Após o 23-OUT, já choveu, já fez sol, já nevou, já gelou. Digamos que já decorreu tempo suficiente para que a vida voltasse à pacata normalidade, depois de uma campanha eleitoral e um sufrágio inéditos pelo número de candidatos, mas, ao mesmo tempo, carentes de propostas que marcassem a diferença entre as próprias candidaturas, exceptuando talvez o MpM, que, curiosamente, não conseguiu representação em nenhum dos órgãos a que se candidatou.
Num concelho cada vez mais despovoado de pessoas e de ideias, a elaboração dos programas eleitorais consistiu seguramente em copiar os anteriores e acrescentar meia dúzia de pormenores de última hora, num despejar sem fim de pequenas coisitas, quase todas de gestão corrente, misturadas com os eternos chavões da habitação, educação, acção social e outras que tais.
Nada mais errado que tentar incutir nas pessoas a ideia de que possuímos a receita mágica para, em quatro anos, poder resolver todas as inúmeras carências que se foram acumulando ao longo dos tempos, aqui no nosso pequeno território ao lado de Valência de Alcântara plantado. Isso é impossível, e as pessoas sabem-no.
Neste contexto de ausência de ideais claramente divergentes, a escolha que o povo de Marvão y su campiña fez em Outubro passado, foi uma escolha pelas pessoas e pela continuidade daquele modus operandum que, durante o mandato anterior, soube satisfazer as expectativas da maioria da população.
Em termos concretos, a diferença mais marcante dos programas eleitorais do PS e do PSD centrou-se na localização da zona industrial do concelho. Os rosas defenderam a opção da fronteira, devido talvez às melhores acessibilidades e à recuperação que surgiria naquela zona degradada, verdadeiro espelho da incompetência e da cegueira dos nossos governantes lá do Terreiro do Paço.
Já os laranjas optaram por colocar a futura zona industrial em Santo António das Areias, o maior aglomerado do concelho, onde assentam as maiores tradições industriais cá do burgo. Duas opções substancialmente diferentes, ambas com nuances positivas e negativas, que poderiam, de facto, levar o cidadão a optar por uma ou outra força política. A fronteira implicaria uma maior mobilidade de pessoas, ao passo que o acesso a Santo António é mais sinuoso e complicado.
Eu cá sou dos que penso que o desenvolvimento de Santo António passa forçosamente por executar uma estrada em condições, direitinha a Valência de Alcântara e que escancare, de uma vez por todas, as portas destas duas localidades, separadas em linha recta por uma escassa dezena de quilómetros. As relações comerciais e industriais, agora inexistentes surgiriam fluentemente, em consequência da proximidade gerada e aí essa tal zona industrial iria certamente rebentar pelas costuras, e S. Marcos teria reunidas as condições de voltar a viver os momentos áureos de um passado não muito longínquo.
Mais ainda: essa via de comunicação constituiria o caminho mais perto para Espanha não só para as freguesias de Santo António e Beirã, mas também para a quase totalidade do Concelho, colocando Santo António das Areias muito mais no centro e tornando a localidade num ponto de passagem obrigatória para muita gente do lado de cá e do lado de lá do Sever.
Voltando aos programas eleitorais, os mais atentos recordarão sem necessidade de consultar, que alguns deles referiram essa obra, mas nenhum a considerou uma obra prioritária para o desenvolvimento do concelho. Eu acho que é. Questão de opções e de opiniões.