No fim de semana passado, recebi em casa um amigo de longa data, natural do Porto e que trouxe outros amigos também. Ficaram fascinados com as belezas naturais ; com o património arquitectónico e construído; com o casario ainda caiado ou pintado de branco imaculado, do Norte Alentejano.
Por vezes somos tentados, ainda que motivados por interesses construtivos, a dizer mal da nossa terra, do nosso país ou até da nossa própria família, mas quando vem alguém de fora e tece conjecturas e adjectiva de forma negativa sobre aquilo que nos é mais querido, não raras vezes, ripostamos com igual veemência ainda que intimamente saibamos que esses juízos podem encerrar verdades indesmentíveis.
Relativamente ao exposto, o recíproco, também é verdadeiro : quando alguém reconhece os méritos das coisas ou das pessoas que mais estimamos, sentimo-nos confortados, pois sabemos, que regra geral, quem olha de fora para dentro, sem o lado emotivo a toldar-lhe os sentidos, vê com mais clareza. Vivi cinco anos em Portimão; sete no Porto e dois em Lisboa, mas sempre que podia, regressava a casa com a mesma ansiedade e nostalgia que sente um emigrante, exilado num país a milhares de quilómetros do seu torrão Natal . Vinha quase sempre de comboio e demorava quase um dia de viagem, apesar do “Ramal de Cáceres”, ainda estar na altura activo e para durar . Tinha sempre o meu pai à minha espera… até um certo dia, na estação da Beirã ( ou Beiram, como sugeriu brilhantemente o amigo Garraio ) .
Adoro a minha terra e consigo perdoar-lhe os defeitos, apesar de já ter tido oportunidades profissionais noutras paragens, que até me poderiam ter subtraído ao anonimato, mas tenho a certeza que não conseguiria viver o resto da vida noutro sitio qualquer : sinto necessidade do cheiro da giesta e do rosmaninho em flor; gosto de descansar no “colo dos penedos”; gosto do vento suão que nos agride a pele. Quem nasceu à beira mar, não consegue passar sem ele . Eu nasci nos Cabeçudos, rodeado de penedos graníticos agrestes, cujos espaços circundantes são polvilhados por giestas, rosmaninho e ancestrais sobreiros . Os cheiros deste tipo de flora, invadem-me os sentidos e são a minha brisa marítima .
3 comentários:
Boas, Hermínio
Texto profundo e que a todos "toca", com certeza.
Pudemos verificar que não fazes apenas "bonecos" com substância...
Grande Abraço
Bonito Dias
Boas pessoal do fórum,
Aplaudi com entusiasmo a ideia do fórum, mas tenho estado afastada, por motivos de muito trabalho, e mesmo falta tempo...coisas da vida…
...Tal como disse na altura do tal jantar no Pino: " temos de reunir os que cá vivem, os que se encontram deslocados...os que optaram por outros destinos...os que foram e voltaram"...e apetece-me acrescentar: os que estão mas vão partir, mais dia menos dia..."( incluo-me neste grupo...e noutros anteriores)…
A forma como sentimos esta nossa terra, como a vimos , a vemos e gostaríamos de ver deve ser partilhada, e daí ter opinado que considerava bastante oportuna a dita ideia…
Sem intelectualismos, elitismos e outras coisas mais...
Parabéns a todos os que operacionalizaram a intenção e a transformaram em realidade!
Quando puder aparecerei por cá...
Gostei muito do post do Hermínio...
Aprecio particularmente, essas opiniões do quanto ficam fascinados os que pela primeira vez vêm a Marvão…
Há dias conheci um casal do Norte de Portugal( Maia) que me perguntava pelo preço das casas em Marvão…ficaram apaixonados com o silêncio, com os horizontes e a cal das casas…Falei-lhe um pouco da minha experiência por outras paragens e do gosto que tenho também por outras terras…e eles recomendaram-me: “ não saia daqui…nós se pudéssemos comprávamos cá uma casa…”
Olhei cá para dentro de mim e pensei, quantas vezes eu já tinha pensado em viver para sempre nesta “minha” terra?
Sim ,vivi até aos dezanove anos nos Galegos, depois passei cinco anos em Tomar, três em Abrantes…e circunstancias da vida…voltei por mais cinco anos e parti novamente…
…um ano em Amarante ( distrito do Porto), outro em Vale de Cambra (distrito de Aveiro), seguiu-se outro ano em Portimão…e regressei há dois anos…convicta que vou partir… um dia destes…
Olho para a aldeia onde nasci…Galegos…e mal a reconheço…as crianças que tanto brincavam, as casas onde moravam famílias e agora desertas…muitas a cair…
e confesso:assusta!!…
Já não sinto que é aqui que se vive bem…
Apesar do cheiro do rosmaninho e das giestas , dos chilrear dos pássaros…
Faço diariamente cerca de 150 km para viver aqui, e quanto às perspectivas de poder trabalhar mais perto, não existem…há poucos alunos no ensino secundário!
Já não estou certa que este seja mesmo o melhor lugar para viver…
Há cerca de 15 dias dirigi-me com a minha filha que estava doente ao Centro Saúde de Castelo de Vide,eram perto de 16h, e quando pretendo fazer a inscrição para a minha filha ser consultada por um médico, perguntam-me: - Onde vive?
E eu repondi:
-em Galegos, Marvão.
E de seguida, diz a senhora, um bocado atabalhoada: -Tenho ordens do médico para não fazer nenhuma inscrição para doentes do Concelho de Marvão….: terá de ir às urgências a Portalegre - aconselhou a funcionária.
...
Eu com cara de parva só lhe perguntei: E quem é o médico??
…
Os encantos são enormes quando nos referimos a Marvão…mas não se vive só de embelezamento…
Preocupa-me sobretudo os “meus” que por cá vivem e viverão, e por isso mesmo, recordo um dia em que fiz 700Km para cumprir um dito dever cívico… acreditando que as condições de vida melhorem, que essas dicotomias entre litoral e interior se esbatam, e que não seja assim tão “difícil” viver aqui…
…As pessoas à distância também não esquecem da terra que os viu nascer… e que guardam sempre com orgulho em qualquer parte onde vivam… mas o que fazer para melhorar o futuro de Marvão??…
Desculpem, o desabafo já vai longo..
Não tinha lido este comentário da Luísa.
Eu que passo por aqui, meia dúzia de vezes por dia…, este tinha-me escapado.
Tenho muita pena que este “comentário”, não tenha sido apresentado como “Post”, porque penso ser um daqueles que apresenta muitos conteúdos concretos, e mais dia, menos dia, teremos que os trazer aqui.
Da saúde, à educação, ao despovoamento, etc., temos por aqui muito por onde pegar.
Em Marvão passam-se coisas que já não são normais acontecerem, nem acontecem nos seus arredores.
E que fazem os representantes dos munícipes (os executivos)?
A maior parte das vezes assobiam para o lado e dizem que isso não é com eles!
Mas não se esqueçam que foram eleitos como representantes das populações. E não é rodeados de grupos de “yes´menes” que estão sempre de acordo, que vão resolver alguns dos problemas das populações.
É preciso ouvir, discutir e decidir.
A época do “iluminismo” já passou…
jbuga
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