Sempre nutri uma simpatia especial por esses homens que, durante décadas, me entregavam fielmente as cartas de amigos, os postais de boas festas ou a revista do círculo de leitores. Diáriamente, à mesma hora, chovesse, nevasse ou fizesse sol, lá vinham eles nas suas zundapps, a repartir missivas por essas aldeias, notícias das namoradas, dos filhos que estavam na guerra de África, ou de algum familiar emigrado por esse mundo fora.
Sendo eu ainda um calhandras, logo me habituei a ver os Marcelinos, os Leandros, os Mários, homens bons e excelentes profissionais, na sua constante labuta de repartição da correspondência.
Só que esse óptimo serviço que nos foi prestado pelos Correios até há uma dúzia de anos, vem-se degradando a partir do momento em que, como empresa, a administração dos Correios, pura e simplesmente se começou a marimbar no seu dever de cumprir com um serviço público a que todos temos direito. Trabalhadores precários aos quais não se renovam contratos, salários baixos e excessiva rotatividade dos carteiros são alguns dos factores que estão a provocar a degradação acelerada daquela que deve ser a principal função dos Correios: servir a sociedade.
Hoje, lá no meu serviço, ficámos perplexos ao constatarmos que uma dúzia de cartas que enviáramos para o Concelho tinham sido devolvidas pelos motivos mais estapafúrdios que se possam imaginar: algumas não foram entregues nos Alvarrões porque, a partir de agora, é necessário inserir uma espécie de código para todo o destinatário que não tenha número de polícia. Ora, num concelho como o nosso, com uma população altamente dispersa e um esmagador número de alojamentos isolados, isso implica a atribuição de milhares de códigos pessoais, para os quais os correios certamente terão que publicar uma nova lista similar à dos códigos postais. Só que nem os Correios vão elaborar tal lista nem entregam as cartas que, entretanto, já estão a ser devolvidas!
Mais bizarra ainda é a situação de uma carta que foi enviada para uma morada na vila de Marvão com a direcção completíssima e que não foi entregue porque o destinatário não dispunha de uma caixa de correio homologada, onde se pudesse depositar a dita cartinha!
Soubemos posteriormente que o serviço fora concedido a uma empresa privada cuja única obrigação é entregar correspondência a quem reúna todos os requisitos apontados anteriormente. Antes, como contávamos com bons carteiros, as pequenas dificiências nos endereços dos destinatários eram supridas pelo bom serviço desses profissionais, todos eles nativos e residentes na geografia marvanense. A partir de agora, se alguma coisa falhar, devolve-se e pronto.
Cá a mim isto parece-me demais e gera uma situação muito complicada com grande parte da correspondência a entregar no concelho de Marvão.
Vão-se devolver as reformas dos velhotes, as cartas da EDP, e a conta do telefone!
Por favor, que alguém nos salve deste gajo que aparece todos os dias na televisão com o sorriso mais cínico do mundo, como se vivessemos no cenário onde se rodou a Alice no País das Maravilhas!!!
Um comentário:
Cada vez mais os utentes dos serviços,nomeadamente dos ctt, são considerados como números e não como pessoas .
Também retenho na memória, a forma como o correio era entregue porta a porta, ciando elos de ligação muito fortes entre os portadores e os receptores da missivas.
Outros tempos ...
Postar um comentário