terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Fórum memória # 3

“O Fórum Marvão está a reeditar até ao final de 2011, alguns Posts e Comentários que aqui foram publicados pelos nossos Colaboradores. A escolha é completamente aleatória, abrangendo, por agora, apenas as publicações do ano de 2008.

Finalidade? Ler ou reler para aqueles que tenham paciência; fazer avaliação sobre alguns dos temas que ilustraram este espaço e, simultaneamente, observar o impacto da variável tempo nas visões e opiniões do passado. Umas vezes dando-lhe razão, outras nem por isso.”


Também a poesia aqui teve o seu lugar. E essa nunca passa de tempo! 3 exemplos:

Se falta saber, o sentimento...

Por Luís Bugalhão (20 Maio de 2008)

Por ti Marvão

Ah Marvão, terra agreste,
dos canchos e das tapadas,
dos caminhos, das levadas,
tanto de bem me fizeste!
Por entre folhagens perenes,
com montanhas e com flores,
até com imberbes amores,
doados pelos meus genes...

Ah, altaneiro Marvão!
No meu sangue tuas gentes.
Azinhos, sobros, pingentes,
domados p'lo gavião,
fazem de ti raiano,
(entr'olivais e vimeiros,
lidados por jornaleiros)
gelado, frio, magano!

Quanto de ti Marvão,
da Asseisseira ao Pereiro,
da aloja ao palheiro,
te resta sem ser no chão?
Que padrinhos, manageiros,
que novos velhos-patrões,
donos teus e dos ganhões,
colhem ora teus castanheiros?

Velho e alto Marvão...

Que é feito dessa raça,
dessa mulher, desse homem,
desses que da terra comem,
p'la tenrura da rabaça?
Que é feito dessa casta
qu'a linha tomou d'assalto,
levando ovos, café, tabaco,
e agora, velha, se arrasta?

D'aqui saiu o grão-mouro,
p'r'áqui chegou o cristão.
Mas então, porque razão,
não te agarras ao touro,
não esmagas o texugo,
não sufocas a toupeira,
não repousas da canseira,
não desprezas o verdugo?

... que é feito de ti Marvão,
que não sais d'onde eles'tão?


Hermínio Felizardo disse:

A ideia que fazemos da nossa terra, está bem patente no poema do Luís : as marcas de oralidade; as marcas da interioridade; aquilo que temos e o que nos falta ter.



Respirar Marvão
Por Maria Pimenta (25 DE MAIO DE 2008)

O olhar perde-se no horizonte...
A cada passo, na subida
sentimos o respirar da natureza,
o canto das aves invade-nos
mais e cada vez mais, mavioso
O burgo cativa-nos a entrar
e a voltar mais vezes,
sem sabermos bem porquê
O silêncio impera, e, permite-nos ouvir os sons do mesmo
E subimos ..., cada vez mais
Lá no cimo, bem no alto respiramos Marvão

Luís Bugalhão disse:

olá maria.que bem sabe respirar Marvão.

devia cá ter vindo mais cedo, mas a vida de militar e de operário socioprofissional dos sargentos de portugal, tem-me consumido a disponibilidade.

de qq modo, bem-vinda ao clube dos poetas e poetizas deste fórum. é uma maneira diferente de pegar na coisa (esta é uma das minhas muletas, qd não sei cm designar algo, chamo-lhe coisa e faço um figurão) e é capaz de ainda vir a dar copiosos frutos. por enquanto já deu, não na vertente interventiva que eu pus no meu 'por ti Marvão', mas na da beatitude pura que a nossa (sim, que tb já é tua) terra ressuma.

concordo com o Fernando e quero é (desejo, peço-te) que continues a dar o tal toque de diferença que aqui faz falta, para amenizar o debate social e político.

quanto às palavras que grafaste, não comento nem critico. souberam-me bem e levaram-me até aos “canchos” vistos por cima, pelos olhos do milhafre (que tb aí os há). e o silêncio... incrível cm nunca me apercebi da doçura desse silêncio...
e isso, sendo muito, basta-me.


Bons genes há-os em todos os quadrantes, mas são os maus que fazem a diferença!
Por Clarimundo Lança (30 DE MAIO DE 2008)

Quadrantes

Rosmaninho cheiroso tremendo
Ao vento impetuoso resistes
És dos rasteiros e vais sofrendo
Contra regras ancestrais insistes

Giestas, xaras, fetos, e daninhas
D’encontro em conflito a elas vais
Como se não bastasse as modinhas
Ainda te arrastam p’rós arraiais

Nas procissões, pisadelas levas
Com homem vaidoso, na orelha
Competes na cozinha com as ervas
E com a caçada fazes parelha

No MARVÃO puro e imponente
Suas lindas paisagens azulecem
Teu frondoso aroma está presente
Até naqueles que te esquecem

Quem cá de dia ou de noite
Abra, feche ou cerre os olhos
A murro, pontapé ou a açoite
(P’ra mim és e serás sempre)
Rosmaninho aos molhos


Diferenças

O Chibo c’os cornos ao sol
O Gato desperta avareza
Grita no arvoredo o Rouxinol
O Burro passeia sua nobreza

O Ouriço à espera está
Que o vento dê um abanão
Se não apostas no “cá cá”
Para onde caminhas MARVÃO

A Toupeira apesar de cega
Escondida pelo chão anda
Não dá mão a quem a pega
Mas é,
quem nas entranhas manda

Roubando o nobre semeador
De horta em horta vagueia
Anda mirrado o agricultor
Com quem lhe saca o que semeia

Trigo roxo, trigo estio
Milho regado e sachado
Anda o sol doentio
Com maleita e acamado

A Lua também torta marcha
P’rá direita e p’rá esquerda
A tiros de lápis e borracha
(P’ra ti fazes e farás sempre)
Porcaria, caca, trampa e merda

João Bugalhão disse:

Como as pessoas ficam diferentes, quando têm a possibilidade de se expressarem através de formas de comunicação diferentes!

Que bom seria que todos nós víssemos com o coração e, se pudéssemos, ver o coração dos outros….

Talvez esta devesse ser a forma de comunicação privilegiada...

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