quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Vedações "prisionais" erguidas no Parque Natural - O "mistério" permanece!

Edição do Jornal Fonte Nova de 13/12/2011

"O SOS São Mamede não baixa os braços enquanto não conseguir obter respostas concretas sobre eventuais projectos a implantar, em terrenos no concelho de Marvão, nas freguesias da Beirã, de Santo António das Areias e de Santa Maria, onde, há cerca de dois anos, foram colocados "muitos quilómetros de vedações de rede fina, suportadas por postes metálicos assentes, em alguns locais, em betão, que chegam a atingir 2,45 metros, totalmente aderentes aos solos, e encimadas por duas fiadas de arame farpado".

Na tarde de Sábado, o grupo promoveu uma sessão pública sob o lema "Estão a estragar a nossa terra", no Grupo Desportivo Arenense, em Santo António das Areias. Bastante participada, o objectivo foi, de acordo com Miguel Teotónio Pereira, um dos elementos do SOS São Mamede, "conhecermos melhor o que as pessoas pensam sobre o problema das vedações, dando-lhes a oportunidade de nos dizerem de que maneira esta situação afectou, ou não, as suas vidas".

Os presentes na sessão mostraram-se "alarmados", até porque, como frisou Luísa Assis, membro do grupo cívico, "as vedações são mais parecidas com uma prisão do que propriamente com vedações para aparcamento de gado".

Defendendo que "este assunto deveria preocupar-nos a todos", Luísa Assis revelou que, até à data, o motivo da colocação dessas estruturas em pleno Parque Natural permanece "um mistério" para os cerca de 150 membros que compõem o SOS São Mamede. "Disseram-nos que seriam para trilhos de BTT e para o grande desenvolvimento do concelho de Marvão", revelou, contrariando estas respostas ao declarar que "conheço trilhos para a prática de passeios de bicicleta em vários países do mundo e não me parecem campos prisionais". De realçar que uma pesquisa realizada pelo SOS São Mamede concluiu que os terrenos envolvidos na polémica começaram a ser adquiridos a pequenos proprietários da região há mais de cinco anos, através de três sociedades unipessoais com morada comum de Lisboa, e encabeçadas por um português – Jorge Didier.

Luísa Assis revelou ainda que os terrenos vendidos "não estavam em nenhuma imobiliária. Houve um intermediário da venda, Manuel Joaquim Gaio, presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria de Marvão. Avançando que "os terrenos continuam a ser vendidos", deixou um alerta aos presentes para que "tenham cuidado com as ofertas que possam surgir".

"Impactos terríveis"

Para o SOS São Mamede, a instalação de grandes vedações em grandes extensões na zona norte do Parque Natural constituem "um impacto terrível a nível paisagístico, turístico, económico e social", além de que poderão gerar "impactos negativos" na fauna local e na sua livre circulação, "obviamente condicionada com a implementação destas estruturas".

Para este grupo cívico existe um "secretismo" sobre o que se passa no local. "Se estas vedações são tão inofensivas, como nos querem mostrar, porque é que como cidadãos não podemos saber o que é isto, quem está por trás, nós merecemos saber", defendeu Luísa Assis, realçando que "as respostas continuam a não ser dadas".

Na sessão pública marcaram presença alguns dos trabalhadores das empresas detentoras dos terrenos vedados que apenas defenderam o seu posto de trabalho. E isto porque aos presentes não souberam, ou não quiseram, explicar o que ocorre nesses terrenos.

Recordando que, há uns anos, houve um estudo em Portugal sobre minérios raros chamados "terras raras" e que são usados em alta tecnologia, Luísa Assis revelou que no concelho de Marvão, na Freguesia de Santo António das Areias, "por coincidência onde todas estas propriedades têm sido compradas, estão assentes sobre um filão de minérios raros que vêm de Espanha e se prolongam até Nisa. Acreditamos que não é coincidência, mas também não temos respostas".

Perante todas estas incertezas, Luísa Assis afirmou que a luta dos membros do SOS São Mamede "é para sair do escuro e perceber o que se está a passar na nossa terra".


Textos: Catarina Lopes

Um comentário:

Helena Barreta disse...

O silêncio e a falta de respostas por parte dos donos dos terrenos vedados cria mais desconfianças e especulação. Por outro lado, quando o processo é transparente é sinal de que não há nada a esconder.

Não sou natural nem vivo aí, mas entristece-me ver a paisagem assim.