UM POUCO DE HISTÓRIA
(CAPÍTULO III)
De acordo com as fontes que consultámos, tudo aponta, para que integração do concelho de Marvão no de Castelo de Vide em 1895, se tenha feito de uma forma pacífica e com total concordância de todas as partes.
Em nossa opinião, se a reacção do povo nos parece normal, numa época em que a maioria dos habitantes do concelho era gente pobre e dependente de alguns proprietários endinheirados, preocupada muito mais com a sua sobrevivência, do que com questões politicas ou de poder, já muito nos admira a reacção passiva dos dirigentes do concelho, de quem não se conhece qualquer oposição ou resistência aos factos aqui relatados. Sinal que, ou estiveram de acordo, ou foram de facto aliciados pelo Partido Progressista a integrarem uma vereação futura conjunta em Castelo de Vide.
A bem da verdade histórica, é bom que se saiba, que a maioria dos dirigentes autárquicos da época não eram profissionais, eram grandes proprietários da região, que desempenhavam essas funções, mas que, simultaneamente, tinham poder sobre o povo, que deles dependia, e se quisessem (ou pudessem), com facilidade teriam liderado o povo a revoltar-se contra a integração no concelho vizinho. Ora tal, como sabemos não aconteceu!
Em jeito de conclusão do que descrevemos, ficam as palavras de Maria Ana Bernardo, autora da obra – Centenário da Restauração do Concelho de Marvão, quando nos diz que “… de tudo o que se mencionou sobre o sentido das informações inclusas em documentação da administração municipal e concelhia de Castelo de Vide ressalta, por um lado, a satisfação com que os responsáveis por Castelo de Vide receberam o preceituado do decreto de 26 de Setembro de 1895, por outro, o ambiente de normalidade administrativa em que decorreu a anexação e, finalmente, a ausência de indicações sobre protestos oficiais oriundos dos antigos dirigentes de Marvão, ou sobre levantamentos populares.”
Durante estes dois anos em que durou a integração, muito pouco nos chegou até hoje, já que em Marvão não são conhecidos quaisquer documentos de como terá decorrido a vida no concelho durante esse período. E em Castelo de Vide, também as referências são poucas, à excepção de referências a pequenos delitos ou fuga de mancebos ao recenseamento militar.
Ficamos assim sem saber se esta integração terá aproveitado alguma coisa aos marvanenses, pois já o mesmo, não se poderá dizer dos de Castelo de Vide, que em acta de 27 de Janeiro de 1898, da sua vereação, nos chegou a seguinte declaração, com que analisavam o final da anexação de Marvão: “… esta vereação concorreu quanto pode para assinalar as vantagens da anexação dos concelhos de Castelo de Vide e de Marvão, agora desanexados, com grave prejuízo dos povos dos dois concelhos, que sempre viveram na melhor harmonia e assim hão-de continuar, estreitando-se cada vez mais as relações de família que os ligam e a comunidade de interesses comerciais e industriais que convergem a Castelo de Vide pela sua situação e elementos da vida. Crê que a desanexação não será duradoura, por quanto ela não exprime a vontade geral e obedeceu apenas, às veleidades de alguns homens, que levados de “nimio” amor pelas suas ideias sacrificaram a consciência e legítimos interesses dos povos aos seus caprichos. Apela para os testemunhos dos mesmos povos e eles dirão como nos dois anos que estiveram unidos experimentaram benefícios e melhoramentos que chegaram aos lugares mais distantes e como em tudo se revelou melhoria na administração municipal, e d´ora em diante hão-de ver retraídos esses benefícios, principalmente nas freguesias de Marvão onde faltam indivíduos habilitados para a necessária rotação dos cargos públicos, e rendimentos para fazer face às despesas de administração e aos melhoramentos privativos das localidades…”
Parece ser sempre a mesma história os integradores ou colonizadores paternalistas, face aos "desgraçadinhos" integrados ou colonizados…
Passados cem anos, ainda por cá andamos e separados. Com prejuízo? Talvez!
(CAPÍTULO III)
De acordo com as fontes que consultámos, tudo aponta, para que integração do concelho de Marvão no de Castelo de Vide em 1895, se tenha feito de uma forma pacífica e com total concordância de todas as partes.
Em nossa opinião, se a reacção do povo nos parece normal, numa época em que a maioria dos habitantes do concelho era gente pobre e dependente de alguns proprietários endinheirados, preocupada muito mais com a sua sobrevivência, do que com questões politicas ou de poder, já muito nos admira a reacção passiva dos dirigentes do concelho, de quem não se conhece qualquer oposição ou resistência aos factos aqui relatados. Sinal que, ou estiveram de acordo, ou foram de facto aliciados pelo Partido Progressista a integrarem uma vereação futura conjunta em Castelo de Vide.
A bem da verdade histórica, é bom que se saiba, que a maioria dos dirigentes autárquicos da época não eram profissionais, eram grandes proprietários da região, que desempenhavam essas funções, mas que, simultaneamente, tinham poder sobre o povo, que deles dependia, e se quisessem (ou pudessem), com facilidade teriam liderado o povo a revoltar-se contra a integração no concelho vizinho. Ora tal, como sabemos não aconteceu!
Em jeito de conclusão do que descrevemos, ficam as palavras de Maria Ana Bernardo, autora da obra – Centenário da Restauração do Concelho de Marvão, quando nos diz que “… de tudo o que se mencionou sobre o sentido das informações inclusas em documentação da administração municipal e concelhia de Castelo de Vide ressalta, por um lado, a satisfação com que os responsáveis por Castelo de Vide receberam o preceituado do decreto de 26 de Setembro de 1895, por outro, o ambiente de normalidade administrativa em que decorreu a anexação e, finalmente, a ausência de indicações sobre protestos oficiais oriundos dos antigos dirigentes de Marvão, ou sobre levantamentos populares.”
Durante estes dois anos em que durou a integração, muito pouco nos chegou até hoje, já que em Marvão não são conhecidos quaisquer documentos de como terá decorrido a vida no concelho durante esse período. E em Castelo de Vide, também as referências são poucas, à excepção de referências a pequenos delitos ou fuga de mancebos ao recenseamento militar.
Ficamos assim sem saber se esta integração terá aproveitado alguma coisa aos marvanenses, pois já o mesmo, não se poderá dizer dos de Castelo de Vide, que em acta de 27 de Janeiro de 1898, da sua vereação, nos chegou a seguinte declaração, com que analisavam o final da anexação de Marvão: “… esta vereação concorreu quanto pode para assinalar as vantagens da anexação dos concelhos de Castelo de Vide e de Marvão, agora desanexados, com grave prejuízo dos povos dos dois concelhos, que sempre viveram na melhor harmonia e assim hão-de continuar, estreitando-se cada vez mais as relações de família que os ligam e a comunidade de interesses comerciais e industriais que convergem a Castelo de Vide pela sua situação e elementos da vida. Crê que a desanexação não será duradoura, por quanto ela não exprime a vontade geral e obedeceu apenas, às veleidades de alguns homens, que levados de “nimio” amor pelas suas ideias sacrificaram a consciência e legítimos interesses dos povos aos seus caprichos. Apela para os testemunhos dos mesmos povos e eles dirão como nos dois anos que estiveram unidos experimentaram benefícios e melhoramentos que chegaram aos lugares mais distantes e como em tudo se revelou melhoria na administração municipal, e d´ora em diante hão-de ver retraídos esses benefícios, principalmente nas freguesias de Marvão onde faltam indivíduos habilitados para a necessária rotação dos cargos públicos, e rendimentos para fazer face às despesas de administração e aos melhoramentos privativos das localidades…”
Parece ser sempre a mesma história os integradores ou colonizadores paternalistas, face aos "desgraçadinhos" integrados ou colonizados…
Passados cem anos, ainda por cá andamos e separados. Com prejuízo? Talvez!
Por muito mais tempo? O futuro dirá…, mas se houver junção, cá por mim e por uma questão de rotatividade (à boa maneira monárquica da época), a Sede, desta vez, será em Marvão.
Veremos como pensam os de Castelo de Vide…
3 comentários:
O tema é interessante e importante, para se ter uma ideia do passado histórico do Concelho de Marvão.
Com o conhecimento do passado e das raízes onde assenta o Concelho, podemos pensar melhor o futuro, cometer menos erros, escolher outros caminhos.
Quando o assunto é Marvão e Castelo de Vide, a sua relação, ou a falta dela (aliás como acontece na maioria das terras vizinhas), à que olhar com uma certa distância, para assim, se ter uma visão mais abrangente e mais desapaixonada.
É que, e espero não estar a ser injusto, me parece que quando se conta a história, devem-se separar os factos das opiniões, e se nos capítulos I e II, há essa preocupação, no capitulo III, ela não é clara, estão misturadas.
E do que li, foram apurados factos, com certeza recorrendo-se a documentos históricos, e relativamente a estes, nada tenho a acrescentar.
No que diz respeitos ás opiniões, também elas são válidas, quer se goste ou não, vinculam a pessoa que as emite.
E aqui, permita-me o autor dos post, nota-se da sua parte, uma certa crispação em relação à Vila de Castelo de Vide, parecendo que eles estão sempre á espreita para nos roubar o concelho, ou tirar as riquezas marvanenses, o que me parece não ser o caso.
Marvão e Castelo de Vide, estão condenados a ser vizinhos, são concelhos de pessoas trabalhadoras, humildes, que vivem com as mesmas dificuldades, pelo que, nada melhor do que viver em boa vizinhança.
Ambos os concelhos têm a ganhar em caminhar de braço dado.
A face mais visível seria o turismo, evitavam-se por exemplo, os problemas da descontinuidade territorial falada na criação do “Turismo do Alentejo E.R.T.”, ou a preocupação constante de se tentar roubar turismo ao outro.
Isso para não falar dos enormes benefícios que ambos teriam na troca/empréstimo das suas infra-estruturas.
Nem uns foram ou são os integradores endinheirados, nem outros foram ou são os desgraçadinhos.
Tivera eu responsabilidades políticas municipais, e uma das medidas principais a tomar, seria criar ligações fortes com Castelo de Vide, Portalegre e Espanha.
Mário Bugalhão
A história da Restauração do Concelho de Marvão é algo que me deprime. Não poderia ouvir falar nela, nem que o narrador fosse o Prof. Hermano Saraiva.
Não sei nada de História, e de outras coisas também não. Mas, o certo é que, apesar do célebre ditado “De Espanha nem bom vento, nem bom casamento…”, ainda não consegui vislumbrar, quer na história antiga, quer na moderna, quer na actualidade, um, (um único!) testemunho de qualquer tipo de relacionamento entre Castelo de Vide e Marvão que tenha favorecido os marvanenses. Pode ser que seja mania minha…
E, como o seguro morreu de velho, a papelada está em ordem para, se esse novo holocausto chegar, pedir, de imediato, asilo político a Valência de Alcântara.
Até já tive um sonho sobre isso. Em breve vou-vos contar…
No que respeita às relações com Castelo de Vide, Portalegre e Espanha tenho a mesmíssima opinião que o Mário Bugalhão!
É uma perfeita estupidez esta região não estar unida, principalmente na promoção turística.
Com esta parceria, que seria estratégica, todos ganhariam!
Assim, de costas voltadas, é o que se vê...
Grande Abraço
Bonito Dias
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