terça-feira, 2 de junho de 2009

INFORMAÇÃO FÓRUM

Do Blog “portalegrecidadedoaltoalentejo”, retirámos a seguinte “Carta Aberta” aos políticos locais e nacionais da autoria de Artur Romão.

Por acharmos que o seu conteúdo também tem a ver com os marvanenses, aqui deixamos a sua reprodução.

«Carta aberta a todos os políticos e responsáveis»


MAIS UMA TREMENDA ASNEIRA


O crescimento e o desenvolvimento das cidades ocorrem mediante a presença de factores naturais ou induzidos para a fixação das populações. Entre estes destaca-se existência de vias de comunicação. O papel que outrora foi desempenhado pelo mar e pelos rios, ou pelas vias romanas ou de mercadores, foi mais tarde assumido pelas vias-férreas, e na actualidade compete às auto-estradas.Portalegre está longe do mar e dos rios. Ficou a ver passar os comboios à distância de 12 km, resultando claramente prejudicada nas suas hipóteses de desenvolvimento quando foi instalada a via-férrea em meados do século XIX.E agora, na era das auto-estradas, prepara-se candidamente para viver uma espécie de dejá vu.

Em Portalegre presenciámos a falta de estímulos e condições para a instalação de empresas, e em particular indústrias, em quase toda a segunda metade do século passado, a carência de efectivas alternativas de habitação no último quartel do século XX, a continuada ausência de apoio efectivo à consolidação do ensino superior, a debandada de serviços públicos. Fruto de diversas influências, conivências, interesses, omissões e incapacidades, em alguns casos bem identificadas.

Enquanto isso, outras cidades iam fazendo pela vida. Naturalmente, dir-se-á.Os “nossos” políticos locais e regionais, infelizmente, gozarão das mais baixas taxas de notoriedade de todo o país. Desde o 25 de Abril a naturalidade dos 1º Ministros e Presidentes da República repartiu-se maioritariamente por Lisboa, Algarve e Beira-Baixa. Em 35 anos de “democracia”não me recordo de nenhum ministro natural, ou com ascendência neste distrito.

Causa ou consequência do desenvolvimento local?

De tudo isto, resultou que populacionalmente passamos a ser o menor distrito, e a menor das capitais de distrito, com cada vez menos significância. Brevemente seremos a única capital de distrito que não terá uma ligação directa por auto-estrada ao litoral. Ou mesmo, efectivamente, sem qualquer ligação por auto-estrada a sítio nenhum

Tudo isto vem a propósito e na sequência da observação que realizei ao estudo sobre a ligação da A23 (auto-estrada da Beira-interior) à A6 (auto-estrada de Lisboa-Évora-Elvas), em troço supostamente integrado no IP2 (teoricamente, o segundo principal itinerário do país que ligaria todas as capitais dos distritos do interior raiano: Bragança, Guarda, Castelo Branco, Portalegre, Évora e Beja), disponível para consulta pública na internet no endereço: “http://aiacirca.apambiente.pt:8980/Public/irc/aia/aiapublico/libraryl=/aia2046_portalegre&vm=detailed&sb=Title”

O referido estudo, que terá sido pago pelos contribuintes, ignora olimpicamente o enquadramento da via que ora se propõe, as populações e o tráfego que irá servir.Ao se ignorar o objectivo de ligar as principais (?) cidades do interior, e ao se considerar simplistamente, para não dizer simploriamente, que o que importa é ligar a A23 à A6, então qualquer faixa a partir do eixo Torres Novas – Vendas Novas seria admissível. Este pressuposto, a priori ridículo, atendendo a algumas das alternativas apresentadas no estudo, não terá sido rejeitado.

OS MAUS EXEMPLOS
Retomam-se aqui anteriores exemplos de lamentáveis opções, dificilmente explicáveis, se ponderadas de acordo com lógicas de desenvolvimento económico ou sustentabilidade ambiental.E não valerá a pena retomarmos o infeliz exemplo das ferrovias.

Convido o leitor a pegar num mapa da península e traçar uma linha recta (em regra, aquela que no plano proporcionará à menor distância entre dois pontos) entre as capitais dos países ibéricos. Surpreender-se-á ao observar que Portalegre fica praticamente em cima dessa mesma linha. Mas a auto-estrada de ligação entre Lisboa e Madrid foi “desviada” para sul. Admitindo que a ligação seria Lisboa – Badajoz, a A6 foi “torneada” para passar junto a Évora. Beneficiou-se assim exclusivamente essa cidade, prejudicando todos os restantes alentejanos em particular, e portugueses e espanhóis em geral.


Idêntico e, a todos os títulos, deplorável exemplo ocorreu com o recentemente inaugurado troço do IC13. Transformou-se aquela que seria potencialmente uma via de ligação directa de cerca de 20 km entre Portalegre e Alter, sem grandes necessidades de expropriações e obras de arte, num disparate de mais de 30 km, pleno de dispendiosos trabalhos de engenharia. Por cedência, saber-se-á lá por quê, presumo que ao orgulho do município do Crato, outorgou-se uma obra que terá custado mais do dobro que a melhor alternativa, e que melhor e mais economicamente serviria a população de todo o restante distrito, o país e Espanha. Ganharam apenas os cratenses e as empresas de construção civil. Perderam, e muito, todos os contribuintes e restantes potenciais utilizadores da via.


O “ESTUDO” DE IMPACTE AMBIENTAL

Como é possível admitir-se um denominado estudo de impacte ambiental em que nas diferentes alternativas não são correctamente consideradas as distância efectivamente percorridas pelos utilizadores, com as inerentes implicações em termos de consumos energéticos e de emissões poluentes? Em que o interesse das populações que se pretende servir ou pretensamente beneficiar não são minimamente consideradas?

Volte-se a pegar no mapa e a traçar uma ligação entre Portalegre e Castelo Branco, ou entre esta cidade e Estremoz. Sem significativos distintos acidentes naturais, sem zonas de protecção ambiental de relevo, o traçado mais rectilíneo, logo menos impactante, mais barato, mais rápido, que melhor servirá as populações do distrito e do país é fácil de definir.

(O TRAÇADO IDEAL)

Saindo perto do nó de Benquerenças, a sul de Castelo Branco, passará junto à confluência do Tejo com o Sever, nas imediações da fronteira de Cedillo, correrá cerca a Montalvão e a Póvoa e Meadas, passará nas imediações de Portalegre (desejavelmente a leste dos Fortios e a poente da Serra da Penha), e correndo depois paralelamente a oeste do actual IP2 até Estremoz.
Ao contrário, as alternativas propostas no referido “estudo” retomam os erros do passado.
Numa delas chega-se a admitir que o traçado se sobreponha ao actual IP2, suprimindo-o, perdendo-se de modo totalmente inaceitável a alternativa de uma via definitivamente sem portagem, com evidente prejuízo para a região, e com claro benefício apenas para a futura concessionária. O impacte ambiental sobre as populações menos favorecidas economicamente não é aqui certamente medido. Argumentar-se-á que também a nova auto-estrada poderá não ter portagem. Mas essa é uma garantia que, a longo prazo, ninguém que seja minimamente sério poderá assumir.
Noutra alternativa, a nova via “corre” à distância de longos 12 km da cidade (os mesmos a que fica a “nossa” estação de caminho-de-ferro) com uma única ligação perpendicular, pelo IC13, a Portalegre. Neste caso, a distância a Estremoz passaria dos actuais 55 km para quase 70 km. E dizer-se que esta auto-estrada seria de, ou que serviria, Portalegre não passaria de mais uma anedota de alentejanos.
Só por ignorância ou inépcia, dado que não se admite que seja para fazer jeito a alguém, propõe o estudo como “melhor” alternativa a actual ligação pela Barragem do Fratel, surgindo a possibilidade da ligação por Belver, e chega-se ao despautério de se propor que a ligação ao norte se faça junto ao Gavião, por curiosidade, concelho de origem dos actuais responsáveis do Governo Civil e da Associação de Municípios do distrito.
Ou seja, para a ligação entre Portalegre e Castelo Branco, não se considera uma ligação directa, como a que acima indiquei, que rondaria os 60 km de distância, propondo-se outras que oscilam entre os 100 e os 120 km de extensão.
Comparativamente, e ajustando à escala, seria o mesmo que propor que uma ligação “directa” Lisboa – Porto passasse, na melhor das hipóteses, pela Covilhã, ou chegasse mesmo a cruzar a fronteira espanhola. Este evidente disparate, é algo muito idêntico ao que nos está a ser proposto. Beneficiando já se vê quem: empresas construtoras, alguns gavionenses e pouco mais. Prejudicados são os do costume: todos os contribuintes, os nacionais e estrangeiros, todos os que carecem de utilizar esta via, turistas, empresas e populações desde o Algarve a Trás-os-Montes, e, já se vê, o uma vez mais, e presumo que definitivamente, o desenvolvimento da nossa cidade e do nosso distrito.
Senhores políticos e responsáveis: a bem do distrito, da cidade e dos portalegrenses, aguardo a vossa resposta e anseio pelo sucesso da vossa acção.
Artur Romão

5 comentários:

Bonito disse...

A questão é sempre a mesma: cada um puxa a brasa à sua pequena sardinha e, por isso, a sardinhada sai uma perfeita desgraça! Enfim… uma valente “caldeirada”!

Esta mentalidade mesquinha que não permite verdadeiras parcerias tem contribuído, de uma forma determinante, para a crescente agonia da nossa, cada vez mais, pobre região.


Um abraço ao prof. Romão
Bonito Dias

Garraio disse...

Este é, na modesta opinião deste calhau com óculos que sou eu, o assunto mais importante para o desenvolvimento do distrito de Portalegre.

Tudo está mal planeado, o que provavelmente constitua a machadada final na cabeça desta zona, já moribunda.

Concordo com o disse o Sr. Romão, mas não na totalidade. Discordo no hipotético itinerário por ele proposto.

Uma vez mais, não nos podemos esquecer de uma coisa que é preponderante para nós: Espanha.

Vou recuar mais ou menos sete ou oito anos no tempo:

Entre umas tacadas de golfe, ao lado das árvores fechadas, tive uma conversa com um amigo, que na altura estava directamente ligado ao nosso governo. E, em segredo, soube que existia uma intenção ou projecto da ligação da A23 à A6 (passando por Portalegre) que não passaria muito longe de Nisa, entre Alpalhão e Castelo de Vide, ao lado de Portalegre, direcção Arronches, Campo Maior, Espanha.

Esta é ligação a executar, já que o IP2 é mais que suficiente para a ligação a Estremoz. Se a auto-estrada passar por Campo Maior fica resolvido um problema premente de tráfego pesado que hoje se faz por estradas terceiro-mundistas, e creio que é evidente que os camionistas Tir não de dirigem a Estremoz, mas sim a Espanha e a essa Europa fora.

Ao mesmo tempo, e por intermédio do meu grande amigo Javier Lopez Iniesta, ex-alcaide de Valencia de Alcántara e na altura consejero de Desenvolvimento Rural da Junta de Extremadura( um cargo que equivale a ministro na Extremadura espanhola) soube que a intenção de Espanha era ligar a auto-estrada de Cáceres até perto da estação de comboio de Valencia de Alcantara, cruzar depois para a linha de fronteira, de modo a que a ligação do lado de Portugal viesse a passar relativamente perto de Santo António das Areias, Beirã ligando depois à anteriormente referida, algures entre Alpalhão e Nisa.

Este é o itinerário melhor, acho eu.

Não rasga o Parque Natural ao meio, sobretudo na sua zona mais sensível,(Fronteira-Portagem-Portalegre), ajudaria substancialmene o desenvolvimento da zonas industriais por excelência dos Municípios de Marvão, Castelo de Vide e Nisa, e poderia servir de alavanca para o ressurgimento de alguns potenciais investimentos turísticos de grande envergadura, por exemplo a reabilitação das termas da Fadagosa, na Beirã.

Mas, todos sabemos que depois desta data muitos idiotas passaram e estão no nosso governo, sendo bastante provável que algo que era lógico, fosse colocado de parte, a favor de interesses sabe-se lá de quem.

José Boto disse...

Penso que o estudo e a exposição do Prof. Artur Romão, que já conhecia, está excelente e na minha opinião a ligação que ele defende é a correcta e a que melhor defenderia os interesses da nossa Região, sendo inexplicável aquela a que ele se refere como “mais uma tremenda asneira”, fruto de interesses de alguns municípios em detrimento do conjunto.

Uma ligação rápida por auto-estrada de Portalegre (e consequentemente próxima de Marvão) ao Litoral, ao novo aeroporto e mesmo a outras zonas do interior é para nós fundamental.

O traçado que por exemplo o Garraio refere e também já ví defender por outros não é em minha opinião a alternativa ideal para a ligação da A23 à A6.

Seria uma ligação com muito interesse – ligar Portalegre a Campo Maior e Espanha por Auto-Estrada; mas duvido que alguma vez tal se concretize, pois cada vez mais só há dinheiro para as megalomanias do Litoral e de vez em quando lá vêm umas migalhas para o extenso interior. Convém que se aproveitem bem.

Por outro lado a ligação de Portalegre a Estremoz pela IP2 é extremamente perigosa, devido aos inúmeros cruzamentos com estradas secundárias, tendo sido palco de numerosos acidentes graves, pelo que ao contrário do que o Garraio refere não me parece que seja “suficiente” e não faz sentido para ir de Portalegre a Lisboa, ou a Setúbal, ou ao novo aeroporto, etc., termos de ir até Campo Maior primeiro.

José Boto.

Garraio disse...

Para ir a Lisboa vamos pela A23, para ir ao aeroporto ou a Setúbal, desviamos em Almeirim pela A13.

Se tivermos uma ligação Portalegre - Fratel à A23, deixamos de utilizar a auto-estrada A6. Penso eu.

Cumprimentos.

José Boto disse...

Garraio, vou a Lisboa normalmente 2 vezes por semana por motivos profissionais devido à enorme chatice das centrais dos clientes estarem todas lá localizadas.

Como vou com reuniões marcadas com início às 9h ou 9h30m da manhã, evito a A23, ou mais concretamente a entrada em Lisboa pela A1.

É que se o fizer tenho de contar com 1 hora a mais em filas e muito frequentemente nem tal margem é suficiente, devido a acidentes, o que me motivaria atrasos a que não me posso dar ao luxo.

Ou seja, vou apanhar a A6 a Estremoz e desvio depois (já na A2) para a Vasco da Gama, estando em Lisboa nas calmas em 2h30m, quase sempre sem problemas.

No regresso, já opto frequentemente pela A1 e A23.

Por outro lado, a ligação Castelo Branco / Portalegre / Estremoz, permite um troço de Auto-Estrada entre Évora e Guarda e daí para Viseu / Vila Real / …, fundamental para a interligação e desenvolvimento das várias Regiões do Interior.

No referente às ligações a Espanha e uma vez feita a ligação Portalegre a Castelo Branco, conseguimos ir de Auto-Estrada desde Portalegre até à Galiza ou até Salamanca e daí para outras cidades/regiões de Espanha.

As falhas permanecem na ligação de Portalegre aos Galegos e Portalegre a Campo Maior; ou mais concretamente nos troço Portalegre/Portagem e Arronches/Retiro (já me contento com ligações como as da Portagem à fronteira dos Galegos ou de Portalegre a Arronches).

Cumprimentos,

José Boto.