"Hermínio Felizardo - A angústia de um artista sem tempo"
Um marvanense que nasceu com um dom, mas que vive na angústia de não ter tempo para mostrar todo o seu potencial. É em Carreiras que encontramos Hermínio Felizardo, um marvanense formado em Artes Plásticas e Escultura, que nos abriu a porta da sua casa e do seu coração e confessou as frustrações e o desânimo de quem tem um sonho nas mãos, mas não o consegue realizar.
Natural de Santo António das Areias, Hermínio Felizardo nasceu a 24 de Agosto de 1963. Desde muito novo provou ter uma apetência especial para as artes visuais, o que o levou a completar o 12º ano, a ingressar no Centro de Arte e Comunicação Visual (ARCO) e, pouco tempo depois, no curso de Artes Plásticas/Escultura na Escola Superior de Belas Artes, no Porto onde, segundo nos disse, teve "uma grande oportunidade de limar algumas arestas, conhecer técnicas e ter um relacionamento muito mais incisivo com o meio. Depois do curso, e como neste País a importância dada ao mundo da arte é quase nula, tive de colocar o pão na mesa para a família e começar a dar aulas de Educação Visual, História de Arte, Teoria do Design", recorda.
No início da carreira docente, Hermínio Felizardo leccionou em Póvoa do Varzim, Santo Tirso, Matosinhos, Gondomar e, de regresso ao Alentejo (1992), nas escolas do Crato, Mouzinho da Silveira e na José Régio (até aos dias de hoje). Apesar de admitir que ser professor é uma profissão que exerceu sempre com imenso prazer, o marvanense afirma que, nos dias de hoje, a componente burocrática é extremamente intensa e responsável pelo surgimento de factores de grande ansiedade. Mas o pior é o tempo, uma vez que ao final de um dia de trabalho, incluindo a preparação de aulas, restam-lhe pouco minutos para dedicar à família e à sua grande paixão.
A verdade é que com afinco e determinação, Hermínio Felizardo lá vai aceitando alguns desafios e realizando pequenos sonhos. A sua casa é o espelho disso mesmo. Todo o design do edifício e da sua envolvência foram projectados pela sua imaginação e criatividade. Tanto no interior como no exterior, o artista deixa a sua marca, seja em grandes peças ou pequenos pormenores. Enquanto no jardim podemos encontrar uma piscina (também idealizada) e várias obras que realizou através da reutilização e descontextualização de objectos das mais variadas matérias-primas, o interior emana todo um percurso artístico, desde o curso de artes plásticas até aos dias de hoje.
"O artista vive para a arte e pela arte e eu não consigo"
De salientar o arquivo de cd´s numa balança antiga, os candeeiros feitos de filtros de automóveis e até de patuscas e o sofá, construído a partir de um banco traseiro de um carro antigo. Mas, além disso, há uma panóplia de quadros, pinturas, desenhos, tapeçarias e até esculturas. Como nos revelou, "penso que apenas sou conhecido pela Banda Desenhada que, nos dias de hoje, não me satisfaz completamente. Sou melhor a fazer outro tipo de trabalho e quis mostrá-lo porque a minha casa é uma pequena galeria. Não sou um artista consagrado, nem procuro estar na ribalta, mas sinto a necessidade constante de produzir arte", frisou, acrescentando que não se pode ser artista sem tempo
Os trabalhos que nos foi apresentando são, na sua opinião, fruto do tempo que "rouba" constantemente à família, um gesto que lhe cria momentos de grande ansiedade, angústia e frustração.
Em termos de trabalho, Hermínio Felizardo continua a dedicar-se a um leque bastante vasto de formas de expressão. A caricatura, a pintura, a banda desenhada, a tapeçaria, decoração de interiores e exteriores, a recuperação de móveis antigos, a reutilização e descontextualização de objectos e ainda a escultura são estilos facilmente identificáveis na casa do homem que fez o busto de Mouzinho da Silveira, em Portalegre.
No entanto, e apesar de ser reconhecido pela banda desenhada, Hermínio Felizardo garante que, neste momento, é nos cartoons e, principalmente, na caricatura que tem conquistado uma grande aceitação, até mesmo a nível internacional, com a publicação do novo Presidente dos Estado Unidos – Barack Obama – no myspace. Além disso, também este ano, participou, pela primeira vez, no Salão Luso-Galaico de Caricatura de Vila Real, onde se destacou com cartoons de José Carlos Malato, José Sócrates e Durão Barroso e José Rodrigues dos Santos. No passado, Hermínio Felizardo realizou ainda quatro cartazes para a Feira da Castanha de Marvão, escreveu duas bandas desenhadas e colaborou no nosso jornal com o "Moisés o Anti–Profeta".
Em termos monetários, o artista confessa que o seu trabalho não lhe tem dado muitos proveitos. "São poucos os que podem viver exclusivamente da arte. Já vendi muitos trabalhos, mas penso que na generalidade, já perdi mais dinheiro do que realmente ganhei. Sempre pensei que quando fizesse o busto de Mouzinho da Silveira tivesse mais projecção, mas não tenho recebido grande procura. Na verdade, também não tenho tempo para expor o meu trabalho. A minha casa é o meu salão de exposição, de peças que não vou vender", sublinha, revelando que já produziu um busto de José Régio para colocar na Escola, mas que ainda não recebeu a aceitação de ninguém.
Quando questionado sobre o que é que falta para ter mais projecção, o artista respondeu, sem hesitar, "o tempo". "Ou se escolhe a família, o trabalho, ou a arte. Vou continuar, mas não me posso dedicar a 100 por cento e vou todos os dias para a cama com projectos que nunca poderei realizar. Tenho muitas expectativas, projectos e sonhos, mas o tempo foge-me das mãos", frisou, dizendo por último que vai continuar a viver "na angústia de não poder realizar os sonhos e projectos que tenho".
Para divulgar o seu trabalho, Hermínio Felizardo utiliza o espaço http://felizardocartoon .blogspot.com/, um espaço onde podemos encontrar caricaturas de políticos portugueses, como José Sócrates e Manuela Ferreira Leite; futebolistas, como Cristiano Ronaldo e Figo; músicos como Mick Jagger e ainda políticos locais, com o vereador marvanense, Pedro Sobreiro.
10 comentários:
O Hermínio não é um marvanense normal. È um artista!
O seu concelho podia, e devia, aproveitar essas suas raras características. Julgo que o Hermínio não terá ganho o “espaço” que merecia em Marvão devido à sua personalidade.
Personalidades pacatas, modestas, genuínas e discretas têm, na actualidade, dificuldades em se impor.
Contudo, o tempo costuma colocar as coisas no seu sítio e o Hermínio ainda é um jovem…
Grande Abraço
Bonito Dias
Foi com um grande arrepio na "espinha" que vi esta reportagem do Fonte Nova .
Quando as coisas que criamos, saiem da nossa esfera de acção para a opinião pública, sentimos que já não são nossas e quase não nos reconhecemos no produto apresentado .
É uma sensação agridoce muito, muito esquisita .Infelizmente na reportagem é dada demasiada importância ao aspecto da angústia, mas no geral, está de acordo com o que penso a respeito das questões referenciadas .
Não estou habituado a estas andanças . Foi com surpresa que a vi apresentada no Fórum Marvão e fico agradecido aos autores da ideia, só tenho receio de poder estar a ocupar em demasia um espaço que é de todos .
Obrigado e bem hajam !
Tenho o prazer de conhecer este Marvanense e de colaborar com ele numa sua iniciativa, depois privei com ele quando de uma lutas politicas, uns anos atrás.Que todos sabemos se trata de um verdadeiro artista com muito ainda para dar á arte.No entanto o que a mim mais me impressionou foi a sua humildade e acima de tudo o trato fino que tem para o seu semelhante.Que bom seria que todos os Marvanenses vissem nele um enorme exemplo a seguir.Bem haja herminio e continuo a gostar de Marvão como gosta. Mena Antunes
Diz-nos o Bonito neste seu Comentário, referindo-se ao Hermínio, e, certamente à sua Obra, que “…Personalidades pacatas, modestas, genuínas e discretas têm, na actualidade, dificuldades em se impor”.
Eu acrescentaria ainda, competentes, justas e honestas…
E isso, para mim, tem uma explicação muito simples: vivemos numa sociedade, a todos os níveis, dirigida por “personalidades cinzentas”, pouco competentes, sem valores, compadrios, interesses pessoais acima do bem comunitário e público, o que conta são as aparências, os canudos tirados numa qualquer escola, os “dr´s” e “eng´s” às vezes comprados em qualquer escola privada dirigida por uma qualquer seita, falta de respeito pelas mais elementares regras de democracia e respeito pelos outros, a conquista do poder a qualquer preço, etc. etc.
Este quadro não diz respeito a qualquer país da América latina, ou de África, estou a falar de Portugal e estou a falar de Marvão.
Infelizmente para todos nós, o MEDO começa a instalar-se, os cidadãos começam a não expressar livremente as suas opiniões, existem até aqueles que aqui neste espaço, já só se expressam por “metáforas” ou em poesia, ou vêm, olham, raramente reparam e, vão andando…
Meus amigos, não foi para isso que foi criado o Fórum Marvão.
O Fórum Marvão não existe para ser uma demonstração de vaidades, ou do tipo “revista cor-de-rosa”… Não esquecer, que o Fórum é um espaço “…aberto a todos os temas, o Fórum Marvão pretende debater ideias e opiniões e fazer o seu contraditório, assente nos pilares do respeito e da tolerância”, e, da liberdade acrescento eu.
E já agora para divulgar personalidades como a que temos neste Post: Hermínio Felizardo, um marvanense com Obra.
Infelizmente, assim como outros, ainda pouco reconhecidos pelas entidades e representantes da sua terra.
E para lutar contra este “status-quo”, que também existe o Fórum!
jbuga
Parabéns ao Hermínio! Abraço.
Parabens Herminío, pela forma como tens guiado a tua carreira sem pisar o teu semelhante.
Em relação ao comentário do Bugalhão e a critica tambem vai para ele, quando os temas são mais polémicos ele tambem se tem retraido,ou estarei enganado.
um abraço
Jorge
Estás enganado Jorge! Não vou a todas...
Começo por dar os merecidos parabéns ao Hermínio.
A reportagem de que foi alvo é inteiramente justa, e honra-o a ele, e às pessoas do Concelho, ainda mais, sendo publicada num Jornal de Portalegre, pois no Concelho de Marvão, como sabem, não há qualquer publicação jornalística ou informativa onde se possam decalcar as gentes, os seus feitos, os seus não feitos e o que pensam fazer.
Felizmente, ainda há por aí uns mercados semanais, onde se podem negociar os produtos do trabalho e, ao mesmo tempo, saber das últimas novidades da terra.
Claro que, também se podem comprar e vender ideias (suas e dos outros), patranhas (suas e dos outros), peixe (o seu e o dos outros, onde se deve incluir a pescada, que antes do ser já o era).
Por aquilo que conheço do Hermínio, as palavras elogiosas proferidas nos comentários anteriores assentam-lhe bem, pelo que as subscrevo na totalidade.
Quero só acrescentar que, independentemente de canudos ou não, porque penso não é disso que se trata, as pessoas podem ser (entre outras coisas):
1- Educadas e formadas;
2- Educadas e mal formadas;
3- Mal-educadas e formadas, e por último;
4- Mal-educadas e mal formadas.
É que a educação, e sendo sucinto, aprende-se desde a nascença, com a ajuda dos pais, e das pessoas que nos rodeiam mais directamente. Tem também a ver com o meio onde se vive.
Quanto à formação, já está mais ligada aos estudos.
Ou se têm estudos, ou não se têm.
Sem me querer alongar, o Hermínio, pertence aqueles que, para além de ser educado (que é o mais importante), também tem formação.
Por isso, devemos distinguir cada pessoa tal como nós pensamos que é, e não dividi-las por categorias, onde todas são boas ou más, conforme a categoria em que estão inseridas. João Bugalhão, com certeza estarás de acordo comigo.
E também concordarás que, há “personalidades cinzentas”, competentes, com valores, sem compadrios, em que não contam só as aparências, e que os canudos tirados numa qualquer escola, de onde saiam esses “dr´s” e “eng´s” de que falas, na esmagadora maioria dos casos não são comprados com dinheiro ou favores, mas com trabalho, dedicação, sacrifício, auto-estima, orgulho e vaidade Q.B..
Um abraço a todos.
Amigo Mário, os "cinzentos" a que me refiro, estão todos incluídos (de acordo com a tua classificação), nos Grupos 3 e 4.
Parabéns Hermínio,
Subscrevo as palavras do Bonito e espero sinceramente que este que é o "nosso" concelho reconheça o artista que és.
Para quem já viveu algum tempo por outras paragens, e têm outras vivências, julgo que sabe sempre a "amargo" a falta de reconhecimento na terra onde nasceste e que tanto gostas...
Luísa Garraio
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