Do Jornal Fonte Nova, de 9/12/2008, Edição Nº 1609, Extraímos a seguite Notícia:
"Hermínio Felizardo - A angústia de um artista sem tempo"
Um marvanense que nasceu com um dom, mas que vive na angústia de não ter tempo para mostrar todo o seu potencial. É em Carreiras que encontramos Hermínio Felizardo, um marvanense formado em Artes Plásticas e Escultura, que nos abriu a porta da sua casa e do seu coração e confessou as frustrações e o desânimo de quem tem um sonho nas mãos, mas não o consegue realizar.
Natural de Santo António das Areias, Hermínio Felizardo nasceu a 24 de Agosto de 1963. Desde muito novo provou ter uma apetência especial para as artes visuais, o que o levou a completar o 12º ano, a ingressar no Centro de Arte e Comunicação Visual (ARCO) e, pouco tempo depois, no curso de Artes Plásticas/Escultura na Escola Superior de Belas Artes, no Porto onde, segundo nos disse, teve "uma grande oportunidade de limar algumas arestas, conhecer técnicas e ter um relacionamento muito mais incisivo com o meio. Depois do curso, e como neste País a importância dada ao mundo da arte é quase nula, tive de colocar o pão na mesa para a família e começar a dar aulas de Educação Visual, História de Arte, Teoria do Design", recorda.
No início da carreira docente, Hermínio Felizardo leccionou em Póvoa do Varzim, Santo Tirso, Matosinhos, Gondomar e, de regresso ao Alentejo (1992), nas escolas do Crato, Mouzinho da Silveira e na José Régio (até aos dias de hoje). Apesar de admitir que ser professor é uma profissão que exerceu sempre com imenso prazer, o marvanense afirma que, nos dias de hoje, a componente burocrática é extremamente intensa e responsável pelo surgimento de factores de grande ansiedade. Mas o pior é o tempo, uma vez que ao final de um dia de trabalho, incluindo a preparação de aulas, restam-lhe pouco minutos para dedicar à família e à sua grande paixão.
A verdade é que com afinco e determinação, Hermínio Felizardo lá vai aceitando alguns desafios e realizando pequenos sonhos. A sua casa é o espelho disso mesmo. Todo o design do edifício e da sua envolvência foram projectados pela sua imaginação e criatividade. Tanto no interior como no exterior, o artista deixa a sua marca, seja em grandes peças ou pequenos pormenores. Enquanto no jardim podemos encontrar uma piscina (também idealizada) e várias obras que realizou através da reutilização e descontextualização de objectos das mais variadas matérias-primas, o interior emana todo um percurso artístico, desde o curso de artes plásticas até aos dias de hoje.
"O artista vive para a arte e pela arte e eu não consigo"
De salientar o arquivo de cd´s numa balança antiga, os candeeiros feitos de filtros de automóveis e até de patuscas e o sofá, construído a partir de um banco traseiro de um carro antigo. Mas, além disso, há uma panóplia de quadros, pinturas, desenhos, tapeçarias e até esculturas. Como nos revelou, "penso que apenas sou conhecido pela Banda Desenhada que, nos dias de hoje, não me satisfaz completamente. Sou melhor a fazer outro tipo de trabalho e quis mostrá-lo porque a minha casa é uma pequena galeria. Não sou um artista consagrado, nem procuro estar na ribalta, mas sinto a necessidade constante de produzir arte", frisou, acrescentando que não se pode ser artista sem tempo
Os trabalhos que nos foi apresentando são, na sua opinião, fruto do tempo que "rouba" constantemente à família, um gesto que lhe cria momentos de grande ansiedade, angústia e frustração.
Em termos de trabalho, Hermínio Felizardo continua a dedicar-se a um leque bastante vasto de formas de expressão. A caricatura, a pintura, a banda desenhada, a tapeçaria, decoração de interiores e exteriores, a recuperação de móveis antigos, a reutilização e descontextualização de objectos e ainda a escultura são estilos facilmente identificáveis na casa do homem que fez o busto de Mouzinho da Silveira, em Portalegre.
No entanto, e apesar de ser reconhecido pela banda desenhada, Hermínio Felizardo garante que, neste momento, é nos cartoons e, principalmente, na caricatura que tem conquistado uma grande aceitação, até mesmo a nível internacional, com a publicação do novo Presidente dos Estado Unidos – Barack Obama – no myspace. Além disso, também este ano, participou, pela primeira vez, no Salão Luso-Galaico de Caricatura de Vila Real, onde se destacou com cartoons de José Carlos Malato, José Sócrates e Durão Barroso e José Rodrigues dos Santos. No passado, Hermínio Felizardo realizou ainda quatro cartazes para a Feira da Castanha de Marvão, escreveu duas bandas desenhadas e colaborou no nosso jornal com o "Moisés o Anti–Profeta".
Em termos monetários, o artista confessa que o seu trabalho não lhe tem dado muitos proveitos. "São poucos os que podem viver exclusivamente da arte. Já vendi muitos trabalhos, mas penso que na generalidade, já perdi mais dinheiro do que realmente ganhei. Sempre pensei que quando fizesse o busto de Mouzinho da Silveira tivesse mais projecção, mas não tenho recebido grande procura. Na verdade, também não tenho tempo para expor o meu trabalho. A minha casa é o meu salão de exposição, de peças que não vou vender", sublinha, revelando que já produziu um busto de José Régio para colocar na Escola, mas que ainda não recebeu a aceitação de ninguém.
Quando questionado sobre o que é que falta para ter mais projecção, o artista respondeu, sem hesitar, "o tempo". "Ou se escolhe a família, o trabalho, ou a arte. Vou continuar, mas não me posso dedicar a 100 por cento e vou todos os dias para a cama com projectos que nunca poderei realizar. Tenho muitas expectativas, projectos e sonhos, mas o tempo foge-me das mãos", frisou, dizendo por último que vai continuar a viver "na angústia de não poder realizar os sonhos e projectos que tenho".
Para divulgar o seu trabalho, Hermínio Felizardo utiliza o espaço http://felizardocartoon .blogspot.com/, um espaço onde podemos encontrar caricaturas de políticos portugueses, como José Sócrates e Manuela Ferreira Leite; futebolistas, como Cristiano Ronaldo e Figo; músicos como Mick Jagger e ainda políticos locais, com o vereador marvanense, Pedro Sobreiro.