” e tu disseste que não valia a pena…, porque bem sabias o que o “mal-asado pescador” pretendia!

Quem teve, por conjunturas da vida, de usar de tal arte de pescador (não a que te referes, porque eram outros os tempos), foi o meu pai. Manuel lhe chamavam, já que o apelido era o que eu hoje carrego de bom gosto, único, apenas pertencente aos meus familiares, quer os próximos, quer os mais afastados. Mas dizia eu, que tais conjunturas da vida, levaram-no muitas vezes a ter mesmo que arriscar a dita, lançando mãos à obra, não com “anzol”, porque não havia tempo a perder, mas, com a sua “pobre rede” e meia dúzia de bolas de cicuta (embudo), se lançar à água gelada do inverno, para retirar uns quilos dos tais barbos, carpas, bogas e bordalos.

Claro que, meu amigo Garraio, aqui o segredo estava no tal “embudo”, tóxico para os peixes (e para as vacas, que morriam que nem tordos se provassem a raiz), a “rede” servia apenas para não os deixar perder na “corrente”. Evidentemente, havia sempre um dos tais “vardascudos”, que cavava com duas ou três “rabanadas” ao cimo da água, deixando o pobre Bugalhão a praguejar: “anda coooorno que já te escapaste”.

Mas, como o “dinheirito” não abundava por aqueles tempos, ia o incauto “pescador” vender (se tal se podia chamar, aos míseros tostões recebidos), os tais barbos, carpas, bogas e bordalos (há excepção dos “vardascudos”, esses já navegavam em “novas” águas), à tasca do “manhoso” lá da aldeia, que com eles fazia uma belíssima petisqueira para os mais endinheirados. Isto é, mesmo a propósito, “ fazendo render o peixe”…

Entre os fregueses frequentadores, estava quase sempre um tal “guarda-rios” (uma espécie de “fiscal da asae” para as águas, desse tempo), que não se sabe muito bem como, lá acabavam por lhe “bufar”, quem tinha sido o ardil pescador.

E daí, que tantas vezes o cântaro ia à fonte, isto é, às águas da tal ribeira, no tal parque do santo mamede, que ainda tinha barbos, carpas, bogas e bordalos…, que um dia, o pescador Manuel, foi malhar com os magros costados, durante trinta dias, à cadeia de Castelo de Vide. Que nesse tempo, a justiça não brincava como nos dias de hoje.

Mas, como todas as “estóreas” têm a sua moral, também esta não foge à regra.

E assim, sabe o meu amigo quem ficava a lucrar com os “ingénuos peixes” e do “pescador marioneta”?

Claro…, o “manhoso”, o “antepassado dos asaes” e, evidentemente, os tais “vardascudos” que se viam livres, por uns tempos, do mbugas…

Um abraço para o meu amigo, extensivo a todos os visitantes aqui da “metráfora forista
”.



"Os amigos não têm que estar sempre de acordo! O que têm é repeito uns pelos outros..."

Um comentário:

Garraio disse...

Amigo João:
Não percebi bem o teu comentário, mas um dia destes explicas-me pessoalmente.

Tenho um amigo pescador que diz que, pelo menos uma vez na vida, até os peixes mais difícess picam no anzol.

Se calhar, aconteceu hoje. Se calhar nem por isso...

Quanto à foto do terrível trio do Eixo do Mal, devo dizer que vocês os dois ficaram muito bem.

Cumprimentos da gerência.