domingo, 22 de junho de 2008

Um Concelho, duas apostas para o desenvolvimento...





Marvão é um Concelho “especial”!

Digo isto… não porque seja o meu mas… porque é, de facto, diferente dos outros.

As outras terras têm, normalmente, algo que as diferencia e que se torna a sua “mais valia”, o seu motor para o desenvolvimento.

Este concelho é diferente!

Tem, desde logo, essa pérola que é a vila de Marvão. Que o diferencia de todos os outros, para o melhor e para o pior: para o melhor porque pode permitir a criação de uma dinâmica de desenvolvimento turístico única; para o pior porque, na sua limitação geográfica, não permite, como sede de Concelho, congregar infra-estruturas e vontades.

Sem me referir agora, concretamente, a essa pérola que atrai grande número de visitantes e poderá (deverá) potenciar a dinâmica turística de toda a região, parece-me que o Concelho não pode depender só disso e que apresenta, pelo menos, mais duas vertentes fundamentais para seu desenvolvimento: uma endógena e outra alicerçada na experiência de décadas. Isto, numa perspectiva de apostar em cada sítio naquilo que o mesmo tem de melhor.

Refiro-me a “desenvolvimento” pensando na criação de emprego e, portanto, na fixação de pessoas!

A primeira é a vertente turística local.

A Portagem!

A Portagem tem todas as condições naturais para se tornar no destino de eleição (no verão e não só) para Espanhóis e Portalegrenses. Precisa de ter mais oferta e, sobretudo, oferta de qualidade (por exemplo, uma marisqueira!)

E precisa de ver o seu espaço dinamizado. Essa dinamização compete não só à Câmara e à Junta mas também aos “operadores” locais que se deveriam associar nesse sentido.

Julgo que, no Verão, o espaço do Centro de Lazer deveria ter animação, pelo menos, semanal. Preferencialmente, com grupos espanhóis!

Isso permitiria à Portagem ter um afluxo crescente de visitantes (consumidores) na medida em que teria uma animação constante. Tornar-se-ia um hábito (ainda mais do que agora) ir até à Portagem.

A segunda é a vertente industrial e de pequenos negócios em Santo António das Areias. Esta “indústria”, que tão importante tem sido para o Concelho e que, agora, está em declínio, necessita de ser apoiada, reinventada e rejuvenescida.

A possível deslocalização da unidade produtiva da “Nunes Sequeira” de Borba para Santo António das Areias seria uma grande notícia para o Concelho.

Oxalá seja viável e se concretize!

Apoiar as unidades já existentes e proporcionar o desenvolvimento de outras é fulcral!

Para isso, além de outras medidas, é determinante que surja, finalmente, o tal ninho de empresas, centros de negócios, ou lá o que lhe queiram chamar!

Na próxima Assembleia Municipal (dia 27) vai a votação um pedido de empréstimo, de longo prazo, no montante de € 800.000,00. Este empréstimo contempla, sobretudo, de uma forma lógica (porque estava definido no programa eleitoral), vários loteamentos e outras infra-estruturas urbanísticas e, de uma forma menos lógica e mais discutível, a repavimentação de caminhos. (além da modernização do campo de jogos que será candidatada ao QREN e do projecto para um futuro loteamento industrial).

Fico, assim, algo apreensivo!

Em mais um empréstimo, não vejo ainda contemplada a concretização do ninho de empresas. É que já passaram ¾ do mandato e aquela que foi considerada a prioridade das prioridades no programa eleitoral teima em não ver a luz do dia.

Compreendo que não seja fácil! De facto, nenhum dos executivos anteriores conseguiu implementar esse projecto.

Contudo, também, nenhum deles nunca o assumiu como determinante…


Grande Abraço

Bonito Dias

4 comentários:

Felizardo Cartoon disse...

Gostei muito deste post . Apresenta com bastante rigor, as mais valias do nosso Concelho e os aspectos em que pode melhorar !

Um abraço !
hermínio Felizardo .

João, disse...

A FÁBULA DOS OVOS…

Em primeiro lugar penso que este Post do Bonito tem aqui muito conteúdo para discussão. É pena que a maioria dos nossos visitantes venham aqui apenas para “entrar”, responder aos “questionários” e sair…, sem darem a sua opinião sobre a “mercadoria”. Sobretudo aqueles que têm outras ideias, pois tornariam o debate muito enriquecedor.

Não me irei deter, desta vez, muito nas ideias aqui trazidas pelo Bonito. De uma forma geral, estou de acordo com ele, porque estas foram grandes ideias mestras, que nos fizeram apoiar o Programa Eleitoral do presente Executivo.
Medidas concretas para o desenvolvimento do concelho, das quais se destacavam: a criação de condições para a fixação de pequenas empresas, para manutenção ou criação de emprego, e a continuação numa aposta de dinamização turística, que trouxesse com regularidade pessoas a Marvão.
Pena será, se ao chegarmos ao fim não pudermos fazer uma avaliação positiva.

Mas o que hoje, aqui queria trazer a debate, é algo de mais geral, mas que influencia directamente a nossa vida colectiva e que influi o título deste comentário: a fábula dos ovos!

Em tempos, um tio meu, que nasceu pobre (muito pobre), costumava contar a seguinte história, sobre o seu sucesso económico:

Contava ele, “que no dia do seu casamento, lhe ofereceram uma dúzia de ovos.
Com esses ovos, após ter pedido emprestada uma “galinha choca” a uma vizinha, acabariam por nascer, ao fim de três semanas, meia-dúzia de “pintainhos” (assim que estes começaram a comer e esgravatar, devolveu a galinha).
Desses, 5 eram frangas e um acabou por dar um “galo valente”.

O processo foi sendo replicado, ao longo de alguns anos (das galinhas, passou a porcos, depois a vacas e assim sucessivamente).
Quando chegou a “sua hora”, este homem tinha conseguido, com simplicidade, a sua independência económica e algum património que viria a servir para que as filhas se digladiassem no futuro.”

Mas em termos económicos, poderemos dizer que a vida desse homem, foi um sucesso.

Vem esta “estória”, a respeito de mais uma brilhante ideia do “governo português” e aqui referida pelo Bonito, sobre a aplicação de “fundos comunitários”, agora denominados de QREN, para “relvar campos de futebol”, mas cujo objectivo principal se falava ser para o “desenvolvimento formativo” dos portugueses.

Já não nos bastava, a “boa” aplicação dos 2 anteriores Quadros de Apoio, para desenvolvimento deste país à beira mar plantado, com a aquisição de Jipes topo de gama, belas vivendas de praia, ferias em todas as partes do mundo, piscinas, belos carros, etc., etc… e, como consequência a 24ª economia da “UE a 27”.

Em contrapartida, temos a Irlanda (agora tão badalada, por desafiar os poderosos). Tendo recebido relativamente os mesmos “Fundos Comunitários” (os ovos), decidiram replicá-los, dando sobretudo “Formação a sério” aos irlandeses (apostaram no conhecimento, nas pessoas). Esse conhecimento, replicou-se em desenvolvimento e hoje a Irlanda, que era tão pobre como Portugal, é o país que mais se desenvolveu na Europa Comunitária a 27.

Que teria acontecido se o ti Mané Serra tivesse feito uma valente omoleta com os ovos e convidado os amigos para uma farra?

Certamente o mesmo que aconteceu a este país de festas e farras, de lançadores de foguetes antes das festas e de tristes figuras, no final das ditas.

Nota: O “arrelvamente” dos campos de futebol (entre os quais o dos Outeiro) tinha sido prometido fazer com verbas do Estado português (75% de financiamento), muito antes do QREN…

O QREN, como os outros Quadros Comunitários, destinavam-se a “arranjar ovos” para reproduziram “pintainhos” e não para fazermos pândegas. E…quando chegarmos ao fim, “mordemos” essa erva plástica (mas de raiva), porque nem para dar de comer às ovelhas há-de servir.

jbuga

José Boto disse...

Deixo aqui algumas opiniões sobre o desenvolvimento económico do concelho e da Região.

A. Concordei durante muitos anos que os 2 eixos fundamentais para o desenvolvimento do concelho seriam o Turismo e a manutenção / desenvolvimento da actividade industrial.

Por esse motivo, há algumas décadas, como gestor e empresário aposto nas 2 vertentes no concelho de Marvão.

Mas devo confessar que já estive mais optimista.

B. Comecemos pela actividade Turística
1. Marvão e os concelhos limítrofes têm potencialidades enormes – a Vila de Marvão, Castelo de Vide e o seu património judaico, Portalegre (com os seus conventos, palacetes, museus), tudo rodeado ou incluído no Parque Natural da Serra de São Mamede, o património megalítico, a cidade Romana de Ammaia, a nossa gastronomia, a proximidade com Espanha que a uma distância relativamente curta de Marvão tem vários locais reconhecidos como Património Mundial,…

Quando falamos em potencialidades Turísticas restringir as mesmas ao concelho de Marvão é limitativo e não conduz a muito.

2. Mas sem dúvida que tem de haver um projecto âncora sem o qual os Turistas são cada vez menos; e é este decréscimo que em minha opinião está a acontecer, de ano para ano, nos últimos anos.

A candidatura de Marvão a Património Mundial constituíu um projecto estruturante para toda a Região (não apenas para o concelho de Marvão).

Marvão teve durante anos uma visibilidade ímpar em termos de todo o Alentejo, fruto da candidatura e não só (por exemplo a passagem da Volta a Portugal em bicicleta por Marvão, pela mão do Dr. Mena Antunes foi também importante (o homem não financiou só acções sem interesse para o desenvolvimento do Concelho).

Mas a queda deste projecto e o facto de nada ter sido feito para o relançar ou para criar outra alternativa com capacidade para captar turistas nacionais e estrangeiros para esta região, aliados a que noutras zonas do Alentejo tal está a acontecer – No Alqueva e no litoral Alentejano, conduzem a que o destino Alentejo seja cada vez mais interessante, mas cada vez esta nossa parte do Alentejo menos potencialidades tenha para captar um elevado número de turistas.

O futuro parece passar pelo Alqueva, Litoral Alentejano e Évora, se para estas bandas nada de importante for feito.

3. Em minha opinião, em termos turísticos a falta de visão dos players da nossa região tem sido desastroso e no espaço de poucos anos só temos assistido a desastres a que as nossas populações e os nossos representantes pouca importância dão; queda da candidatura de Marvão a Património Mundial, fecho do campo de Golfe d’Ammaia, anterior queda do projecto global do Eng.º Melancia (Hotel, Golfe, Aparthotel ligado ao golfe, animação turística, …).

4. Para substituir a candidatura de Marvão a Património Mundial o actual executivo camarário tem apostado em vários pequenos projectos interessantes para a captação de clientes para a restauração local, com alcance que vai até Portalegre e a Valência de Alcântara, mas que não passam daí (pelo menos na minha opinião) e são ineficientes em termos de captação de turistas provenientes dos grandes centros habitacionais nacionais e do estrangeiro, imprescindíveis para viabilizarem as já muitas unidades hoteleiras e restantes infra-estruturas Turísticas no Concelho; os executivos camarários dos Concelhos limítrofes mais não fizeram; do trabalho de todos em equipa, que era onde mais se deveriam empenhar, também nada de estruturante apareceu; a Região de Turismo de São Mamede, por seu turno, perdeu protagonismo e verbas nos últimos anos e a machadada final foi dada com a extinção das Regiões de Turismo e criação de uma grande Região para todo o Alentejo, onde pelos motivos referidos antes a capacidade de afirmação das nossas potencialidades são ainda menores.


C. Vamos agora à vertente industrial

1. O concelho de Marvão e Santo António das Areias em particular, já empregaram algumas centenas de pessoas na área industrial.

Tal ocorreu antes do 25 de Abril de 1974, fruto da capacidade de um grande empresário do Seu tempo que foi o Sr. João Nunes Sequeira.

As regras do jogo após 1974 alteraram-se no entanto completamente.

Até lá haviam 2 normas que dificultavam imenso a actividade industrial e que poucos tiveram capacidade para ultrapassar – a Lei do condicionamento industrial (não era nada fácil constituir uma empresa em Portugal) e as fortes limitações à importação de produtos.

Tal conduzia a que o complicado naquela época era constituir uma empresa; uma vez constituída o fundamental era produzir, porque a colocação no mercado, face à inexistência de concorrência, estava garantida.

2. Após 74, a Lei do condicionamento industrial (uma das principais responsáveis pelo atraso da nossa economia face à Europa) foi extinta e a pouco e pouco as barreiras à importação foram desaparecendo, até que acabaram de vez com os acordos de pré-adesão de Portugal à C.E.E..

Emergiram então largas centenas de novas empresas fabricantes ou importadoras e a concorrência acentuou-se de forma progressiva.

A generalidade das PME’s que vinham de trás não estavam preparadas para esta evolução e faliram. Em Santo António das Areias tal aconteceu à Celtex e a Filhos de João Sequeira, Lda (actual Nunes Sequeira S.A.) resistiu devido à conjunção de vários factores e de várias pessoas (onde destaco o papel do Sr. Artur Serrano Sequeira), que de forma empenhada conseguiram ir procedendo à sucessiva renovação e modernização da empresa.

Ultrapassou-se a fase pós 74, a integração na Comunidade Europeia, a mais recente modernização do comércio alimentar com o aparecimento das grandes superfícies e tudo o que lhe esteve associado e estamos a viver o actual processo de concentração dos grandes operadores (só para referir o processo mais conhecido – o desaparecimento em Janeiro de 2008 do Carrefour em Portugal, comprado pela Modelo-Continente).

A tudo isto a Nunes Sequeira, S.A. foi resistindo e adaptando-se

Mas como é óbvio tal não foi e continua a não ser nada fácil, exigiu e continua a exigir mudanças enormes ao nível da modernização de equipamentos e instalações, processos e organização do trabalho, actuação comercial,…; e inevitavelmente ao nível dos Recursos Humanos.

3. Na actualidade a vida das PME’s que actuam nos sectores tradicionais da economia está muito dificultada; todos o sabemos pelas notícias – não precisamos de estar no negócio para conhecermos a realidade.

Em paralelo, criar novas empresas mesmo com apoios provenientes do QREN, PRODER,… é muito duvidoso.

Mais difícil ainda é manter ou constituir empresas no interior do País quando o consumo está no Litoral. Os custos de distribuição são actualmente elevadíssimos e tal é um dos motivos principais para que mesmo Portalegre muito poucas unidades industriais consiga manter ou cativar, apesar do parque industrial que tem e onde quase tudo o que lá está instalado são empresas de prestações de serviços ou de actividade comercial viradas para o mercado local.

Isto para concluir que não acredito em que haja condições para que o sector industrial nos dias de hoje possa constituir um forte factor de desenvolvimento de Marvão.

4. Tal não invalida que pequenos projectos aproveitando os produtos regionais, bem como oficinas diversas, não tenham futuro.

Penso que têm e que devem ser incentivados e acarinhados pela Câmara; e para tal o ninho de empresas e a pequena zona industrial são importantes e fundamentais.

É de facto inexplicável que executivo após executivo mais não façam do que promessas nestas matérias, tendo-se perdido várias oportunidades de estabelecimento de micro empresas no Concelho, ou então estando algumas instaladas em condições muito deficientes.

5. Em conclusão, fica aqui um balanço pouco estimulador do que em minha opinião ocorreu nos últimos anos em Marvão em termos de actividade económica e do que nos espera nos próximos anos.

O balanço que faço não se restringe ao nosso concelho – infelizmente é extensivo a todo o nosso Distrito, que nos últimos anos tem regredido em termos de actividade económica no seu todo.

Aos empresários compete-lhes assumir os riscos da sua actividade, ser inovadores para os conseguir ultrapassar e criar ou perspectivar as oportunidades que vão surgindo; mas é importante que sintamos visão e estimulo por parte dos dirigentes autárquicos e de outras estruturas regionais; e mais importante ainda seria que estes chamassem os empresários para os ajudarem a definir objectivos e estratégias de desenvolvimento económico, bem como aceitassem fazer parcerias com os mesmos.

Mas infelizmente raramente os dirigentes autárquicos e regionais aceitam sentar--se com os empresários, para discutir ideias de forma clara e aceitando as sugestões.

Normalmente, pela experiência que tenho, somos convidados para os ouvir discursar e explicar os projectos que engendraram, em reuniões onde participa um grupo vasto de ilustres munícipes (mas que de empreendedorismo não têm a mínima ideia), restando-nos a possibilidade de dizer “ámen” ou então cairmos fora do processo por não vermos que as nossas opiniões possam ter alguma receptividade.

José Boto

Bonito disse...

Obrigado, Dr. José Boto, pela sua disponibilidade em apresentar aqui uma reflexão tão profunda sobre a situação do nosso concelho.

É um diagnóstico importante porque é feito por alguém que conhece em pormenor a realidade empresarial do concelho, os seus pontos fracos e potencialidades, e se dedica há longos anos, a investir e arriscar nesta terra, criando riqueza e postos de trabalho.

Na sequência dessa reflexão gostaria de sublinhar duas coisas:

1 – A absoluta necessidade de existir um permanente diálogo entre o poder político e o tecido empresarial. Ao primeiro compete, na medida do possível, criar condições para que o segundo subsista e se desenvolva. E isso é absolutamente determinante para o concelho!

2 – O património paisagístico, gastronómico, cultural e histórico do nordeste alentejano (onde Marvão se destaca) poderia ser aproveitado para que os diversos concelhos, em parceria, tornassem esta região num destino turístico de eleição. Mas, a falta de visão estratégica e, sobretudo, a incapacidade em trabalhar em conjunto tem inviabilizado a concretização dessa estratégia.


Grande abraço
Bonito Dias