quinta-feira, 31 de julho de 2008

SERVIÇO CÍVICO...


Inicia-se amanhã em todo o distrito de Portalegre, na ULSNA - Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano (maior empregadora do distrito), uma medida, que parecendo não ser importante directamente para os Utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS), visa, em minha opinião, contribuir para a democratização, equidade e igualdade entre os diversos grupos profissionais de saúde, e, se for eficaz, poderá ter um impacto positivo na prestação de cuidados de saúde aos cidadãos.

Estou a referir-me ao Sistema de Controlo e Gestão de Assiduidade, através de Sistema Biométrico. Este Sistema baseia-se na colocação de um dos dedos da mão por parte dos profissionais, num Aparelho de Controlo, quer quando do início da jornada de trabalho, quer no seu termo.

Este sistema tem a finalidade, para além do controlo da assiduidade (dever de cumprimento do horário aprovado), fazer ainda o controlo da pontualidade (dever de comparecer no local de trabalho à hora determinada). Estes são deveres de todos os funcionários públicos, mas na saúde, e por questões de “classe”, estes deveres são pouco cumpridos, na maioria das vezes, com claro prejuízo para os cidadãos que são os “pagantes” do SNS.

Existem no SNS, maioritariamente, dois tipos de Horários: os Completos (35 Horas/semana) e os Acrescidos (42 Horas/semana).
Estes horários são para todos os profissionais sem excepção, nomeadamente, os médicos que se refugiam, frequentemente, numas célebres 4 horas/semana denominadas “não assistenciais”, que lhes confere a sua Carreira e que aproveitam para, nessas horas, não estarem no seu local de trabalho. Ora isso, não passa de uma “falsa interpretação”, já que essas horas destinadas ao “estudo de processos e gestão dos ficheiros dos utentes”, devem ser realizadas no local de trabalho e não em casa ou em consultórios privados.

Um dos objectivos do Sistema agora implantado é, a partir do presente, fazer o controlo dos horários, ao nível da Administração da Unidade, sem contar com a cobertura das Direcções Locais, muitas vezes cúmplices corporativas, com alguns incumprimentos abusivos.

No entanto, este Sistema não resultará, se ao nível dos Utentes do SNS, não existir sensibilização e conhecimento dos horários e funções a que estão obrigados os profissionais da saúde, que recebem dos seus impostos, para se tornem eles exigentes em relação aos seus direitos de cidadãos contribuintes.

É fundamental que se crie uma Cultura de exigência. E é neste princípio que se baseia o Sistema que agora irá entrar em vigor.

Falta acrescentar que um Centro de Saúde que tenha um Horário aprovado de 35 Horas/semana, os profissionais que aí trabalhem têm o dever de estar presentes sempre que esse local esteja em Horário de Abertura … Claro que, à excepção, de aquando no gozo de direitos salvaguardados pela lei, devidamente autorizados pelas administrações.

Espera-se ainda, que tal como o Sol, que este Sistema seja para todos, senão o “Sistema”, mais uma vez estará em causa…

TA: Como diria o Zé Afonso, “… o que é preciso é avisar a malta!”

3 comentários:

victor disse...

Caro amigo:
O Sistema de Controlo e Gestão de Assiduidade já deveria ter sido implementado há anos ,e não agora, mas te informo que o controlo burocrático da assiduidade, electrónico ou por outros meios, é apenas um dos instrumentos de gestão e não seguramente o mais importante nas organizações modernas, e colocando o acento tónico no estrito cumprimento dos horários como forma de aumentar a produtividade, o sistema procura demitir-se de promover mecanismos de regulação interna centrada na qualidade do atendimento e na falta da criação de incentivos que discriminem positivamente os profissionais mais empenhados
A grande ineficiência do trabalho médico decorre em grande parte da má organização do trabalho médico, a qual ou resulta de imperativos legais ou de medidas impostas ou impedidas pela tutela. Sucede assim que talvez a maior quota parte da responsabilidade do elevado desperdício de recursos médicos neste país se deve não aos médicos eles próprios nem às administrações mas sim à inércia, à incompetência e a falta de investimento em unidades de saúde , postos médicos ou Centros de Saúde .
O Sistema de controlo e Gestão de Assiduidade através de Sistema Biometrico, vulgarmente conhecido como “pontómetro” , esta situado na Sede do Centro de Saúde de Marvão , ao qual devem dirigir-se os profissionais para “meter o dedo” a tempo e horas.
No meu caso(que ainda nunca cheguei pontual ,sempre entro ao serviço 1 hora antes) ,este novo sistema vai a estragar o meu trabalho todo , assim se até agora estava ao serviço as oito da manhã cada dia ,e eram atendidos todos os utentes que chegavam aos diferentes postos médicos , agora com a subida ao Marvão tenho por exemplo as terças-feiras o seguinte horário: 9:00 “meto o dedo no pontometro” , 9:15 chegada a Galegos, 10:30 saida para Escusa , 10:45 chegada a Escusa , 12:00 partida para Marvão, já que a 12:30 horas temos que “meter o dedo “ , o motorista não espera e ainda pode haver “bicha” , e por tanto temos um tempo efectivo de trabalho por semana de uma hora e um quarto nos Galegos e o mesmo tempo na Escusa, e todo isto no carro do serviço, que nos intervalos das minhas consultas deve distribuir o pessoal pelas outras extensões ( com o preço que tem o gasóleo !! ) , Sto António, Alvarrões, Porto Espada , Beira e São Salvador .( ao fim do mês o carro há de ter mais kilómetros que o autocarro da Câmara) , e ainda , quando o motorista estiver de ferias, quem vai conduzir? , quem vai atestar o carro ? quem vai a ser o primeiro em estar nas diferentes extensões ? eu quero, porque se não estiver cedo , não poderei atender a todos , começarei a negar consultas , entrarei em depressão ou stress e em vez de meter o dedo no pontometro terei que mete-lo a alguem por donde amargam os pepinos.
Mas claro que o pontometro é bom , para os grandes Centros de Saúde , sem extensões , donde até agora , cada um chega a hora que quiser e as vezes nem chegam , donde as vezes chegam , passam quatro receitas e tem o horário cumprido,e sobre tudo , nos centros de saúde donde há médios para trabalhar , porque deveriam por o pontometro em todas as extensões , mas antes deveriam aumentar a potencia da electricidade, instalar telefone e já não digamos um computador.
Claro João que tenho 4 horas não assistenciais , e que as vezes não estou no local de trabalho( eu faço quatro extensões) , mas também não tenho hora do almoço , e ainda não deixei nunca um trabalho , uma receita para o dia seguinte , e se alguma vez deixei de atender algum utente , seria porque todos temos as nossas limitações e sabes que há médicos que atendem oito utentes por período?,quando eu atendo uma media de 20 , porque sabemos que os mesmos, coitados(?), a partir dos 50 anos já têm limitações. Já não podem fazer bancos, etc.. e faltando ao horario podem trabalhar muitas horas nas clínicas particulares e podem até ter consultórios em vários locais e pontos do país( as vezes mesmo enfrente do posto médico) , e claro, o cansaço não pode deixar de ser muito! e eu ,coitado de mim que parece que estou a justificar-me , ando perdido no Concelho para procurar o melhor atendimento aos nossos utentes,para fazer consultar a utentes fora de horas e estes poder ir ainda ao emprego e não perder o dia , para ter 15 dias de folga e não as poder gozar , mas procurarei continuar a “vir a terreiro” , e dar o meu contributo, fruto da minha experiência profissional , e ainda como titular de direitos e deveres de cidadania e como alguém que procura estar atento à vida real das pessoas, atento as suas deficiências e tentando melhorar dentro do possível , e claro João , devemos exigir aos nossos utentes que se tornem exigentes em relação aos seus direitos , mas ao mesmo tempo , não devemos passar para a opinião pública a mensagem de que, com esta medida, vai a melhorar o funcionamento dos serviços e aumentar a sua capacidade produtiva. A Administração há encontrado o pretexto e a justificação, para responsabilizar terceiros pelos maus resultados da sua gestão e pela incapacidade de reestruturação dos Serviços Públicos de Saúde .

E ainda ,honra seja feita porém aos médicos e enfermeiros que fazem da sua profissão um autêntico acto de amor ao próximo e mesmo de coragem, trabalhando muitas vezes em condições miseráveis.
COÑO DEJENME TRABAJAR !!!………………..
Perdão pelo extenso .Um abraço a todos.

Jorge Miranda disse...

O comentário do Vitor, não é uma questão de pontualidade, mas sim uma questão de mentalidade.
Obrigado pelo serviço que presta.
Jorge Miranda

Luísa Garraio disse...

Victor,obrigada pela excelente pessoa que é e por todo interesse que tem pelos seus doentes... O seu valor não se mede por qualquer "aparelho" de pontualidade já que no seu caso... chega sempre cedo!
Na avaliação do desempenho profissional utilizam-se múltiplos indicadores e no seu caso,poderá estar tranquilo quanto ao resultado final a obter...
Essa frase " Deixem-me trabalhar" penso que ainda muitos profissionais, noutras àreas de actividade, a "sentem " diariamente...mas manifestam-na em silêncio...
Coragem, determinação e muito profissionalismo caracterizam-no...espero nunca o ver "deprimido" pois trabalhando desta forma com as condições que tem(?)durante este tempo...permite-me dizer que o seu estado de saúde é excelente e recomenda-se...