segunda-feira, 30 de agosto de 2010

REFLEXÕES DE FIM DE VERÃO


Há dias procurei aqui divulgar os “Virgem Suta”, através de 2 temas que me pareciam dos mais sonantes destes nossos “patrícios” de Beja: “As danças de balcão” e o “tomo conta desta tua casa”.

Logo aqui se levantaram argumentos, dizendo que… sim senhor, que eram bons temas, mas que um dos melhores, e, até o preferido de alguns visitantes, seria “a mula da agonia”.

Francamente, confesso que, ou por pouca atenção, ou por audição apressada, a coisa me havia passado desapercebida, mas logo fiquei com o bichinho em mente, e lá fui à sua procura, caindo-me rapidamente no goto.

A partir daí, foram audições contínuas e sucessivas, e chego a acordar a meio da noite, com o raio da melodia na cabeça, mas principalmente o poema, do qual já fiz pelo menos 3 possíveis interpretações.

- Primeiro, pareceu-me que era uma canção de revolta dos trabalhadores oprimidos por chefes déspotas, tipo “americanado”, que têm apenas em mente o alcançar de “objectivos” manhosos, sem qualquer respeito por aqueles que produzem, sem respeito pelas mais elementares regras de organização do trabalho, tipo século XIX;

- Depois, passou a parecer-me uma “música de intervenção”, incitando contra uma classe política dominante. E, aqui há dias, num jantar em que participava, cheguei mesmo a pensar dedicá-la a um certo “cavaleiro tortulhano”, com a finalidade de o incentivar a assumir o “chicote”.
Mas não o fiz, talvez ainda precisasse de amadurecer mais algum tempo nos meus ouvidos, ou quem sabe, talvez, precisasse de o dedicar a mim próprio!

- Por fim, alguém me sugeriu, que a dita poderia não passar de uma simples canção de “vida quotidiana” de relações domésticas mal resolvidas, estimulando os oprimidos a não se encolherem nas suas “cadeiras de escravatura dos tempos modernos”, e a lutarem pela LIBERDADE e IGUALDADE.

A verdade é que este tema poderá ser tudo isto, e muitas outras coisas…

Fica pois aqui, para vossa reflexão o poema e…, já agora a música.

Abre a boca de cansada
A mula da agonia
Chicoteia as costas magras
O homem da estrebaria

Não dá asas ao descanso
Com o chicote levantado
Estimula a ponta do nó
Aos gritos como um tarado

Dá-lhe um coice minha besta
Está na hora de mudar
Agarra tu no chicote
E começa a avançar

Não te encolhas na cadeira
À espera do que há-de vir
A cabeça desta mula
Pode algum dia servir

A mula assustada encolhe-se
E trabalha até doer
Sem coragem para lutar
Só lhe resta obedecer

Pobre bicho judiado
Por quem o pôs a render
Algum dia fica jeito
E apanha um coice a valer…


Um comentário:

Jorge Miranda disse...

Eu e o seu sobrinho , já lhe tinha-mos dito que essa era a melhor musica.
Sobretudo , porque nos lembra os tempos dos nossos avós e pais nalguns casos.
Nem todos nascemos em berço de ouro.
Um abraço
Jorge Miranda