Neste Fórum tudo é importante, todos os post e todos os comentários. Porque tudo isso é que é o Fórum Marvão!
Por isso, um comentário ao post “Um concelho, duas apostas para o desenvolvimento…” que eu considero fundamental ficou já muito lá para trás. E, assim, muitos não o terão lido.
Não resisto, portanto, a apresentar esse comentário na “Primeira Página”!
Pedindo licença ao Dr. José Boto (autor do mesmo) cá vai…
“Deixo aqui algumas opiniões sobre o desenvolvimento económico do concelho e da Região.
A. Concordei durante muitos anos que os 2 eixos fundamentais para o desenvolvimento do concelho seriam o Turismo e a manutenção / desenvolvimento da actividade industrial.
Por esse motivo, há algumas décadas, como gestor e empresário aposto nas 2 vertentes no concelho de Marvão.
Mas devo confessar que já estive mais optimista.
B. Comecemos pela actividade Turística
1. Marvão e os concelhos limítrofes têm potencialidades enormes – a Vila de Marvão, Castelo de Vide e o seu património judaico, Portalegre (com os seus conventos, palacetes, museus), tudo rodeado ou incluído no Parque Natural da Serra de São Mamede, o património megalítico, a cidade Romana de Ammaia, a nossa gastronomia, a proximidade com Espanha que a uma distância relativamente curta de Marvão tem vários locais reconhecidos como Património Mundial,…
Quando falamos
2. Mas sem dúvida que tem de haver um projecto âncora sem o qual os Turistas são cada vez menos; e é este decréscimo que em minha opinião está a acontecer, de ano para ano, nos últimos anos.
A candidatura de Marvão a Património Mundial constituíu um projecto estruturante para toda a Região (não apenas para o concelho de Marvão).
Marvão teve durante anos uma visibilidade ímpar em termos de todo o Alentejo, fruto da candidatura e não só (por exemplo a passagem da Volta a Portugal em bicicleta por Marvão, pela mão do Dr. Mena Antunes foi também importante (o homem não financiou só acções sem interesse para o desenvolvimento do Concelho).
Mas a queda deste projecto e o facto de nada ter sido feito para o relançar ou para criar outra alternativa com capacidade para captar turistas nacionais e estrangeiros para esta região, aliados a que noutras zonas do Alentejo tal está a acontecer – No Alqueva e no litoral Alentejano, conduzem a que o destino Alentejo seja cada vez mais interessante, mas cada vez esta nossa parte do Alentejo menos potencialidades tenha para captar um elevado número de turistas.
O futuro parece passar pelo Alqueva, Litoral Alentejano e Évora, se para estas bandas nada de importante for feito.
3. Em minha opinião, em termos turísticos a falta de visão dos players da nossa região tem sido desastroso e no espaço de poucos anos só temos assistido a desastres a que as nossas populações e os nossos representantes pouca importância dão; queda da candidatura de Marvão a Património Mundial, fecho do campo de Golfe d’Ammaia, anterior queda do projecto global do Eng.º Melancia (Hotel, Golfe, Aparthotel ligado ao golfe, animação turística, …).
4. Para substituir a candidatura de Marvão a Património Mundial o actual executivo camarário tem apostado em vários pequenos projectos interessantes para a captação de clientes para a restauração local, com alcance que vai até Portalegre e a Valência de Alcântara, mas que não passam daí (pelo menos na minha opinião) e são ineficientes em termos de captação de turistas provenientes dos grandes centros habitacionais nacionais e do estrangeiro, imprescindíveis para viabilizarem as já muitas unidades hoteleiras e restantes infra-estruturas Turísticas no Concelho; os executivos camarários dos Concelhos limítrofes mais não fizeram; do trabalho de todos em equipa, que era onde mais se deveriam empenhar, também nada de estruturante apareceu; a Região de Turismo de São Mamede, por seu turno, perdeu protagonismo e verbas nos últimos anos e a machadada final foi dada com a extinção das Regiões de Turismo e criação de uma grande Região para todo o Alentejo, onde pelos motivos referidos antes a capacidade de afirmação das nossas potencialidades são ainda menores.
C. Vamos agora à vertente industrial
1. O concelho de Marvão e Santo António das Areias em particular, já empregaram algumas centenas de pessoas na área industrial.
Tal ocorreu antes do 25 de Abril de 1974, fruto da capacidade de um grande empresário do Seu tempo que foi o Sr. João Nunes Sequeira.
As regras do jogo após 1974 alteraram-se no entanto completamente.
Até lá haviam 2 normas que dificultavam imenso a actividade industrial e que poucos tiveram capacidade para ultrapassar – a Lei do condicionamento industrial (não era nada fácil constituir uma empresa em Portugal) e as fortes limitações à importação de produtos.
Tal conduzia a que o complicado naquela época era constituir uma empresa; uma vez constituída o fundamental era produzir, porque a colocação no mercado, face à inexistência de concorrência, estava garantida.
2. Após
Emergiram então largas centenas de novas empresas fabricantes ou importadoras e a concorrência acentuou-se de forma progressiva.
A generalidade das PME’s que vinham de trás não estavam preparadas para esta evolução e faliram.
Ultrapassou-se a fase pós
A tudo isto a Nunes Sequeira, S.A. foi resistindo e adaptando-se
Mas como é óbvio tal não foi e continua a não ser nada fácil, exigiu e continua a exigir mudanças enormes ao nível da modernização de equipamentos e instalações, processos e organização do trabalho, actuação comercial,…; e inevitavelmente ao nível dos Recursos Humanos.
3. Na actualidade a vida das PME’s que actuam nos sectores tradicionais da economia está muito dificultada; todos o sabemos pelas notícias – não precisamos de estar no negócio para conhecermos a realidade.
Em paralelo, criar novas empresas mesmo com apoios provenientes do QREN, PRODER,… é muito duvidoso.
Mais difícil ainda é manter ou constituir empresas no interior do País quando o consumo está no Litoral. Os custos de distribuição são actualmente elevadíssimos e tal é um dos motivos principais para que mesmo Portalegre muito poucas unidades industriais consiga manter ou cativar, apesar do parque industrial que tem e onde quase tudo o que lá está instalado são empresas de prestações de serviços ou de actividade comercial viradas para o mercado local.
Isto para concluir que não acredito em que haja condições para que o sector industrial nos dias de hoje possa constituir um forte factor de desenvolvimento de Marvão.
4. Tal não invalida que pequenos projectos aproveitando os produtos regionais, bem como oficinas diversas, não tenham futuro.
Penso que têm e que devem ser incentivados e acarinhados pela Câmara; e para tal o ninho de empresas e a pequena zona industrial são importantes e fundamentais.
É de facto inexplicável que executivo após executivo mais não façam do que promessas nestas matérias, tendo-se perdido várias oportunidades de estabelecimento de micro empresas no Concelho, ou então estando algumas instaladas em condições muito deficientes.
5. Em conclusão, fica aqui um balanço pouco estimulador do que em minha opinião ocorreu nos últimos anos em Marvão em termos de actividade económica e do que nos espera nos próximos anos.
O balanço que faço não se restringe ao nosso concelho – infelizmente é extensivo a todo o nosso Distrito, que nos últimos anos tem regredido em termos de actividade económica no seu todo.
Aos empresários compete-lhes assumir os riscos da sua actividade, ser inovadores para os conseguir ultrapassar e criar ou perspectivar as oportunidades que vão surgindo; mas é importante que sintamos visão e estimulo por parte dos dirigentes autárquicos e de outras estruturas regionais; e mais importante ainda seria que estes chamassem os empresários para os ajudarem a definir objectivos e estratégias de desenvolvimento económico, bem como aceitassem fazer parcerias com os mesmos.
Mas infelizmente raramente os dirigentes autárquicos e regionais aceitam sentar--se com os empresários, para discutir ideias de forma clara e aceitando as sugestões.
Normalmente, pela experiência que tenho, somos convidados para os ouvir discursar e explicar os projectos que engendraram, em reuniões onde participa um grupo vasto de ilustres munícipes (mas que de empreendedorismo não têm a mínima ideia), restando-nos a possibilidade de dizer “ámen” ou então cairmos fora do processo por não vermos que as nossas opiniões possam ter alguma receptividade.”
José Boto