sábado, 11 de julho de 2009

Um exemplo político

Fez ontem 5 anos que faleceu a primeira e, até agora, única primeira-ministra de Portugal: Maria de Lourdes Pintasilgo.
Numa altura em que muito se discute, inclusive aqui, de política e do que os candidatos e candidatas têm a oferecer ao nosso concelho, pareceu-me bem colocar aqui algumas palavras.

Esta data de ontem fez-me, assim, colocar aqui algumas considerações sobre esta senhora e sobre, afinal, aquilo que se espera dos e das futuros governantes este ano de eleições.

Não vou expor aqui a vida de Maria de Lourdes Pintasilgo. Dos que lerem estas palavras, uns lembrar-se-ão de quem ela foi e do que fez e aqueles que não se lembrarem ou fossem muito novos (como eu era) pesquisem e ficarão a saber o seu percurso que orgulhou Portugal, pois foi um percurso não apenas nacional, mas também internacional, de orgulhosa representação de Portugal.

O que me faz escrever aqui sobre ela é aquilo que ela defendia e onde ela se foi basear. As suas influências, assumiu ela por diversas vezes, eram as da Filosofia, as de algumas das correntes filosóficas mais importantes e pertinentes da contemporaneidade: a ética do cuidado e a ética da responsabilidade (que ainda hoje têm imensa pertinência). Defendia ela que um novo paradigma se impõe no nosso tempo, este tempo que é a era da técnica: o paradigma de cuidar o futuro. Dizia ela que do paradigma do desenvolvimento (sinónimo de progresso tecnológico) teremos de passar, agora, para o paradigma da qualidade de vida. Isto porque esse desenvolvimento e progresso tecnológico conduziu-nos para a constatação de que somos frágeis e não dominadores e poderosos como a era da técnica nos fez pensar (o domínio do humano sobre a natureza). Para isto contribuiu algo que hoje ainda se discute internacionalmente: a incapacidade infinita de regeneração da natureza, da qual o problema do aquecimento global é apenas um dos exemplos. Problemas que nos afectarão pois somos, também nós, natureza.

Defendia ela, então, que cada um de nós não existe sem os outros (uma alteridade necessária) e que se compete a todos cuidar dos seus semelhantes e da natureza, esse imperativo acentua-se ainda mais nos governantes. Porque o futuro deixou de ser encarado como previsível (já que o ser humano não o pode controlar como ainda chegou a pensar) o futuro é o âmbito temporal que deve aliar-se a este cuidar. O imperativo é, então, cuidar o futuro, sabendo que esse cuidar o futuro é cuidar dos outros (seres humanos, animais e natureza) e cuidar para viver com qualidade de vida no futuro, isto é, garantir às gerações vindouras uma vida com qualidade (meios básicos de sobrevivência, educação, saúde, etc).

O que quero aqui deixar é a marca de uma mulher extraordinária que aliou um pensamento teórico-filosófico (ético) a uma prática efectiva (política). O que julgo ser importante é que este seu legado seja tomado em conta pelos aspirantes a governantes; que estes compreendam a importância de que uma prática só poderá ser fundamentada num pensamento teórico prévio. Procurem, dentro de si e no seio dos vossos grupos, aquilo que defendem teoricamente e depois coloquem essas ideias base para a prática efectiva do “cuidar” dos outros, de todos aqueles que terão a cargo. Exponham as vossas ideias, queiram ser sempre melhores, fundamentem o porquê das vossas candidaturas.

São os exemplos passados que nos podem orientar no futuro.

4 comentários:

Unknown disse...

"aquecimento global"

Alguns alarmistas já preferem a expressão "Alterações climáticas".

Bonito disse...

O último parágrafo deste post é muito pertinente! Concordo, aliás, plenamente com o mesmo.

E se é certo que, desta vez, em Marvão a fundamentação das candidaturas se iniciou mais cedo do que o habitual, certamente atendendo à sua maior variedade, também é certo que há ainda muito para fundamentar.

Esperemos que o tempo que medeia até 11 de Outubro seja gasto nesse desiderato. Lamentavelmente, julgo que isso não acontecerá…

A maioria do “público alvo” tal não exige, nem valoriza! Pensarão as várias candidaturas!

Será?

Tiago Pereira disse...

Relativamente ao porquê dos acontecimentos locais a minha opinião está registada em:
http://www.movimentopormarvao.com/PT/index.php?option=com_content&task=view&id=18&Itemid=35

Sobre Maria de Lourdes Pintasilgo gostava de dar o meu modesto contributo:

É uma pena que esta mulher nunca tenha chegado a Presidente da República, teríamos ganho e "evoluído" imenso com isso. A minha idade não me permite ter lembranças de Maria de Lourdes Pintasilgo mas tudo o que tenho lido e ouvido levam-me a tê-la como uma referência na classe política do pós-25 de Abril. A sua militância nos movimentos ligados à Igreja é reveladora da génese das suas acções ao longo da vida, e talvez se encontre aqui a chave da explicação da importância que deu à justiça social como forma de aprimoramento da democracia. Qualidades raras aos dias de hoje. Pela sua personalidade e intervenção tinha as características necessárias para congregar toda a esquerda numa eleição presidencial, assim não aconteceu. Será que o poeta alegre conseguirá esse feito em 2011? Estaremos cá para ver.

Saudações Marvanenses,
Tiago Pereira

Marilia Rosado Carrilho disse...

Agradeço os vossos comentários. Caro Bonito, é isso q dizes q julgo ser fundamental: as pessoas querem consistência, querem atenção EFECTIVA e não ilusória (q dura só durante a campanha eleitoral)... as pessoas precisam do cuidado.
Caro Tiago, as tuas palavras são mt pertinentes e analisam bem a força e sensibilidade desta mulher.