Hoje, que foi dia de tomada de posse dos novos Órgãos da Autarquia de Marvão, gostava de partilhar convosco uma questão sobre a qual há já algum tempo venho pensando.
Nesta tomada de posse será instalada a “nova” Câmara Municipal, sendo que da mesma fará parte Nunes Lopes, 2º eleito para o executivo (logo a seguir a Vítor Frutuoso), em representação do PS. Nuno Lopes será, digamos, o “líder” da oposição.
No desempenho deste papel que lhe foi destinado, espera-se de Nuno Lopes que defenda as políticas propostas pelo PS na campanha eleitoral, muitas delas em oposição às seguidas pelo então (como agora) presidente, Victor Frutuoso. Naturalmente, espera-se que defenda as melhores opções para Marvão e, certamente, muitas vezes até estará de acordo com o presidente. Mas espera-se, também, vigilância e exigência perante o trabalho desenvolvido por Vítor Frutuoso e as políticas seguidas pela maioria laranja. Exigência e vigilância estas que são importantes para um melhor desempenho de quem dirige e, portanto, importantíssimas para o concelho.
Enfim, espera-se um constante “combate” político entre o presidente da Câmara e o principal líder da oposição. Como, aliás, existiu vincadamente no período de campanha eleitoral.
No entanto, Nuno Lopes é engenheiro civil e desempenha essa função técnica na Câmara Municipal de Marvão. E tem como superior hierárquico máximo o presidente da Câmara, Vítor Frutuoso.
Neste papel, espera-se de Nuno Lopes que seja profissional e ponha as suas competências ao serviço da Câmara (sua entidade patronal). Que trabalhe nos projectos escolhidos pelo executivo de maioria PSD. Que trabalhe nos projectos escolhidos pelo presidente, Vítor Frutuoso.
Por muito profissional e vertical que seja, Nuno Lopes (como qualquer outra pessoa) terá uma vivência que envolverá, na minha opinião, “incompatibilidades” nos papéis a desempenhar.
Por um lado, exigir-lhe-ão que seja o líder da oposição, batalhando pelas escolhas do seu partido (e suas), as quais muitas vezes entrarão em “rota de colisão” com as de aquele que foi (e é) o seu adversário político: Vítor Frutuoso; exigir-lhe-ão que “fiscalize” esse adversário e, até, que o combata politicamente.
Por outro lado, exigir-lhe-ão que esteja ao serviço da estratégia do presidente da Câmara (e do partido deste), trabalhando profissionalmente nos projectos que lhe apresentem. Que esteja, portanto, às ordens de Vítor Frutuoso.
Isto é, Nuno Lopes terá obrigação de obedecer àquele que deverá “combater”. É paradoxal!
Defenderão alguns que o profissionalismo e a verticalidade de Nuno Lopes ultrapassarão esta situação. Não ponho isso em causa. Contudo, julgo que neste cenário estão reunidas as condições para se poder falar em incompatibilidade de papéis…
A responsabilidade deste “imbróglio” que não aproveita a ninguém (e que provavelmente se repete em muitas autarquias dos país) é, claramente, da lei que permite a candidatura ao executivo da Câmara daqueles que são seus empregados.
(Nota: Curiosamente, em Marvão, acontecia exactamente o mesmo se o PS tivesse ganho as eleições e Vítor Frutuoso fosse, agora, oposição!)
Bonito Dias
(bonitodias@gmail.com)
2 comentários:
Pois nem mais; isto ando eu a apregoar no deserto.
São as leis estúpidas deste País, que quando não estão bem continuam mal, mas quando estão mal assim ficam.
Uns senhores lá do litoral quiseram e alterou-se a lei, e assim fica este aut~entico disparate.
Chamo até o paradoxo de um engemheiro (podia ser aqui), estar sentado numa reunião de Cãmara no papel de engenheiro a defender um projecto e depois mudar para a cadeira do vereador para se opôr ao mesmo projecto.
Começou em castelo de Vide (é, que me lembre, o primeiro exemplo) de um funcionário passar a mandar na sua heirarquia, mas se ou quando perder as esleições passa a responder na cadeia hierárquica àqueles que chefiou.
Democracia, dir-me-ão alguns.
Fantochada, responderei eu.
Pois não é assim, amigo Bonito, o agora e então Presidente, salvaguardou na devida altura essas equidistâncias, ao se auto-promover.
Apesar da aparência.......
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